Mais de
10.000 migrantes, muitos do Haiti, acampavam nesta sexta-feira (17) debaixo de
uma ponte na fronteira sul dos Estados Unidos, uma crise humanitária que põe em
apuros o governo de Joe Biden.
Estes
migrantes chegaram à pequena cidade de Del Río, Texas, cruzando o Río Grande,
entre o México e os Estados Unidos. Os 2.000 no início da semana se tornaram
10.500 na noite de quinta-feira, disse Bruno Lozano, prefeito desta cidade
fronteiriça com a mexicana Ciudad Acuña.
"São
principalmente do Haiti e entram ilegalmente (...) Só estão esperando serem
detidos pelos guardas fronteiriços" para iniciarem os trâmites de
autorização de estadia, explicou em um vídeo publicado no Twitter.
"Precisamos
de uma ação rápida do governo", pediu o prefeito democrata, destacando os
riscos para a saúde e a segurança que representa este acampamento improvisado.
Sobrecarregado,
o Escritório de Alfândega e Proteção das Fronteiras dos Estados Unidos (CBP em
inglês) afirmou em nota que aumentou sua equipe para enfrentar a situação de
forma "segura, humana e ordenada".
A área
sombreada debaixo da ponte serve como local de parada temporária "para
prevenir doenças relacionadas ao calor", explicou, afirmando que
distribuiu água potável, toalhas e banheiros portáteis.
Assim que são
atendidos, "a grande maioria dos adultos que chegam sozinhos e muitas
famílias vão continuar sendo expulsos sob o Título 42", uma norma de saúde
adotada no início da pandemia para frear a propagação do vírus, segundo a nota.
"Quem
não puder ser expulso sob o Título 42 e não tiver uma base legal para
permanecer será colocado em processo de deportação acelerado", afirmou o
CBP.
No entanto,
um juiz federal ordenou na quinta-feira ao governo de Biden que não expulse as
famílias neste contexto, o que poderia complicar a tarefa das autoridades, que
enfrentam há meses os fluxos migratórios recordes na fronteira com o México.
Mais de
208.000 migrantes foram detidos lá em agosto, segundo os últimos dados
oficiais. Isso eleva o número de migrantes detidos na fronteira desde que Biden
chegou à Casa Branca a mais de 1,3 milhão, um nível que não era visto em 20
anos.
Destes, cerca
de 596 mil vinham de El Salvador, Guatemala e Honduras, e mais de 464 mil do
México.
A oposição
republicana acusa há meses Biden de ter provocado uma "crise migratória"
ao flexibilizar as medidas de seu antecessor Donald Trump, que fez do combate à
imigração ilegal um dos pilares de seu governo.
A situação em
Del Rio, Texas, lhe deu novos argumentos. Após visitar a região, o senador
republicano Ted Cruz denunciou "um desastre" causado por Biden.
Segundo Cruz,
os migrantes acabam debaixo da ponte "porque o presidente Joe Biden tomou
a decisão política de cancelar os voos de deportação para o Haiti", após o
assassinato, em julho, do presidente haitiano Jovenel Moïse, que acentuou o
caos na ilha caribenha.
O número de
cidadãos do Haiti, país mais pobre das Américas, que chegam sem documentos aos
Estados Unidos, aumenta há vários meses.
Quase 6.800
haitianos foram detidos em agosto na fronteira sul ou apenas 4% do total de
migrantes detidos, porém mais do que em julho (5.000) ou maio (2.700).
Muitos
haitianos deixaram seu país depois do terremoto de 2010 (que matou mais de
200.000 pessoas) e se estabeleceram na América Latina, especialmente em Brasil
e Chile. Mas encontrar trabalho e renovar uma permissão de residência se tornou
complicado para milhares que decidiram ir para o norte.
"Quero
continuar minha viagem porque tenho uma irmã em Miami e outra na Holanda",
disse Domingue Paul, um haitiano de 40 anos que morou cinco anos no Chile, em
declarações à AFP em Tapachula, sul do México.
Sensíveis a
suas dificuldades, várias vozes democratas se ergueram para pedir ao governo
Biden que resolva rapidamente a situação em Del Rio.
"Estes
migrantes haitianos já sofreram muito durante a perigosa viagem à nossa
fronteira", tuitou a congressista Ilhan Omar, figura de destaque da ala à
esquerda do partido.
"A falta
de urgência para ir em sua ajuda é alarmante", denunciou a legisladora, que
chegou aos Estados Unidos em 1995 como refugiada somaliana.
* AFP
www.miguelimigrante.blogspot.com
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