quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Refugiados sofrem com falta de financiamento para emergências no mundo todo

A alocação de recursos para refugiados e apátridas em todo o mundo está se tornando cada vez mais escassa. Com pouco mais da metade das necessidades de financiamento atendidas, as dificuldades e os riscos enfrentados por muitos refugiados, pessoas deslocadas e comunidades de acolhida têm se agravado. Esta é a realidade apontada por novo relatório divulgado nesta terça-feira (9) pelo serviço de relações com doadores e mobilização de recursos da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR).
Crianças assistem a aula na Primary Mohammed School do Zongo, na República Democrática do Congo, em novembro de 2015. Metade dos estudantes são refugiados da República Centro Africana. Foto: ACNUR/ Colin Delfosse
Crianças assistem a aula na Primary Mohammed School do Zongo, na República Democrática do Congo, em novembro de 2015. Metade dos estudantes são refugiados da República Centro Africana. Foto: ACNUR/ Colin Delfosse
A alocação de recursos para refugiados e apátridas em todo o mundo está se tornando cada vez mais escassa. Com pouco mais da metade das necessidades de financiamento atendidas, as dificuldades e os riscos enfrentados por muitos refugiados, pessoas deslocadas e comunidades de acolhida têm se agravado. Esta é a realidade apontada por novo relatório divulgado nesta terça-feira (9) pelo serviço de relações com doadores e mobilização de recursos da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR).
Com o número de deslocados forçados no mundo atingindo 68,5 milhões no início do ano, dificilmente se viu situação tão crítica de financiamento dos governos às situações enfrentadas por refugiados e outros deslocados. Com base nas contribuições feitas até o momento, estimamos que o financiamento para 2018 atinja apenas 55% dos 8,2 bilhões de dólares necessários. Isso comparado aos 56,6% que foram atingidos em 2017 e aos 58% em 2016. Em suma, o financiamento dos doadores vem caindo cada vez mais enquanto o número de deslocamento forçado cresce no mundo todo.
As consequências deste cenário estão se tornando demasiadamente difíceis para os refugiados e deslocados internos. Em diversas emergências há o aumento da desnutrição, a superlotação de instalações de saúde, moradias e abrigos em ruínas, crianças em salas de aula superlotadas ou mesmo sem escola, e crescentes riscos de proteção devido à falta de profissionais capacitados para lidar com crianças desacompanhadas ou com vítimas de violência sexual.
Seis emergências globais estão sendo particularmente afetadas por este diagnóstico: no Burundi, na República Democrática do Congo, no Afeganistão, no Sudão do Sul, na Síria e na Somália.

A situação no Burundi

A situação dos refugiados no Burundi é, atualmente, a menos financiada no mundo todo. Até o momento, apenas 28% dos 206 milhões de dólares necessários foram recebidos. O impacto nos 400 mil refugiados que se encontram nos países vizinhos é grave.
O corte na distribuição de alimentos tem deixado os refugiados sem recursos suficientes para alimentar suas famílias. Os abrigos estão em condições desesperadoras, os centros de saúde enfrentam dificuldades para suportar o grande número de pacientes, as salas de aula estão superlotadas e a capacidade de ajudar crianças desacompanhadas e vítimas de violência sexual está muito limitada.
Na Tanzânia, 52% dos 232.716 mil refugiados burundianos ainda vivem em abrigos de emergência, projetados para serem utilizados a curto prazo. Na ausência de prédios escolares, quase 18 mil crianças refugiadas estão tendo aulas ao lar livre, embaixo de árvores.
Nos assentamentos de Nakivale, em Uganda, milhares de famílias refugiadas estão usando latrinas comunitárias superlotadas, sob o risco de surtos de doenças, com pouca privacidade e com altos riscos de exposição, sobretudo de crianças e mulheres. A educação é precária, com materiais escolares insuficientes e salas de aula superlotadas.
Por causa da falta de financiamento, o programa de assistência financeira do ACNUR foi interrompido no campo de Mahama, em Ruanda, afetando severamente a capacidade de 19,5 mil famílias em satisfazer suas próprias necessidades básicas.

A situação na República Democrática do Congo

Na República Democrática do Congo, atualmente afetada por conflitos, bem como nos países que acolhem refugiados congoleses, apenas 31% de 369 milhões de dólares foram arrecadados, valor imprescindível para custear os programas do ACNUR e dos seus parceiros.
A insuficiência de recursos está afetando a capacidade do trabalho humanitário em fornecer atividades de subsistência, especialmente aos jovens, e acesso à educação e saúde. Nos países que abrigam cerca de 800 mil refugiados, ainda que os assentamentos e os acampamentos já tenham superado sua capacidade limite, novos refugiados continuam sendo acomodados.
Padrões mínimos de distribuição de alimentos, nutrição, saúde e outras necessidades básicas são, frequentemente, difíceis de cumprir.
Na República Democrática do Congo, o financiamento é urgente para descongestionar os acampamentos e os locais, a fim de conter a propagação de doenças transmissíveis.

