sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

Refugiada afegã quebra barreiras para realizar sonho de ser médica

O monitor cardíaco produz uma batida lenta e constante, enquanto um grupo de médicos se reúne em torno de uma mesa de operação. A luz ilumina o estômago de uma mulher.
Com um aceno de cabeça, a Dra. Saleema Rehman sinaliza que está pronta.
Refugiada afegã no Paquistão, a jovem de 28 anos enfrentou uma vida inteira de barreiras em sua busca por educação. Leia o relato da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR).
Saleema trata mães e bebês no Holy Family Hospital, Paquistão. Foto: ACNUR/Roger Arnold
Saleema trata mães e bebês no Holy Family Hospital, Paquistão. Foto: ACNUR/Roger Arnold
O monitor cardíaco produz uma batida lenta e constante, enquanto um grupo de médicos se reúne em torno de uma mesa de operação. A luz ilumina o estômago de uma mulher.
Com um aceno de cabeça, a Dra. Saleema Rehman sinaliza que está pronta.
Refugiada afegã no Paquistão, a jovem de 28 anos enfrentou uma vida inteira de barreiras em sua busca por educação.
Agora, após quase três décadas de estudo, Saleema superou as adversidades para se tornar a primeira médica refugiada turquemena no Paquistão. Dentro de algumas horas, ela removerá um cisto ovariano e transformará a vida de sua paciente.
“Tenho o dever de ajudar as mulheres”, diz calorosamente. “Me sinto muito sortuda. Na minha comunidade, muitas meninas não têm essa oportunidade. Eu acho que estava escrito no meu destino.”
Esse senso de dever a levou a se especializar em ginecologia. Todos os dias, ela traz ao mundo cerca de cinco bebês no Holy Family Hospital de Rawalpindi e cuida de 40 mulheres em cada ala, muitas das quais vivem na pobreza. O tratamento é gratuito. No entanto, cada cama comporta dois pacientes e ela trabalha longos turnos para atender a todos.
“Às vezes jantamos às duas da manhã”, diz, da sala de funcionários do hospital. Sua prioridade são as pessoas, e ela oferece água a um colega exausto e o envolve com um cobertor em volta dos ombros. “Temos que deixar de lado nossa fome.”
Saleema lutou muito ao longo da vida para chegar até aqui.
A jovem cresceu na comunidade de refugiados turquemenos no noroeste do Paquistão, onde as expectativas culturais e a insegurança fizeram com que enfrentasse uma batalha interminável em busca de educação. Como refugiada, essa batalha era dupla – mas ela não estava sozinha.
Seu pai, que fugiu do Afeganistão aos 13 anos, estava ao seu lado a cada passo. Ele ajudou a abrir escolas locais e defendeu a educação de meninas. De dia, ele vendia bananas para manter vivo o sonho de sua filha. À noite, desenhava tapetes.
Eventualmente, após anos, uma bolsa de estudos oferecida pelo Paquistão abriu as portas para a carreira médica de Saleema.
“Saleema se candidatou por três anos consecutivos a bolsas médicas”, diz seu pai Abdul, de 49 anos. “Ela estava sempre lutando para realizar seu sonho. Enfrentamos muitos desafios de nossos ancestrais, que disseram que não deveríamos mandar crianças para a escola, mas finalmente vencemos. Temos o fruto pelo qual lutamos muito.”
Três anos após sua colocação no Hospital Holy Family, Saleema está florescendo. Sua supervisora, Humaira Bilqis, ajudou a cultivar seu talento.
“Ela é muito especial”, afirma a médica ginecologista. “Ela lutou muito durante a vida. Qualquer que seja o desafio que damos a ela, ela nunca diz não – dia ou noite – ela não hesita. Ela nunca me decepcionou. Tenho muito orgulho dela.”
“Eu não sabia que ela era uma refugiada”, acrescenta, transbordando de orgulho. “Eu não a vejo como tal. Nunca pensamos nela como não paquistanesa. Ela é uma de nós. Ela é um trunfo para o país. Depois de saber, tenho ainda mais orgulho dela.”
No ano que vem, Saleema finalmente terminará sua especialização em ginecologia. Mas, como refugiada, seu futuro como médica no Paquistão é incerto.
“O treinamento é permitido, os estudos são permitidos”, diz. “Mas o que fazer depois? Se o governo do Paquistão permitir a prática de refugiados afegãos aqui, podemos ser muito úteis à nossa comunidade e também posso trabalhar para os paquistaneses. ”
Se Saleema for bem-sucedida, ela espera inspirar outras meninas refugiadas.
“Sempre que vou para casa, as mulheres vêm até mim e dizem que se sentem muito orgulhosas. Estou muito feliz com a ideia de que talvez suas ideias mudem e elas mandem as filhas para a escola. Eu quero que as meninas estudem. Isso fará a diferença para as próximas gerações. ”
“Até minha própria sobrinha quer ser médica”, acrescenta, rindo. “Ela sempre pega meu estetoscópio. Ela me chama de doutora tia.”
Os esforços para aproximar refugiados e comunidades anfitriãs fazem parte de uma abordagem mais ampla para lidar com o deslocamento e melhorar a inclusão socioeconômica e a autonomia dos refugiados.
Enquanto isso, Saleema continuará a servir sua comunidade e algumas das pessoas mais pobres do Paquistão. Finalmente, a promessa de seu pai foi cumprida.
“Não esperávamos que ela sobrevivesse ao nascimento”, diz Abdul. “O bebê estava de cabeça para baixo. Prometi que, menino ou menina, faria dele um médico quando crescesse. Nós a chamamos de doutora Saleema desde que ela tinha três anos.”
“Se há algum problema na minha comunidade, me chamam porque eu tenho uma filha que é médica. É um grande sentimento de orgulho para nós. Saleema é um exemplo para o Paquistão, para a nossa comunidade e para o Afeganistão. Ela é um exemplo para as pessoas.”
Onu
www.miguelimigrante.blogspot.com

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