Atendimento de migrante em Centro de Acolhimento de Migrante – Foto: Projeto TB Migrantes – PAHO – CON20 -00014129
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), um quarto da população mundial está infectada com o Mycobacterium tuberculosis, o bacilo responsável pela tuberculose. Diante dessa realidade, a OMS recomenda o uso de diferentes métodos de triagem, como medida preventiva contra a doença. No entanto, o Brasil ainda carece das ferramentas específicas necessárias para implementar essas estratégias de forma eficaz, o que eleva o risco de desenvolvimento da tuberculose, especialmente entre grupos mais vulneráveis, como migrantes internacionais, refugiados e apátridas (Mira).
Diante da vulnerabilidade enfrentada por esses grupos, especialistas brasileiros e estudantes de pós-graduação da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP, em parceria com a Rede Brasileira de Pesquisa em Tuberculose (Rede-TB), orientados pelo professor Ricardo Alexandre Arcêncio, da EERP e presidente da Rede-TB, se uniram para promover a implementação de tecnologia para rastreio e adesão ao tratamento da tuberculose nessas comunidades por meio do Projeto Mira-TB. A tecnologia utilizada para rastreio e adesão ao tratamento é o aplicativo VDOT ou “tratamento diretamente observado por vídeo”, desenvolvido por pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, utilizado para observar e validar a tomada de medicação do paciente sem que ele precise ir até uma unidade de saúde.
O projeto é desenvolvido em cinco cidades brasileiras, São Paulo, Rio de Janeiro, Boa Vista, Brasília e Foz do Iguaçu. Nessas cidades os profissionais realizam a busca em locais como abrigos de acolhimento, por exemplo, onde residem os migrantes internacionais, refugiados e apátridas. Logo depois, é feito o tratamento para os imigrantes que possuem a doença ativa, por meio do esquema básico com os medicamentos rifampicina, isoniazida, pirazinamida e etambutol, explica o professor.
O tratamento preventivo para aquelas pessoas que convivem com o doente de tuberculose é o ponto principal do estudo, segundo o professor. “Esse tratamento não é protocolo do Ministério da Saúde. O projeto adota a terapêutica profilática reduzida, um esquema em que o paciente toma o medicamento uma vez por semana durante 12 semanas, evitando que ele adquira a doença”.
A unidade da USP em Ribeirão Preto, como Centro Colaborador da OMS, além de coordenar o projeto, também fornece toda a infraestrutura necessária para expandir os resultados e maximizar o impacto das ações de combate à tuberculose. “Os alunos acompanham o desenvolvimento dos resultados do projeto e firmam acordos de cooperação com os municípios brasileiros que aderem à pesquisa”, diz o professor.
A enfermeira Natacha Martins Ribeiro, aluna de pós-graduação em Saúde Pública pela EERP, destaca o caráter inovador do cuidado com essa população e chama a atenção para as condições em que vivem os refugiados. “É preciso se colocar no lugar de um refugiado para entender a situação que aquela pessoa está passando, o mínimo de dignidade que essa pessoa merece é o acesso à saúde, educação e alimentação.” A enfermeira acredita que o projeto tem potencial para ser implementado em outros países e grandes instituições que trabalham com essas populações.
*Estagiária sob supervisão de Ferraz Junior e Rose Talamone
https://jornal.usp.br/campus-ribeirao-preto
www.miguelimigrante.blogspot.com
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