A situação no Afeganistão

À medida que o conflito no Afeganistão se aproxima da quarta década, cerca de 2,4 milhões de afegãos vivem como refugiados nos países vizinhos, sobretudo no Paquistão e no Irã, e 1,9 milhão estão deslocados internamente no país. O orçamento necessário para as três operações do ACNUR é de 304 milhões de dólares, dos quais apenas 32% foram arrecadados.
No Afeganistão, a falta de financiamento está afetando os projetos do ACNUR em 60 localidades. Estes projetos incluem assistência a cerca de 132,7 mil famílias afegãs na reabilitação de suas casas com iniciativas de geradoras de emprego, além de fornecer sistemas de iluminação doméstica por meio de painéis solares, apoiar microempresas e prover espaços amistosos para jovens e mulheres.
No Paquistão, que abriga 1,4 milhão de refugiados afegãos, a falta de recursos está afetando a educação primária gratuita de 57 mil crianças refugiadas, bem como o serviço básico de saúde em 54 povoados de refugiados. A falta de acesso aos serviços sociais, como saúde e educação, e a redução das oportunidades de treinamento em meios de subsistência podem forçar os refugiados a seguir adiante.
No Irã, a carência de fundos significa que menos refugiados são beneficiados por um plano de saúde nacional, com o qual os refugiados mais vulneráveis não têm condições de arcar. A redução do apoio ao sistema de saúde primário também reduz a disponibilidade de serviços em locais remotos. Menos investimentos no sistema de educação limita o número de crianças afegãs a serem matriculadas nas escolas.

A situação no Sudão do Sul

O conflito em curso na nação mais jovem do mundo já forçou 2,5 milhões de pessoas a solicitarem refúgio, ao mesmo tempo que outras 2 milhões se encontram deslocadas no interior do país. Dos 783 milhões de dólares necessários, apenas 33% foram recebidos.
Os kits de alimentação só estão disponíveis no Quênia, em Uganda e para três quartos dos refugiados da República Centro-Africana. Apenas 7% dos refugiados do Sudão do Sul vivem em abrigos semipermanentes.
No Sudão, em torno de 80 mil pessoas ainda não têm acesso a latrinas em dez campos de refugiados. Em alguns casos, mais de 70 pessoas precisam usar uma latrina comum. Cerca de 57 mil refugiados que vivem em assentamentos informais em Cartum estão sem nenhum tipo de assistência.
Em Uganda, a carência de recursos significa não ter profissionais suficientes para garantir a qualidade dos serviços de proteção e de acompanhamento dos cuidados à criança. Existe uma assistente social para cada 150 crianças, ainda que as crianças representem cerca de 64% da população refugiada. O fornecimento de água aos refugiados também permanece abaixo do necessário.

A situação na Síria

Cerca de 5,6 milhões de refugiados sírios na região e outros 6,2 milhões deslocados dentro do país são diretamente afetados pelo déficit de recursos. Apenas 35% do pedido de 1,968 bilhão de dólares pelo ACNUR foram atendidos.
O ACNUR está trabalhando com parceiros para prover proteção durante o inverno e ajudar os 1,3 milhão de sírios refugiados na região, além dos 1,35 milhão de deslocados internos e retornados. A assistência em dinheiro no inverno é especialmente importante no Líbano e na Jordânia, sendo um meio eficiente e crítico de prestar apoio aos refugiados durante o período de temperaturas baixas.
Sem mais fundos, a assistência em dinheiro será interrompida em novembro. Isso pode ter um impacto devastador sobre as famílias de refugiados na Jordânia e no Líbano, onde a maioria vive abaixo da linha da pobreza. O financiamento é extremamente necessário para cerca de 500 mil refugiados, para que possam pagar o aluguel, sustentar as necessidades básicas diárias e acessar serviços essenciais.
O aumento dos gastos com a saúde está ampliando o risco das famílias de refugiados não conseguirem acessar os serviços médicos de que necessitam, como vacinas. São necessários recursos para fornecer assistência médica a cerca de 35 mil refugiados sírios vulneráveis na região, particularmente na Jordânia e no Líbano.

A situação na Somália

Mais de 1 milhão de refugiados somalis estão abrigados em seis países e outros 2 milhões estão deslocados dentro do país. Dos 522 milhões de dólares solicitados pelo ACNUR para gerir a situação na Somália, somente 37% do valor foi captado.
Após décadas de conflito, os somalis fizeram alguns progressos, mas a situação continua frágil e necessita de apoio contínuo. A falta de assistência aos refugiados e às comunidades de acolhimento coloca em risco a deterioração das condições humanitárias, e pode incitar retornos à Somália antes que o governo do país esteja pronto para recebê-los e absorvê-los novamente.
Acnur
www.miguelimigrante.blogspot.com

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