Estamos a viver um daqueles momentos em que nada ficará
como antes no dia depois de amanhã. A esta crise sanitária seguir-se-á uma
crise econômica e, quase em simultâneo, uma crise de modelo de sociedade.
Nas democracias, da esquerda à direita, começa a sentir-se
uma necessidade de repensar a globalização, o comércio livre, o liberalismo, as
desigualdades, os modos de consumo, o peso da demografia, as migrações e o equilíbrio
necessário do planeta.
Um deputado francês do centro-direita, numa recente
entrevista ao Libération, referia que “não se pode evitar a interrogação sobre
o liberalismo… a ideia de que o dinheiro seria a única escala de valor e que o
Estado não tem mais nenhum papel a jogar.”
Outros referem um modelo competitivo entre países que não têm as mesmas
exigências nas cadeias de produção; outros, ainda com a necessidade de ter em
conta as crises sanitárias e climáticas na abordagem das questões econômicas e
sociais, mas “sem responder com os erros do passado”, como referiu Bruno
Retailleau, também do centro direita francês, ao Le Monde.
Sinal dos tempos, este descontrolo total nesta verdadeira
caça às máscaras cirúrgicas, mas também ventiladores e medicamentos produzidos
em larga escala na China, cobiçados em tempo de penúria e urgência por parte de
vários governos e empresas de todo o mundo. Esta área é já uma vítima anunciada
do que será o dia depois de amanhã, porque a dependência de outros num domínio
tão sensível quanto a saúde não vai pode continuar. Macron já o disse. Costa já
o disse.
Vários cenários estão já em cima da mesa para retomar o
crescimento económico. O secretário-geral da OCDE evoca mesmo um “New Deal” à
escala planetária, à semelhança do que fez o presidente Roosevelt nos Estados
Unidos da América para tirar o país da grande depressão, após o crash da bolsa
em 1929.
Na Europa multiplicam-se os apelos à criação de “um novo
mecanismo de mutualização da dívida, agindo como um bloco na aquisição de
produtos sanitários de primeira necessidade… e preparando um grande plano de
choque para que a recuperação do continente seja rápida e sólida”, como
escreveu Pedro Sanchez numa crônica publicada em vários jornais europeus. Até
mesmo na Alemanha se erguem vozes na mesma linha, e o editorial da revista “Der
Spiegel” é claro, “não há alternativa a eurobonds numa crise como esta.” A
discussão, contudo, não encontra grande eco na generalidade da classe política
alemã, com excepção dos “Verdes” e do “Die Linke” ("A Esquerda"), e
em resposta, os ministros sociais-democratas no governo de Berlim, negócios
estrangeiros e finanças, defendem o recurso ao Mecanismo de Estabilidade
Europeu, agora sem os condicionalismos de uma “troika”. Ainda assim, o impacto
nas economias depois desta pandemia será muito diferente, país a país.
Portugal, que tem no turismo uma percentagem muito significativa no seu PIB,
será mais duramente atingido do que outros, ainda que venha a ter menos óbitos
e menos infectados.
Paulo Dentinho
Publico .Pt
www.miguelimigrante,blogspot.com
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