quarta-feira, 3 de abril de 2024

Narcotráfico da Colômbia lucra US$ 65 milhões com recorde de imigrantes na selva de Darién


Se alguém perguntasse em 2010 se existe alguma ligação por terra entre a América do Sul e a do Norte, a resposta provavelmente seria não. Na época, o único ponto de encontro entre os continentes — a perigosa selva de Darién — era considerado um trajeto (quase) impossível. Mas nos últimos anos a floresta de mata fechada entre a Colômbia e o Panamá tem atraído cada vez mais imigrantes, que realizam a travessia à mercê de coiotes do Clã do Golfo, o mais poderoso cartel de drogas colombiano. Em 2023, mais de meio milhão de pessoas arriscaram suas vidas no trajeto, entre elas 113 mil menores, garantindo um lucro de US$ 65 milhões (R$ 328 milhões) aos narcotraficantes. O número é mais que o dobro do último recorde, batido no ano anterior, e superior à soma de todos os cruzamentos registrados entre 2010 e 2022.

Para Juanita Goebertus, diretora da ONG Human Rights Watch (HRW) para as Américas, o aumento da procura ocorre devido ao bloqueio de opções mais seguras para os migrantes chegarem aos EUA e a piora nas condições de vida de populações de países como Venezuela, Equador e Haiti, três principais origens dos migrantes que atravessaram Darién no ano passado. Dos 520 mil que cruzaram em 2023, 328 mil eram venezuelanos, 57 mil equatorianos e 46 mil haitianos. China (25 mil) e Colômbia (18 mil) completam o ranking. A nível regional, 81% dos migrantes eram de origem sul-americana.

— [A rota tem se popularizado] porque as pessoas estão tentando escapar de circunstâncias ainda mais difíceis em seus países de origem — explica Goebertus ao Globo. — A repressão e o crescimento da pobreza na Venezuela, a crise de segurança no Equador e o controle absoluto das gangues no Haiti são os tipos de cenários que fazem com que as pessoas prefiram passar pelo inferno de Darién a ficar em seus países.

Riscos no caminho

De acordo com um relatório da Human Rights Watch publicado nesta quarta-feira, aqueles que se arriscam em Darién estão sujeitos a uma série de violências, incluindo de natureza sexual, que na grande maioria dos casos não são investigadas. Segundo o documento, feito a partir de dados oficiais e entrevistas com imigrantes, trabalhadores humanitários e autoridades, mais de 1.500 estupros foram relatados desde 2021, mas não há quase registros de punições contra os abusadores.

Por Agência O Globo

Nenhum comentário:

Postar um comentário