quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Psicanalista lança projeto de apoio a imigrantes brasileiros na França

 


A psicanalista brasileira radicada na França Juliana Campocasso que lançou o projeto Mandacaru: psicanálise e imigração, de apoio a imigrantes brasileiros em Paris. © RFI

O projeto “Mandacaru: imigração e psicanálise”, lançado pela psicanalista brasileira radicada na França, Juliana Campocasso, em parceria com o Grupo Mulheres do Brasil de Paris, tem o objetivo de informar sobre os efeitos psíquicos da imigração, como enfrentá-los e como pedir ajuda.

O mandacaru é um cacto nativo do nordeste brasileiro, imortalizado pela música de Luiz Gonzaga “Xote das meninas”. Juliana usa a planta como alegoria do sofrimento psíquico que acarreta o processo de imigração. “O nome tem a ver com essa força brasileira. Mas ao mesmo tempo, nesse cacto, nasce uma flor tão frágil. Porque sair de seu país e começar a vida fora é desafiador e ao mesmo tempo tem essa fragilidade psíquica do processo de imigração. Algo bem significativo na vida do imigrante”, afirma.

O projeto é organizado em ciclos com duração de seis meses cada. O primeiro deles tem como tema “Mulheres, mães imigrantes e seus filhos”. Em seguida, outras temáticas serão abordadas, como adolescência, trabalho, tendo sempre como centro a imigração.

Casa Verde

A ideia surgiu do trabalho da psicanalista no consultório e no Consulado Geral do Brasil em Paris, onde presta assistência psicológica a brasileiros que moram na França.

“Eu observei o quanto o processo de imigração favorece o sofrimento psíquico em brasileiros residentes na França. Ele pode fragilizar as pessoas independentemente da classe social, da faixa etária, do motivo da imigração e da forma como o processo aconteceu. O processo de imigração é, portanto, bem democrático, causando efeitos emocionais em todos”, explica.

Juliana também atuou dez anos como psicóloga no espaço de acolhimento La Caragole, em Paris, inspirado no modelo das Maisons Vertes (Casas Verdes) desenvolvido pela célebre pediatra e psicanalista francesa Françoise Dolto. Estes centros, presentes em toda França, acolhem crianças de até quatro anos, pais e cuidadores para favorecer a sociabilidade.  

“A Françoise Dolto viu a dificuldade das mães, de estarem sozinhas com o bebê”, explica. “Na psicanálise, nós levamos em consideração que, ao estar diante de uma criança, naturalmente isso nos faz reviver nossa própria infância. Quanto à imigração, a mãe imigrante também está sozinha”.

Ela ressalta que a experiência na instituição foi importante na concepção do Mandacaru e na escolha do primeiro tema tratado. “Quando eu resolvi sair da Caragole, eu me perguntei: por que não realizar um projeto onde acolheríamos brasileiros que estão na França?” A ideia foi apresentada para o Grupo Mulheres do Brasil de Paris que se tornou parceiro do projeto.

Grupo aberto

Apesar da temática escolhida para o primeiro ciclo, o Mandacaru é aberto ao público em geral, não apenas mulheres e mães. O projeto contará com palestras mensais e grupos de informação e escuta. O formato foi adaptando para o contexto atual de pandemia em forma de lives no Instagram e rodas de conversa pela plataforma Zoom, com inscrição prévia.

Juliana lembra que não é um grupo de terapia, mas que pode ajudar as pessoas a buscarem apoio psicológico para ultrapassar os desafios da imigração.

.rfi.fr

www.miguelimigrante.blogspot.com

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