terça-feira, 24 de janeiro de 2017

NÚMERO DE ESTUDANTES ESTRANGEIROS VEM CRESCENDO NO BRASIL


O Brasil é o país mais miscigenado do mundo e a adaptação de brasileiros em outros países muitas vezes se torna mais fácil por essa proximidade com outras nacionalidades, atraindo cada vez mais jovens que buscam aperfeiçoar os seus conhecimentos no exterior. O mesmo crescimento que há alguns anos vem levando estudantes para fora do país, acontece no sentido inverso, “importando” alunos para as escolas e universidades brasileiras.
O Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeiro), do Ministério da Educação, acompanha a cada ano o aumento na matrícula de estrangeiros em unidades de ensino. No último censo da educação básica, realizado em 2015, 70.200 alunos de outras nacionalidades se matricularam em escolas em todo o território nacional.
O número é ainda maior quando se abrange os 15.124 alunos ingressados em algum curso superior no Brasil, segundo o censo de 2014. O alto número de estrangeiros na educação nacional mostra uma realidade de aceitação dos brasileiros com pessoas e famílias vindas de outros países.
O angolano José Caleia, de 36 anos, que chegou a São José dos Campos em 2006, agora vive no país com a mulher, vinda da Angola, e a filha de sete meses. “Eu vim para o Brasil por um sonho, de ajudar o meu país estudando e buscando soluções para a desorganização que me incomodava após o fim da guerra. Quando passei por São José, meus amigos me incentivaram a prestar o vestibular que estava aberto e fiz. Para a minha surpresa, passei em 3º lugar, mas voltei para Angola frustrado por não poder ficar”, conta Caleia.
Aos 26 anos, Caleia buscou de todas as maneiras em seu país conseguir alguma forma para estudar na cidade que o encantou. Buscou auxílio do Governo da Angola e foi até o Consul do Brasil, mas foramos missionários da Primeira Igreja Batista os incentivadores de um futuro do angolano no Brasil. “Um dos grandes motivos que me fez querer ficar em São José foi pelas pessoas que encontrei na cidade, conheci o meu pai brasileiro e seus familiares que me acolheram”, lembra.
Depois de dez anos no Vale, o angolano já pode conhecer muitas das cidades da RMValee considerar a região uma das mais belas e completas do país. “Poucas cidades me tiraram de São José dos Campos. O Vale do Paraíba é uma região rica sua diversidade entre todas as cidades, seja histórica, tecnológica ou turística, e privilegiada por sua localização, tranquilidade e potencialidade de desenvolvimento”, completa Caleia ao citar o campus da Univap, o parque Vicentina Aranha e o CTA como locais com temáticas diferentes, mas que são de grande importância para ele e para São José.
Atualmente elecursa o mestrado, pesquisandoa estrutura urbanística e arquitetônica do seu país. De acordo com Caleia, ele nunca teria em seu país a oportunidade aberta no Brasil. “A ciência ainda não faz parte da constituição de Angola. As restrições e burocracias são muito rígidas. Aqui vocês possuem um apoio do governo ao estudo muito maior e tem uma liberdade de pesquisa e produção científica. A força das universidades lá é bem menor. Não tem comparação”, explica.
O angolano, ao contar o crescimento educacional que teve no Brasil, também explicou as limitações e diferenças que teve que enfrentar ao chegar e que ainda existem. “A maior dificuldade foi que me deparei com um estudo facilitador e mais objetivo. Nas aulas, quando cheguei, eu queria aprofundar sobre certo tema, mas os alunos só queriam o básico. Eu sempre me perguntava. ‘Porque eles não querem estudar? Porque não gostam muito de pensar?”, explica Caleia.
A universitária de publicidade e propaganda, Amalie Beindizen, de 23 anos, vinda da Dinamarca, se encantou por essa diferença do perfil dos alunos dentro da sala de aula quando chegou, durante o ensino médio,em Lorena, no ano de 2009. Mas quando a jovem retornou em 2016, para cumprir um semestre da graduação na Unitau (Universidade de Taubaté), a diferença em aspectos dentro da sala de aula surpreendeua jovem.
“Quando eu estava em Lorena, durante o colégio, não tinha a obrigação de estudar, pois o estudo não seria considerado pelo governo da Dinamarca, então não prestei muita atenção. Mas na minha volta, a primeira coisa que me assustou foi que todo mundo escreve na mão. Eu nem sabia mais como escrever no caderno, por que no meu país tudo é online”, explica à dinamarquesa.
