quinta-feira, 26 de setembro de 2019

Comissão para o Enfrentamento ao Tráfico Humano aposta em articulação regional






Comissão para o Enfrentamento ao Tráfico Humano aposta em articulação regional






Articulação é a palavra forte no planejamento da Comissão Especial Pastoral para o Enfrentamento ao Tráfico Humano da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). 
Reunidos na Casa de Retiros Assunção, em Brasília (DF), nestes dias 24 e 25 de setembro, os membros partilharam sobre o trabalho desenvolvido pelos grupos representados, pensaram em sugestões para levar ao Sínodo para a Amazônia, elaboraram contribuições para a continuidade do trabalho e indicaram pistas para fortalecer a relação com redes que atuam na realidade do tráfico de pessoas e da migração.
“A comissão agora está em processo de rearticulação para ter uma incidência maior em nível nacional e também nos regionais da CNBB, nas Pastorais Sociais, nas fronteiras, com alguns enfoques específicos, como as crianças, adolescentes, jovens, as mulheres”, resumiu o bispo da prelazia de Marajó (PA), dom Evaristo Spengler, que a partir de novembro assumirá a presidência da Comissão.
A busca de maior incidência está no horizonte de atuação do grupo que atua na prevenção ao tráfico humano, na incidência política e na denúncia e responsabilização dos culpados. De acordo com a irmã Eurides Alves de Oliveira, representante da Rede Um Grito Pela Vida, o contexto atual apresenta aumento na mobilidade humana com fluxos intensos, “a miséria bate à porta com muita força” e as crianças são as maiores vítimas.
Neste “cenário desolador”, o papel da Comissão é dar visibilidade às realidades, sobretudo nos processos de evangelização da Igreja, “que muitas vezes são doutrinários, catequéticos, mas não abordam essas questões”, aponta a religiosa. A ideia é fazer uma sensibilização eclesial para os diversos organismos e pastorais pautarem essas problemáticas, para que alertem a sociedade e deem visibilidade.
O grupo deve se empenhar para descobrir iniciativas que existem nos regionais e tentar agregar força para uma atuação mais efetiva em rede, além de buscar ter uma palavra profética diante dos desmontes das políticas públicas e também incentivando as denúncias.
Para irmã Marie Henriqueta Cavalcante, da Comissão Justiça e Paz do Regional Norte 2 da CNBB, estas proposições consideram que o tráfico de pessoas “é um crime extremamente organizado, silencioso, invisível”. “Então nós pensamos que nos regionais a gente ainda precisa falar muito mais desse tema em outros espaços e articular e fortalecer a Comissão nos outros regionais”. Irmã Marie também pontua para a necessidade de incidir politicamente e integrar os trabalhos que já existem nas áreas de fronteira.
Sínodo para a AmazôniaA Comissão para o Enfrentamento ao Tráfico Humano da CNBB tem entre seus membros três participantes do Sínodo para a Amazônia convocados pelo Papa Francisco. Eles terão a oportunidade de reforçar a importância da temática na assembleia sinodal.
Dom Evaristo reforça que o tema já está posto para o debate, uma vez que já está presente no documento de trabalho. “Nós queremos agora que haja algum compromisso formal no documento sinodal em relação a esta chaga humana que tem sido denunciada em todo o mundo”, afirma o bispo.
Para o prelado, é importante dar relevo à questão do tráfico humano, da exploração sexual, do abuso sexual, “que é uma prática encontrada no Brasil inteiro, mas de modo especial a Amazônia sofre muito com isso”.
“São corpos de crianças, adolescentes, meninas e meninos que são degradados, não são vistos como um ser humano, mas como um objeto de lucro, como objeto de prazer. E a pessoa humana tem que ser valorizada. E o sínodo vai dar uma palavra importante na defesa das crianças, adolescentes, na defesa da vida dos mais fragilizados”.
Articulação com redesPara ao planejamento de 2020, a Comissão deverá aprimorar a relação com redes que já atuam no enfrentamento ao tráfico. “O grande desafio é esta articulação da Comissão com essas outras redes que já tem um trabalho de enfrentamento ao tráfico de pessoas em nível de Brasil. A gente tem fortalecido essas articulações com as redes que tem nas regiões de fronteira que já fazem um trabalho tanto de prevenção, de incidência política e relação com as redes que trabalham com os migrantes”, conta a irmã Rose Bertoldo, que atua na Rede Um Grito pela Vida e no Eixo de Fronteiras da REPAM.
Entre as ações na parceria com as redes o grupo colabora na formulação de políticas públicas voltadas para a realidade da migração e do tráfico de pessoas, na formação de lideranças nos regionais e na articulação destes regionais com as redes locais que existem. Tudo isso tem sido promovido até o momento por meio de Seminário de formação e capacitação de lideranças.
São algumas das redes que já atuam neste campo: Rede Clamor, do Conselho Episcopal Latino Americano; a REDEMIR, articulada pelo Instituto Migrações e Direitos Humanos para a realidade de Migrantes e Refugiados, o Serviço Jesuíta a Migrantes e Refugiados, a rede da Tríplice Fronteira (Brasil, Peru e Colômbia), a rede internacional Thalita Kum, articulada pelas Superioras Gerais de congregações religiosas, além da REPAM entre outras.
As prioridades da Comissão para os próximos anos:
  • Incidência nos Regionais e nas pastorais sociais para uma agenda comum para enfrentamento ao tráfico de pessoas
  • Inclusão da temática nas prioridades das Pastorais Sociais no plano 2019-2023
  • Articulação com as organizações que estão atuando com educação para sensibilização e prevenção
  • Fortalecimento do papel de articulação da Comissão em todo o país
  • Incidência política e profética na temática do enfrentamento ao tráfico de pessoas
  • Aproximação das iniciativas nas fronteiras
  • Dar ênfase ao tema do enfrentamento ao tráfico de pessoas na Semana Social Brasileira
  • Ampliação da articulação entre organizações nacionais que atuam nos temas afetos à comissão em plano nacional e internacional
  • Aproveitar o ambiente do Sínodo para incidência da temática
  • Ampliação do olhar e do conceito de fronteiras para além da terrestre
CNBB
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