segunda-feira, 6 de abril de 2020

O mundo no dia depois de amanhã


Últimas notícias de coronavírus de 15 de março | Coronavírus | G1

Estamos a viver um daqueles momentos em que nada ficará como antes no dia depois de amanhã. A esta crise sanitária seguir-se-á uma crise econômica e, quase em simultâneo, uma crise de modelo de sociedade.

Nas democracias, da esquerda à direita, começa a sentir-se uma necessidade de repensar a globalização, o comércio livre, o liberalismo, as desigualdades, os modos de consumo, o peso da demografia, as migrações e o equilíbrio necessário do planeta.

Um deputado francês do centro-direita, numa recente entrevista ao Libération, referia que “não se pode evitar a interrogação sobre o liberalismo… a ideia de que o dinheiro seria a única escala de valor e que o Estado não tem mais nenhum papel a jogar.”  Outros referem um modelo competitivo entre países que não têm as mesmas exigências nas cadeias de produção; outros, ainda com a necessidade de ter em conta as crises sanitárias e climáticas na abordagem das questões econômicas e sociais, mas “sem responder com os erros do passado”, como referiu Bruno Retailleau, também do centro direita francês, ao Le Monde.

Sinal dos tempos, este descontrolo total nesta verdadeira caça às máscaras cirúrgicas, mas também ventiladores e medicamentos produzidos em larga escala na China, cobiçados em tempo de penúria e urgência por parte de vários governos e empresas de todo o mundo. Esta área é já uma vítima anunciada do que será o dia depois de amanhã, porque a dependência de outros num domínio tão sensível quanto a saúde não vai pode continuar. Macron já o disse. Costa já o disse.

Vários cenários estão já em cima da mesa para retomar o crescimento económico. O secretário-geral da OCDE evoca mesmo um “New Deal” à escala planetária, à semelhança do que fez o presidente Roosevelt nos Estados Unidos da América para tirar o país da grande depressão, após o crash da bolsa em 1929.

Na Europa multiplicam-se os apelos à criação de “um novo mecanismo de mutualização da dívida, agindo como um bloco na aquisição de produtos sanitários de primeira necessidade… e preparando um grande plano de choque para que a recuperação do continente seja rápida e sólida”, como escreveu Pedro Sanchez numa crônica publicada em vários jornais europeus. Até mesmo na Alemanha se erguem vozes na mesma linha, e o editorial da revista “Der Spiegel” é claro, “não há alternativa a eurobonds numa crise como esta.” A discussão, contudo, não encontra grande eco na generalidade da classe política alemã, com excepção dos “Verdes” e do “Die Linke” ("A Esquerda"), e em resposta, os ministros sociais-democratas no governo de Berlim, negócios estrangeiros e finanças, defendem o recurso ao Mecanismo de Estabilidade Europeu, agora sem os condicionalismos de uma “troika”. Ainda assim, o impacto nas economias depois desta pandemia será muito diferente, país a país. Portugal, que tem no turismo uma percentagem muito significativa no seu PIB, será mais duramente atingido do que outros, ainda que venha a ter menos óbitos e menos infectados.


Paulo Dentinho
Publico .Pt
www.miguelimigrante,blogspot.com

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