sábado, 17 de dezembro de 2022

Formação técnica promove a integração de migrantes na Colômbia


Um projeto do Global Solidarity Fund procura preencher a lacuna de emprego que impede que aqueles que cruzam a fronteira da Venezuela encontrem trabalho em solo colombiano. O desafio é coligar de modo eficiente e sistematicamente os centros de formação administrados por congregações religiosas com empresas que oferecem empregos estáveis.

Felipe Herrera-Espaliat, enviado especial à Colômbia 

Cleiry Solózano ainda sente uma saudade profunda sempre que vê jovens estudantes de medicina usando guarda-pó branco. Ela também já usou um quando estudava medicina em seu país natal, a Venezuela, mas foi obrigada a interromper seus estudos universitários quando faltava apenas um semestre para se formar e se tornar médica. A situação econômica precária em que ela se encontrava com seu marido e seus três filhos os obrigou a deixar tudo para trás e cruzar a fronteira com a Colômbia, em busca de novas oportunidades. Eles não estavam pedindo muito, apenas garantir seu sustento diário, algo que, naquele triste ano de 2018, não puderam fazer em Guárico, um dos 23 estados do país, também conhecido como o Coração da Venezuela.

Sua primeira odisseia os levou a caminhar por cerca de 1.500 km até a região de Pasto, no sul da Colômbia, mas ali eles não encontraram as oportunidades esperadas de trabalho ou a acolhida. Como muitos dos mais de seis milhões de venezuelanos que deixaram o país nos últimos cinco anos, Cleiry e sua família continuaram a se mover pelo país do café, de cidade em cidade, até se estabelecerem em Bogotá. Ali nasceu o quarto filho deles.

Cleiry Solórzano teve que abandonar seus estudos de medicina para emigrar da Venezuela. Na Colômbia, ela agora ganha a vida trabalhando na panificação e confeitaria, depois de ter recebido uma formação com a ajuda dos Scalabrinianos. (@Margherita Mirabella/Archivio GSF)

Uma mão estendida pelos Scalabrinianos

A capital colombiana tem mais de sete milhões de habitantes, dos quais 400 a 500 mil são venezuelanos que ali chegaram desde 2017. O número não é exato porque muitos deles ainda não têm residência e continuam indocumentados, apesar do governo local ter oferecido facilidades para regularizar seu status de imigrantes ou refugiados políticos. No entanto, a falta de redes de apoio e assistência torna a papelada mais complexa para os venezuelanos. Aqueles que ajudam a legalizar sua permanência na Colômbia são os funcionários dos Centros Integrados de Atención al Migrante (CIAMI), que dependem da congregação religiosa dos Scalabrinianos.

"Há muitas pessoas com doenças crônicas que precisam de tratamentos ou remédios essenciais para suas vidas, mas como não estão regularizadas no território, dificilmente podem obtê-los. Da mesma forma, eles são obrigados a ter uma autorização de residência para ter acesso ao trabalho formal. Se não a têm, são obrigados a fazer um trabalho informal que não lhes garante nenhuma renda, porque trabalham pelas necessidades diárias e suas vidas são afetadas", explica Camila Motta, consultora jurídica do Centro Scalabriniano de Bogotá. 

Mas a mão estendida desses religiosos e seus colaboradores leigos vai muito além das questões legais, pois eles também cuidam da formação técnica dos migrantes para que eles possam encontrar emprego ou iniciar seu próprio negócio. Esta foi a experiência de Cleiry Solórzano em um dos centros CIAMI, onde ela e seu marido receberam uma formação em panificação e confeitaria. Assim, embora informalmente, eles puderam trabalhar e gerar renda para sustentar sua família. No entanto, houve momentos em que as vendas foram poucas, e ela que estava prestes a se tornar médica foi forçada, como milhares de pessoas em Bogotá, a passar horas remexendo em sacos de lixo na rua para coletar material para reciclagem e depois vendê-lo a um preço mais baixo.

Como consultora jurídica dos Centros de Atención al Migrante (CIAMI), Camila Motta escuta o sofrimento daqueles que foram forçados a deixar a Venezuela e agora devem regularizar sua situação na Colômbia. (@Margherita Mirabella/Archivio GSF)

Da formação ao emprego estável

Embora haja cada vez mais oportunidades para os venezuelanos que chegam à Colômbia para aprender ofícios que são apreciados pelo mercado de trabalho, continua a ser difícil para eles obter um emprego estável. Isto não se deve apenas ao aspecto legal, mas também porque até agora não houve nenhum vínculo orgânico entre as congregações religiosas que oferecem formação técnica e as empresas que podem oferecer emprego. Esta foi precisamente a situação identificada pela organização beneficente Global Solidarity Fund (GSF), que atualmente está investindo recursos na Colômbia para preencher a lacuna de emprego que separa os migrantes do emprego estável. Isto lhes permitirá não somente sobreviver, mas também ganhar maior autonomia para suas próprias vidas e a de suas famílias.

O GSF promove esta iniciativa por meio de um Hub para a inovação social, ou seja, uma rede de colaboração que acelera e facilita o contato entre os projetos formativos e as empresas. Estas empresas valorizam a qualidade da formação obtida pelos venezuelanos após a passagem pelos centros de formação das congregações religiosas e garantem que, dadas as circunstâncias de suas vidas, os migrantes demonstrem um alto grau de motivação no trabalho.

Os religiosos scalabrinianos foram incluídos no Hub para a inovação social, que os ajuda a administrar três grandes centros de treinamento em Bogotá, Cúcuta e Villa del Rosario. Especialistas em acompanhamento de migrantes sabem que as chances de encontrar um emprego aumentam quando as pessoas recebem um diploma oficial de alguma instituição de formação. "Nossa missão é promover o empreendedorismo e a empregabilidade através de cursos básicos, a partir da perspectiva de habilidades profissionais, o que significa ampliar as possibilidades de se aventurar no mercado de trabalho com base em uma certificação emitida por alguma instituição de ensino superior", explica Alejandro Torres, coordenador de formação dos centros de formação CIAMI.

Foi em um desses centros que Cleiry Solórzano se formou. Hoje, apesar das dificuldades da vida, ela olha para seu futuro com esperança. "Este tipo de projeto ajuda a formar, a conseguir um emprego, porque não podemos todos pensar em permanecer sempre como trabalhadores informais". Temos que tentar obter mais estabilidade para o futuro. Estes projetos me ajudaram a sobreviver, a abrir novos horizontes e a desenvolver a ideia de que, além de ser médica, eu poderia abrir uma padaria e uma confeitaria. Estas são novas facetas que eu não sabia que tinha e que esta migração me ajudou a explorar e aproveitar", conclui com entusiasmo Cleiry, que agora também está frequentando um curso de manicure na Universidade Agostiniana de Bogotá. 

O Global Solidarity Fund promove na Colômbia um Hub para inovação social que ajuda as congregações religiosas a trabalharem de forma mais coordenada e eficiente em seu serviço de formação técnica para os migrantes. (@Margherita Mirabella/Archivio GSF)
Radio Vaticano 
www.miguelimigrante.blogspot.com




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