Desde quinta-feira (9), mais de 900 migrantes forçados e
refugiados chegaram em barcos clandestinos na ilha de Lampedusa, o centro
habitado mais meridional do país e que fica mais perto do norte da África do
que da Península Itálica.
A ilha de cerca de 6 mil habitantes é uma das principais
portas de entrada para deslocados internacionais na Europa, mas seu centro de
acolhimento tem capacidade para menos de 100 pessoas. Por conta disso, o
governador conservador da Sicília, Nello Musumeci, cobrou do primeiro-ministro
Giuseppe Conte a declaração de estado de emergência em Lampedusa.
Já em Amantea, na Calábria, italianos protestaram neste
domingo (12) contra a chegada de 28 migrantes forçados positivos para a
Covid-19. Os deslocados internacionais estão assintomáticos e foram colocados
em isolamento pelas autoridades sanitárias.
A governadora da região, Jole Santelli, do partido
conservador Força Itália (FI), pediu o deslocamento de unidades navais para a
quarentena de migrantes e refugiados. Santelli ainda disse que, se o governo
não der uma resposta rápida, ela proibirá desembarques na Calábria.
Atualmente, a Itália conta com uma balsa para quarentena,
mas ela fica atracada em Porto Empedocle, na Sicília. "O Estado e o
governo devem estar presentes e enfrentar uma situação que pode se tornar ainda
mais explosiva", acrescentou.
Segundo Santelli, o governo italiano se contradiz ao proibir
viajantes provenientes de 13 países, inclusive do Brasil, e "permanecer
inerte em relação aos barcos que chegam da África".
O senador de extrema direita Matteo Salvini, ministro do
Interior entre junho de 2018 e setembro de 2019, também voltou a dar prioridade
à questão migratória, com posts diários em suas redes sociais sobre os
desembarques no sul da Itália.
"Há dezenas de novos casos de imigrantes positivos ao
vírus, Lampedusa está em colapso, não há nenhum traço das realocações, o famoso
acordo de Malta desapareceu e as repatriações para a Tunísia estão bloqueadas
com a desculpa da Covid. Esse governo coloca a Itália em risco", escreveu
o líder da oposição no Facebook.
Sua sucessora no Ministério do Interior, Luciana Lamorgese,
presidirá nesta segunda-feira (13) uma videoconferência com seus homólogos de
Alemanha, Espanha, França, Malta e de cinco países africanos (Argélia, Líbia,
Marrocos, Mauritânia e Líbia) para discutir a situação no Mediterrâneo.
A Itália fechou no ano passado um acordo com Alemanha,
França e Malta para redistribuir deslocados internacionais que cruzam o
Mediterrâneo, mas ainda não conseguiu emplacar a iniciativa em âmbito europeu,
principalmente devido à resistência dos países do leste, como Hungria e
Polônia.
Travessias
O número de migrantes forçados que cruzam o Mediterrâneo
rumo à Itália vinha caindo desde 2017, quando o governo de Paolo Gentiloni, de
centro-esquerda, assinou um acordo para treinar e equipar a Guarda Costeira da
Líbia para conter os fluxos na região.
Em 2016, o país europeu acolheu 181,4 mil deslocados
internacionais via Mediterrâneo, cifra que baixou para 119,4 mil no ano
seguinte e 23,4 mil em 2018, quando Salvini assumiu o Ministério do Interior e
endureceu as políticas migratórias.
Em 2019, cerca de 11,5 mil migrantes concluíram a travessia,
de acordo com dados do Ministério do Interior. No entanto, as estatísticas
oficiais mostram que a cifra voltou a subir neste ano: a Itália contabiliza a
chegada de 8.087 deslocados internacionais em 2020, um aumento de 155,5% na
comparação com o mesmo período do ano passado.
Terra
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