As pesquisadoras da Fiocruz Cristiane Batista Andrade, do Departamento de Estudos sobre Violência e Saúde Jorge Careli (Claves/ENSP), e Corina Mendes, do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF), participaram da atividade “Chegadas e Partidas”, realizada entre os dias 11 a 14 de novembro em Tabatinga, no Amazonas. A cidade fica na região da tríplice fronteira. Sob a coordenação da professora Munique Therense, da Universidade do Estado do Amazonas, o evento discutiu nascimento, parto, violência obstétrica, envelhecimento e morte, além dos deslocamentos de mulheres nas fronteiras para o cuidado em saúde.
A participação das representantes da Fiocruz ocorreu no âmbito do projeto “Mulheres migrantes nas fronteiras: interfaces entra trabalho, cuidado e violências”, coordenado por Cristiane Andrade e financiado pelo CNPq e Ministério da Saúde, por meio do Departamento de Ciência e Tecnologia (DECIT). As pesquisadoras da ENSP e do IFF realizaram duas oficinas para discutir os desafios e as potencialidades de mulheres que se deslocam para o cuidado de si, familiar e para o trabalho. As atividades contaram com estudantes, profissionais de saúde e direitos humanos.
Durante os encontros em Tabatinga, Cristiane e Corina também apresentaram a cartilha produzida para divulgar informações sobre migrações, acesso aos serviços de saúde e de assistência social e prevenção de violências. O material foi elaborado durante o estudo ‘Migração, saúde e violências: experiências de trabalhadoras(es) migrantes e refugiadas(os) no Rio de Janeiro’, financiado pelo programa INOVA - Geração do Conhecimento/Fiocruz (2022-2023). A pesquisa analisou o processo de migração/refúgio e suas repercussões na vida, no trabalho e na saúde de migrantes. Assista aqui ao lançamento da cartilha, realizado na ENSP em 2023.
Conheça o projeto “Mulheres migrantes nas fronteiras: interfaces entra trabalho, cuidado e violências”
O objetivo geral da pesquisa é produzir evidências científicas sobre as interfaces entre saúde, violências e trabalho entre mulheres migrantes e refugiadas nas fronteiras brasileiras sob a perspectiva interseccional e decolonial, propondo uma ação de educação permanente para trabalhadores do SUS, do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) e de Organizações da Sociedade Civil (OSC). Os locais de fronteiras a serem estudados são Amazonas, Mato Grosso e Rio Grande do Sul.
As situações de vulnerabilidades, especialmente na migração forçada, fazem com que mulheres migrantes nas fronteiras se insiram em trabalhos precários e de baixa valorização social e salarial, em redes de exploração sexual, trabalho escravo contemporâneo e no tráfico de pessoas. As mulheres em deslocamento sofrem diversas violências, sendo seus corpos marcados pelo racismo, patriarcado, sexismo e pelas desigualdades de classe social. Elas enfrentam situações que as colocam em constantes riscos à saúde e à vida. Além disso, a estas mulheres são impostos desafios diante do trabalho reprodutivo (remunerado ou não), as questões vinculadas à maternidade e os arranjos familiares diante da migração. Portanto, quais são as problemáticas de saúde/cuidado, violências e trabalho de mulheres migrantes nas fronteiras brasileiras? A hipótese é que vivenciam dificuldades na entrada e na permanência em empregos seguros, estando vulneráveis à exploração sexual e vítimas de trabalho escravizado e/ou outras violências, além das dificuldades na integração no sistema de saúde/assistência social.
A produção de informações se dá por meio de entrevistas com interlocutores: migrantes/refugiadas, gestores/as e trabalhadores/as do SUS, SUAS e OSC. Como produtos, pretende-se gerar evidências sobre o estado da arte e resultados empíricos sobre mulheres migrantes e interfaces com o trabalho, cuidado e violências; Sumário Executivo; seminário internacional; material educativo e de divulgação científica (podcast) em cinco línguas para a comunidade migrante sobre o tema da área do trabalho (direitos trabalhistas, prevenção de Trabalho Escravo Contemporâneo e tráfico de pessoas), saúde (direito e acesso ao SUS) e prevenção de violências (de gênero, doméstica, xenofobia, etc.); e vídeos curtos. Além disso, pretende-se elaborar um curso EAD de atualização profissional e de formação política para migrantes/refugiadas, gestores e trabalhadores do SUS, SUAS e OSC, que poderá colaborar para a divulgação dos conhecimentos científicos e técnicos para atendimentos em saúde e na assistência social.
As pesquisadoras da Fiocruz posam ao lado de participantes de oficina em Tabatinga (AM). Foto: arquivo pessoal
https://informe.ensp.fiocruz.br/
www.miguelimigrante.blogspot.com
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