sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

Curso no restaurante do Ministério da Justiça oferece oportunidade para imigrantes

Iniciativa da Secretaria Nacional de Justiça visa preparar profissionalmente aqueles que buscam novas oportunidades no Brasil
A turma de alunos do curso oferecido pelo Senac DF/Foto: Isaac Amorim
Brasília, 08/02/2019 - “Aprendi que, para ser um bom garçom, é preciso conhecer todos os postos de trabalho de um restaurante e todos os processos que estão envolvidos até que a comida seja servida para o cliente”. Esta frase é de Yenni Torres Caña, refugiada da Venezuela, aluna do curso de garçom oferecido no restaurante do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP).
Yenni entende de processos. Como engenheira industrial, ela foi, por 10 anos, engenheira de projetos em uma fábrica de alumínio primário. Liderava uma equipe de profissionais, era encarregada de melhorar processos produtivos, adequar equipes e equipamentos na busca pela qualidade na produção. No entanto, em 2017 decidiu, após três anos de tentativas de se manter em seu país, deixar a Venezuela e tentar a vida no Brasil.
Após passar oito meses em Boa Vista, Yenni, o marido e seus dois filhos decidiram, em 2018, apostar em uma nova oportunidade: a vinda para Brasília. A transferência aconteceu dentro do Programa de Interiorização dos Venezuelanos, um dos três pilares da Operação Acolhida dos imigrantes venezuelanos que é coordenada pelo governo federal e conta com a participação de organismos internacionais, governos locais e ações de diversos ministérios. Já em Brasília, a segunda oportunidade aconteceu com a oferta do curso de garçom gratuito.
Venezuelana Yenni Torres Caña durante o curso/Foto: Isaac Amorim
Gratuidade e Oportunidade
A iniciativa de oferecer o curso para refugiados partiu da Secretaria Nacional de Justiça que procurou o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial - Senac DF com a demanda. A motivação principal da SNJ foi, efetivamente, incentivar a participação do MJSP de forma mais ativa no apoio dado aos imigrantes, especialmente àqueles que se encontram no programa de interiorização.
A secretária nacional de Justiça, Maria Hilda Marsiaj, destacou a importância da iniciativa no trabalho mais direto de acolhimento feito com os imigrantes. “Iniciativas como essa são importantes para nos lembrar de que, por trás de cada processo analisado pelo Conare, existe uma vida e uma história, com muitos sonhos e expectativas de recomeço”, ressalta. “Esperamos que o curso possa ser um primeiro passo nesse processo de construção de uma nova vida no nosso país”.
Yenni participa do curso de garçom oferecido pelo Senac DF junto a outros sete refugiados. O curso faz parte do programa de capacitação Senac Gratuidade, oferecido para o público de baixa renda, com carga horária de 240 horas. Ao todo, a turma tem 13 alunos. Cinco são da Venezuela, dois de Camarões, um de Gana e cinco alunos são do Brasil.
Para o camaronense Pergui Armel Yopa Ngwese, de 23 anos, o curso de garçom é mais uma oportunidade de capacitação na busca por um emprego fixo. “Ainda está difícil”, atesta. “O curso é uma oportunidade para uma carreira porque sem carreira você não tem objetivo, não tem nada”.
Pergui vive no Brasil com a mãe e outros cinco irmãos. Ele entende a importância em aproveitar todas as oportunidades que surgem e uma delas foi ingressar no curso de administração da Universidade de Brasília, benefício possível graças à  Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), que implementa a Cátedra Sérgio Vieira de Mello em cooperação da com universidades nacionais e com o Comitê Nacional para Refugiados (Conare) e garante, aos refugiados, acesso à educação. Pergui está no terceiro semestre do curso e oferece, ainda, aulas particulares de francês e inglês para ajudar no sustento da família.
O camaronense Pergui Armel Yopa Ngwese/Foto: Isaac Amorim
Mercado de Trabalho
O grupo iniciou as aulas no dia 14 de janeiro e a formatura está prevista para o dia 7 de março. As aulas acontecem sempre no restaurante-escola do Senac que fica no anexo do MJSP. O Senac tem outros 3 restaurantes-escola em Brasília que funcionam no Supremo Tribunal Federal (STF), Controladoria Geral da União (CGU) e Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT).
Os formandos dos cursos de capacitação, infelizmente, não têm como ser absorvidos pelo Senac como funcionários já que as contratações da instituição são feitas via processo seletivo público. No entanto, o Senac mantém um Núcleo de Relacionamento Empresarial, sistema de cadastro por meio do qual faz a ponte entre o setor empresarial e os alunos que têm interesse em ingressar no mercado de trabalho.
Segundo a coordenadora de apoio educacional do Senac DF, Roberta Fonseca, esse curso teve adaptações para atender as necessidades específicas dos imigrantes uma vez que há limitações com o idioma, por exemplo, além de diferenças culturais e na dinâmica das aulas.
Roberta lembra, ainda, que o curso visa muito mais do que mera capacitação, mas sim ajudar a mudar a história de vida de cada participante. “Essa experiência tem sido muito enriquecedora para todos nós do Senac”, afirma. “Os imigrantes têm histórias de vida muito profundas, algumas bastante tristes, e nós queremos contribuir para dar um final feliz para essas histórias”.
Ministério da Justiça
www.miguelimigrante.blogspot.com

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