Maior comunidade de imigrantes de São Paulo, os bolivianos
são um dos grupos que mais têm sofrido o impacto da pandemia de COVID-19.
Segundo dados da Polícia Federal e da Secretaria Municipal
de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC), de 2019, mais de 75 mil bolivianos
vivem na capital paulista. As condições precárias de moradia, as dificuldades
de acesso à informação e à saúde, além da perda de renda devido às medidas de
isolamento social tornam essa população uma das mais vulneráveis neste momento.
Como os bolivianos que, em sua maioria, vivem na capital,
Jenny Liuca Choque, 25, e sua família trabalham em oficinas de costura que
abastecem o mercado da moda. Devido à quarentena, a produção está paralisada e,
com isso, falta renda para arcar com as despesas de subsistência.
“Para muitos de nós, a única entra- da econômica é pelo
nosso trabalho na costura. Grande parte da comunidade boliviana tem trabalho
informal e perdemos as nossas receitas com as quais pagamos nossas despesas
básicas, como alimentação, água, eletricidade, gás e outras contas. E o pior de
tudo, os aluguéis das casas são muito altos.”
AUXÍLIO EMERGENCIAL
Muitos desses imigrantes se enquadram no grupo dos que têm
direito ao auxílio emergencial de R$ 600 do Governo Federal. No entanto, se a
população em geral já está tendo dificuldade para receber essa ajuda, alguns
bolivianos, além dos obstáculos com o idioma, não estão com a documentação
necessária regularizada. Os que conseguem se inscrever no sistema recebem como
resposta que o pedido de auxílio está sendo analisado.
Nesse sentido, entidades e organizações que realizam
trabalhos voltados para os migrantes têm ajudado essa população a realizar o
pedido do auxílio emergencial. Uma delas é a Missão Paz, entidade ligada à
Paróquia Nossa Senhora da Paz, no centro da capital, que coloca à disposição um
grupo de assistentes sociais que ajuda no cadastramento.
“Essas mesmas assistentes sociais também mapearam as
famílias mais necessitadas e distribuíram cestas básicas, produtos de limpeza,
higiene pessoal, leite em pó e fraldas”, explicou ao O SÃO PAULO o Padre Paolo
Parise, Coordenador da Missão Paz.
ATENDIMENTO A
DISTÂNCIA
Para evitar aglomerações e o deslocamento da população,
desde o início da pandemia, a entidade disponibilizou alguns canais para os
imigrantes e refugiados que precisam entrar em contato, redirecionando as
demandas aos vários profissionais, por meio do telefone (11) 3340-6950, e-mail:
protecao@missaonspaz.org e Facebook.
Há, ainda, uma psicóloga, uma advogada e uma equipe de
saúde que atendem a distância, de suas casas, ajudando a solucionar problemas e
tirar dúvidas.
SAÚDE
Além das dificuldades econômicas, a comunidade boliviana
sofre com os riscos da própria COVID-19. Nem todas as famílias conseguem seguir
por completo as recomendações preventivas de distanciamento social para evitar
o contágio.
Muitas famílias moram em pequenos cômodos ou moradias
coletivas que funcionam também como oficina de costura, em muitos casos com
apenas um banheiro para o uso comum, sendo inevitáveis a aglomeração e o
isolamento das pessoas do grupo de risco, o que dificulta os cuidados
necessários com a higiene do ambiente.
Outra dificuldade é o acesso à assistência médica, pois a
grande maioria depende do sistema público de saúde, que já está à beira da
saturação do atendimento. Jenny relatou que muitos de seus compatriotas não
sabem exatamente quando devem procurar o atendimento médico e temem se serão
atendidos caso desenvolvam a forma grave da doença.
O médico Erwin Cordova Chavez é presidente do grupo
Voluntários por Amor, que ajuda a comunidade boliviana com atendimentos
médicos, sobretudo os que têm dificuldade em relação ao idioma.
Chavez informou à reportagem que acesso ao serviço de saúde
para os imigrantes já era difícil antes da pandemia pelo fato de maioria dos
bolivianos não falarem português. “Como a maioria deles se relaciona somente
entre si, acabam não aprendendo a língua”, explicou.
O grupo Voluntários por Amor, em parceria com algumas
instituições e como Consulado Boliviano em São Paulo, tem arrecadado cestas
básicas que são distribuídas em diferentes bairros da capital.
INSEGURANÇA
“Já tenho notícia de pelo menos cinco pessoas da nossa
comunidade que foram infectadas. Também sabemos de uma morte em Guarulhos (SP).
Sabemos, porém, que há muito mais pessoas doentes, sem contar aquelas que não
apresentam os sintomas”, destacou a jovem.
De acordo com a Associação de Residentes Bolivianos (ADRB),
há, até o momento, cinco mortes de pessoas da comunidade pela COVID-19, além de
algumas pessoas internadas em estado grave.
Inclusive, já há a confirmação de um dos médicos do grupo
Voluntários por Amor internado com o novo coronavírus.
Maria Erasma Beserra, 62, está no Brasil há nove anos. Além
de fazer par- te do grupo de risco pela idade, tem a saúde debilitada e já
enfrentava dificuldades para ter acesso ao tratamento médico. Com a pandemia,
ela não está em condições de trabalhar e conta com a ajuda das pessoas para
poder se sus- tentar.
“Faltam comida e dinheiro para pagar as contas. É
desesperador. Estamos em casa, em quarentena e em oração, na esperança de que
tudo isso passe”, relatou Maria Erasma, que mora em Carapicuíba, na região
metropolitana de São Paulo, com suas duas filhas e uma neta de 2 anos.
Mesmo diante da dificuldade econômica, a idosa reconhece que
o isolamento social é fundamental para evitar o agravamento da pandemia. “É
importante que as pessoas tomem cuidado e sigam as orientações dos médicos”,
afirmou.
SOLIDARIEDADE
A Missão Paz está recebendo doações em alimentos, produtos
de limpeza e higiene, como também doações em dinheiro por meio de depósitos,
segundo indicação no site missaonspaz.org, na seção “Como ajudar a Missão Paz
durante a pandemia de COVID-19”.
“Mais uma vez, a Missão Paz experimenta a grande
solidariedade de homens e mulheres de diferentes crenças religiosas, mas unidos
na solidariedade com os que mais precisam. Graças às do- ações, no último fim
de semana, 18 e 19 de abril, foram distribuí- das 162 cestas básicas”, diz o
Padre Paolo.
OUTRAS AJUDAS
Além da Missão paz e dos Voluntários por Amor, há outras
organizações que auxiliam a comunidade boliviana:
Associação de Residentes Bolivianos (ADRB)
Recebe doações de alimentos e de dinheiro para comprar
cestas básicas para as famílias que ficaram sem renda.
Telefones: (11) 99357-4934; (11) 99945-3372; (11) 98278-8736
Centro da Mulher Imigrante e Refugiada (Cemir)
Recebe doações para comprar cestas básicas e medicamentos
para mulheres e famílias que passam necessidade, indicadas por líderes
comunitárias.
E-mail: cemir.mulherimigrante@gmail.com
Telefone: (11) 95845-2979
Jornal O São Paulo
www.miguelimigrante.blogspot.com
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