Onda de
refugiados ainda levará milhões à Europa. Por isso, os Estados nacionais devem
mudar, para enfrentar os desafios apresentados pelas futuras sociedades
multiculturais, opina o jornalista Kersten Knipp.
Diversas eleições
países europeus serviram para espelhar o que a maioria dos cidadãos de países
europeus pensa da atual onda migratória: no geral, não acham isso algo muito
bom. Na Áustria, esta rejeição ajudou a levar à presidência do país o candidato
do partido populista de direita FPÖ. E na Alemanha, os membros da similar AFD
chegam para seu congresso nacional altamente motivados pelos resultados de três
eleições estaduais realizadas em meados de março. O evento servirá para
discutir qual a direção o partido deve tomar.
AFD e FPÖ, para
citar apenas dois dos muitos partidos de direita na Europa, prometem uma
abordagem das questões levantadas pelo movimento dos refugiados diferente dos
outros partidos tradicionalmente representados nos parlamentos europeus. Eles
querem promover o fortalecimento da vigilância das fronteiras e o rápido
repatriamento de refugiados com pedidos de asilo negados.
O número de
refugiados justificaria, à primeira vista, tal política: o volume de migrantes
põe a questão moral sob pressão. Pois não é suficiente "apenas"
salvar a vida dos refugiados. Eles também precisam de alimentação, alojamento e
um trabalho – a maioria deles também precisa de um curso profissionalizante. A
Alemanha enfrenta atualmente uma sensível dificuldade em todos esses quesitos.
Estado e sociedade não conseguem suprir essa demanda.
Além disso, nem
todas as experiências já foram feitas em termos de diferenças culturais. Na
dúvida, também as experiências ruins não foram feitas. E tudo isso sugere: as
sociedades multiculturais podem ser muitas coisas, mas não são lá muito
harmoniosas. Também é certo: as características de homogeneidade anteriores,
como origem e cultura comuns, têm mostrado que são cada vez mais úteis.
Mas aqueles que
preferiam ter vivido um pouco mais com as características de uniformidade dos
tempos antigos podem começar a dizer adeus a elas. Pois estes tempos ficaram
definitivamente para trás. A próxima onda de refugiados se encontra na outra
margem do Mediterrâneo, e quem acredita seriamente que ela pode ser detida
permanentemente? Claro que alguns momentos de retardamento podem ser
produzidos. Mas a grande migração começou. E ela vai trazer milhões à Europa.
Como consequência,
os Estados nacionais devem se redefinir, queiram ou não seus cidadãos. Isto
também diz respeito aos novos partidos de direita. Caso eles não queiram
somente viver de ilusões momentâneas, eles também terão que formular regras
para as futuras sociedades multiculturais.
Eles também terão
que se concentrar a longo prazo na única lógica política que promete superar o
desafio da imigração: a da República. República: a res publica, a coisa
pública. O Estado, que está aí para todos. Não um Estado romântico, mas um onde
a situação será difícil. Mesmo assim, ele será o único capaz de superar os
desafios.
A República do
futuro. Na prática diária, isso significa, por exemplo, que os cidadãos das
futuras repúblicas devem ser capazes de se candidatar a empregos sem temer que
eles não sejam pré-selecionados por possuírem um nome exótico. Eles devem
contar com a igualdade de oportunidades no mercado imobiliário, sem preocupação
de serem preteridos em favor de europeus. Bairros limitados por etnia ou
religião sequer devem surgir. Todo o resto põe em risco a paz social.
Mas isso também
significa que sensibilidades culturais e religiosas devem ser contidas. Aquilo
prescrito pelos respectivos livros sagrados deve ficar em segundo plano em
relação às regras da sociedade. Acordos devem ser fechados onde eles puderem
ser implementados. Sim às alternativas à carne de porco nas cantinas, mas
também sim para o álcool nas proximidades dos muçulmanos mais rigorosos. A
natureza pública da vida pública deve ser preservada. Portanto: lenço sim,
burca não. A liberdade da arte deve ser respeitada. Críticas duras a seus
excessos sim, violência ou até mesmo ameaça de violência, não. Contenção
religiosa geral. Portanto: sinos de igreja, em tons neutros, sim. A chamada do
muezzin "Alá é o maior", não.
França, Bélgica e
Reino Unido (lar de Mohammed Emwazi, vulgo "Jihad John", o carrasco
do chamado "Estado Islâmico"): todos eles mostram onde a coisa vai
parar quando os políticos não conseguem dominar o desafio republicano. Claro
que os jihadistas são, em grande parte, criminosos altamente perigosos. Por isso,
é essencial livrá-los da aura religiosa. Isso só é possível através da
integração para além do credo e da origem. Mudar isso vai levar décadas. Mas
qualquer outra coisa diferente seria um desperdício de tempo.
![Deutsche Welle](https://p2.trrsf.com/image/fget/cf/images.terra.com/2012/05/02/dw-brasil20120502090707.jpg)
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