A jovem chegou ao Brasil pela primeira vez com 16 anos, em decorrência de uma busca virtual sobre os países que não utilizassem o inglês como língua mãe e, ao acompanhar o blog de um intercambista, se encantou pelo país tropical. “Não fui eu que escolhi Lorena, mas a empresa pela qual eu vim. Ao retornar ao período de faculdade, decidi vir para Taubaté não pela região em si, mas pelas pessoas que moram aqui. O pessoal do Vale, de Taubaté e Lorena são as mais legais entre aquelas de todos os lugares que já passei no Brasil, por isso sempre volto aqui”, afirma a estudante de comunicação, mesmo explicando que na próxima vez que vier ao país, quer experimentar morar no Rio de Janeiro.
Amalie, por ter passado pelo país outras vezes, compreende muito bem a língua portuguesa, mas ainda encontradificuldades de compreensão com algumas palavras e expressões. “A minha primeira prova foi de língua portuguesa e foi muito complicado. Era uma resenha, com perguntas, mas não consegui entender o texto. Não tinha visto nada igual nas aulas e até um colega falou que estava preocupado comigo, porque até para ele estava difícil”, relata.
Para a estudante de jornalismo, Daniela Smith, de 21 anos, que saiu da Bolívia para morar no Brasil com apenas seis anos, mas começou o curso superior na Argentina, voltando para São José em 2015,a adaptação ocorreu junto com a suas lembranças da formação básica. “A minha experiência desde criança no Brasil me ajudou muito quando voltei para encerrar a faculdade. Os professores me auxiliaram muito, com total atenção e preocupação para que eu entendesse os conteúdos das aulas. E essa abertura entre aluno e professor, que não existe em outros países, facilitou muito”, diz a futura jornalista.
O aspecto positivo de proximidade que os estudantes têm com os professores também manifestou uma preocupação entre os alunos estrangeiros. “Na Angola e em outros países, o professor é uma autoridade, ele manda e nós obedecemos. Nunca tive a liberdade de chamar um professor de Paulo, mesmo depois de criar uma amizade e confiança. É uma questão de respeito”, comenta José Caleia.
A dinamarquesa Amalie lembrou que essa liberdade na sala de aula foi algo incomum para ela no Brasil. “Eu cheguei antes, sentei no meu lugar e fiquei em silêncio, como na Dinamarca. Mas logo que começou a prova, todos continuaram conversando, até a professora contou uma história. Eu gosto desse jeito brasileiro de não levar tudo tão a sério, mas na prova achei que era diferente”.
Esses estudantesavaliam a educação brasileira como boa e que as pesquisas científicas colocam o país como destaque entre outras nações, mas que a desatenção ao ensino básico faz com que poucos estudantes alcancem o conhecimento necessário para realizar uma boa graduação.
A boliviana lembrou que quando estudou em escolas de Jacareí, em parte do ensino infantil e médio, o conteúdo acadêmico era forte, mas que existem pontos para melhorar. “O ensino fundamental é muito forte, pode ser comparado com o dos Estados Unidos. A única coisa que poderia ser mais bemaproveitada é o estudo da língua mãe e de línguas estrangeiras”, fala.
“A educação do Brasil está um pouco atrasada. Parece a Dinamarca há 20 anos. As pessoas são muito ligadas a tudo, mas se não tiverem um incentivo das escolas e universidade, vai demorar a evoluir”, relata a Dinamarquesa que ainda sugere mudança no pensamento dos brasileiros. “Se vocês sempre pensarem nas possibilidades de alguém fazer o errado, nunca vão poder usar um computador em sala de aula. O simples uso da tecnologia faz muita diferença no ensino”, completa Amalie.
José Caleia pontuou a grande diferença entre o ensino fundamental e o superior do Brasil, além de apresentar a sua percepção de um nível melhor de alunos universitários caso o ensino básico fosse mais aprofundado. “Fica perceptível que é preciso melhorar a base quando converso com estudantes de nível superior e esses não sabem quantos Estados tem o próprio país. Isso me entristece. O Brasil tem estrutura para um estudo mais amplo, basta querer”.
O angolano, após dez anos de contato com a educação brasileira, enxerga o país como um destaque entre grandes nações. “Em muitas áreas, vocês estão à frente de muitos países pela produção científica. O Brasil é referência nas pesquisas médicas e a maioria dos livros e traduções em português é daqui e importadas para nações irmãs, como Portugal”, finaliza.
As portas que se abrem em todo o mundo para os brasileiros, seja pelo seu conhecimento, carisma ou história, são idênticas às oportunidades que o Brasil possui para a experiência acadêmica de estrangeiros. Experiência construtiva tanto para os estudantes nativos, que conhecem uma nova cultura dentro do próprio país, como para os “importados”, que passam por um momento único de crescimento pessoal.

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