quinta-feira, 11 de março de 2021

Balanço humanitário 2020: Covid-19 é fardo adicional aos mais vulneráveis no Brasil e Cone Sul, avalia CICV

 Para Delegação Regional do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, pandemia representa desafio adicional a populações impactadas pela violência e desaparecimento, migrantes e privados de liberdade; organização presta contas de suas atividades no Brasil e países do Cone Sul em relatório

A pandemia de Covid-19 representa fardo extra para as populações mais vulneráveis, como comunidades impactadas pela violência armada, migrantes, famílias de desaparecidos e privados de liberdade. Esse desafio é identificado pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha no Brasil e países do Cone Sul em seu Balanço Humanitário 2020, lançado às vésperas do aniversário de um ano da declaração da pandemia.

"Vemos como desafio importante a resposta à pandemia em populações e comunidades impactadas pela violência armada no Brasil", afirma a chefe da Delegação do CICV, Simone Casabianca-Aeschlimann. "As condições sociais e econômicas já dificultam o cumprimento rigoroso de medidas de prevenção e as dinâmicas da violência agravam a situação. Um exemplo são as barreiras invisíveis que impedem o acesso aos serviços essenciais", acrescenta.

Mesmo em um ano em que dez meses a população viveu baixo a pandemia, dados do Monitor da Violência (parceria entre o G1, Fórum Brasileiro de Segurança Pública e Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo) mostram que a violência não deu trégua no Brasil. O país registrou alta de 5% nos assassinatos em 2020 na comparação com 2019, após dois anos consecutivos de queda. De acordo com a plataforma Fogo Cruzado, foram registrados 1.556 tiroteios no entorno de unidades de saúde na região metropolitana do Rio em 2020. O ataque a profissionais de serviços públicos afeta a comunidade como um todo, ao deixar a população menos assistida.

Para 2021, o CICV identificou como prioridades operacionais no Brasil o trabalho de mitigação da violência sobre os serviços públicos essenciais, ainda mais pressionados em um contexto de pandemia. O trabalho da organização também seguirá priorizando a população migrante por meio de ação direta e coordenada com outros atores em Roraima; as famílias de pessoas desaparecidas, com apoio direto e assessoria técnica a autoridades; e ainda com pessoas privadas de liberdade, especialmente vulneráveis a doenças infecciosas nos centros de detenção.

"Adaptamos nossas respostas e estamos atuando junto aos parceiros tanto no âmbito federal como estadual e municipal nas cidades onde temos operações, como Boa Vista (RR), Fortaleza (CE) e Rio de Janeiro nesses temas humanitários tão relevantes", explica Casabianca-Aeschlimann.

Apesar dos desafios, a chefe da Delegação do CICV vê com otimismo as possibilidades de resposta, sobretudo com coordenação e colaboração. "Temos certeza de que a solidariedade e a empatia são fundamentais para superar as adversidades. É por isso que contamos com nossos parceiros, apoiadores e aliados para realizar nosso trabalho e também com a confiança depositada pelas famílias de pessoas desaparecidas, migrantes, profissionais de serviços essenciais e outras populações e comunidades com as quais trabalhamos", conclui.

Prestação de contas

No Balanço Humanitário 2020, o CICV, além de indicar os desafios deste ano, apresenta um panorama do trabalho desenvolvido na região que compreende Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai ao longo do ano passado. Por meio de ação direta ou parcerias, foram beneficiados equipes dos serviços essenciais e a comunidade atendida em seis cidades brasileiras por meio do Acesso Mais Seguro (AMS), que busca prevenir e mitigar os impactos da violência sobre os serviços essenciais. O CICV também trabalhou diretamente com migrantes e comunidade receptora em Roraima, por meio de doações, oferta de água encanada e serviço de restabelecimento de contato entre familiares distanciados, com respostas para a população carcerária e com familiares de pessoas desaparecidas e autoridades para respostas a esta problemática.

"É um trabalho muito humano o que o CICV faz com a gente. Eu digo que depois que o CICV entrou para conduzir esse trabalho com os desaparecidos, as famílias tiveram mais voz e eles ajudaram a mostrar que atrás daquelas fotos dos nossos filhos tem uma mãe, um pai, um irmão, uma família que sofre tantas dificuldades", conta Débora Alves, mãe de Kaio Alves, que está desaparecido.
Em um ano de pandemia, a delegação fez uma série de doação de equipamentos de proteção individual, produtos de limpeza e higiene pessoal, maquinário e insumos, além de ações de transferência de renda diretamente a deslocados internos e familiares de desaparecidos.

icrc.org/

www.miguelimigrante.blogspot.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário