Num relatório publicado nesta segunda-feira, a ONG Human Rights Watch teceu um alerta sobre as "práticas abusivas" dos Estados Unidos em centros de detenção para migrantes situados na Flórida, no sul do país, desde o regresso ao poder de Donald Trump, que fez da luta contra a imigração uma das suas prioridades.
"Devíamos comer como cães" é o desabafo de um dos migrantes detidos e também o título do relatório publicado ontem pela Human Rights Watch. © 2025 John Holmes para Human Rights Watch"Sentes-te como se a tua vida tivesse acabado" é o desabafo de um dos migrantes detidos e também o título do relatório publicado ontem pela Human Rights Watch, um documento em que a ONG de defesa dos Direitos Humanos dá conta de celas superlotadas, mergulhadas num frio glacial, e migrantes que dormem no chão debaixo de luzes continuamente acesas, privados de higiene básica, em três centros de detenção todos situados na Flórida: o Krome North Service Processing Center, o Broward Transitional Center e o Centro de Detenção Federal de Miami.
Neste relatório baseado nos testemunhos de oito homens e três mulheres que lá estiveram ou estão ainda em detenção, bem como de familiares de sete migrantes e de 14 advogados especializados, a Human Rights Watch detalha condições de detenção qualificadas de "degradantes e desumanizantes" que constituem "uma violação flagrante das normas internacionais de Direitos Humanos".
"Havia apenas uma sanita e estava coberta de excrementos", diz uma antiga detida ao descrever a cela onde permaneceu juntamente com dezenas de outras mulheres, sem cama ou privacidade. "Era preciso inclinar-se e comer com a boca, como os cães", conta por sua vez um homem que foi forçado a comer com as mãos algemadas nas costas.
De acordo com outros testemunhos igualmente citados no relatório, as celas eram mantidas deliberadamente frias, os detidos eram tratados "como lixo" pelos guardas prisionais e ninguém podia queixar-se sob pena de ser colocado no isolamento durante duas semanas.
Para além disto, a Human Rights Watch refere igualmente que os presos são privados de tratamento médico, mesmo que sofram de doenças crónicas como diabetes, asma ou problemas renais, esta entidade indicando que esta situação "poderia estar na origem de duas mortes" nos três centros de detenção mencionados.
Estas denúncias surgem numa altura em que os Estados Unidos, em particular a Califórnia, acabam de ser abalados por uma onda de protestos contra as condições de detenção dos migrantes severamente reprimida.
Donald Trump colocou a luta contra a imigração na dianteira das suas prioridades, tendo feito aprovar pelo Congresso um orçamento dedicando 45 biliões de Dólares para a criação de 100 mil lugares em centros de detenção para migrantes.
Segundo a Human Rights Watch, a média diária de migrantes detidos nos Estados Unidos passou de um pouco mais de 37 mil no ano passado para mais de 56 mil nos primeiros seis meses de 2025, sendo que um dos centros citados pela organização chegou ultimamente a acolher três vezes mais presos do que a sua capacidade máxima.
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