sábado, 26 de agosto de 2023

“Deixei o Afeganistão apenas com a roupa do corpo e meu celular”


 

“Deixei o Afeganistão apenas com a roupa do corpo e meu celular”, conta o refugiado afegão Mohammed Panahi, 26 anos, enquanto mostra, no celular, fotos da família que ficou para trás e do antigo trabalho. Ele desembarcou no Aeroporto de Guarulhos há pouco tempo em busca de uma chance de reescrever sua história em uma nova direção no Brasil. 

Assim como ele, mais de 6 mil refugiados do Afeganistão chegaram até aqui, e o Brasil autorizou mais de 12.300 vistos humanitários para essa população até agosto de 2023. São pessoas que buscam uma chance de reestruturar a vida em segurança depois de deixar o país, que enfrenta a maior crise humanitária do mundo. Descubra mais sobre esse assunto na página Em uma nova direção. 

Você pode deixar uma mensagem de boas-vindas para Mohammed e pessoas refugiadas do Afeganistão que, assim como ele, chegam ao Brasil em busca de recomeçar a vida em segurança: clique aqui. Você também pode fazer a diferença na vida de refugiados do Afeganistão por meio de uma doação ao ACNUR: clique para doar. 

Forçado a deixar o país pela segunda vez 

“Antes, eu tinha uma vida boa no Afeganistão que é minha terra natal”, revela. No entanto, para Mohammed, ser obrigado a abandonar a terra natal já não era novidade. Ele foi forçado a sair do Afeganistão pela primeira vez junto de sua família quando tinha apenas 2 anos de idade. 

O pai dele, ex-soldado, não era mais bem-vindo no país, tomado por um novo regime à época. A família viveu no Irã até retornar em segurança à terra natal no início dos anos 2000. Ele não imaginava que, vinte anos depois, precisaria escapar do Afeganistão para sobreviver mais uma vez.  

Formado em direito, Mohammed trabalhava em uma organização da sociedade civil que, entre outras causas, defendia os direitos das mulheres. Foi após um evento em homenagem ao Dia da Mulher que ele passou a ser perseguido. 

Mohammed viu no visto humanitário do Brasil a chance de recomeçar a vida num lugar seguro. ©Leonardo Medeiros

Do trabalho com direitos humanos a condições exploratórias 

Lutando pela própria vida, o jovem deixou tudo par atrás depois que recebeu uma ligação de um vizinho avisando que policiais estavam em frente o lugar onde ele morava. “Eu não voltei para casa. Fui para o Irã sem nada”, lembra. Ele encontrou a chance de sobreviver primeiramente no país vizinho, antes de acabar vindo para o Brasil. 

Depois de Mohammed ir para o Irã, a família dele também seguiu para o país vizinho, incluindo o irmão mais velho, especialista em administração de negócios, e uma de suas irmãs, que estudava medicina até ser proibida de frequentar a universidade. Nenhum deles pôde mais seguir a profissão de seus estudos. 

Por dois anos, Mohammed viveu no Irã, onde relata ter enfrentado discriminação e restrições com relação a documentação e trabalho formal. “As pessoas do Afeganistão não eram bem recebidas no Irã.” Ele ganhava pouco dinheiro mesmo com uma rotina exaustiva. “Para mim, restou trabalhar com reciclagem de plástico, em condições insalubres e exploratórias. Eu começava às 6h e terminava às 20h”, desabafa. 

“Eu estou muito feliz de estar no Brasil e espero que eu e minha família possamos construir uma vida aqui com esse povo tão gentil.”

O visto humanitário e a esperança de uma vida no Brasil 

A perspectiva mudou quando Mohammed ouviu falar sobre a possibilidade do visto humanitário oferecido pelo Brasil a pessoas afegãs por meio da embaixada em Teerã. Fundamental para garantir a segurança desta população e direitos em território nacional, o visto humanitário é um instrumento de ajuda internacional do Brasil a pessoas de nações onde há grave e generalizada violação de direitos humanos. 

Mohammed mostra foto dos familiares que ficaram no Irã. ©Leonardo Medeiros

Mohammed chegou ao Brasil sozinho e sonha poder reestruturar a vida. “Quero arranjar um jeito de trazer minha família para cá”, revela. “Neste momento, o que aguardo é a possibilidade de reunir minha família que ficou para trás e poder viver em paz”, afirma. 

No terminal de desembarque do Aeroporto de Guarulhos, uma intérprete informou a ele e outros afegãos que famílias com filhos seriam transferidas para um abrigo gerido pelo ACNUR e pela ONG Aldeias Infantis.  

Solteiro, ele ainda aguardaria por uma vaga em abrigo e pela oportunidade de recomeçar a vida no Brasil, país que ainda não teve tempo de conhecer, mas onde diz estar conhecido brasileiros gentis e tem esperança de se reunir com seus entes queridos no futuro. “Eu estou muito feliz de estar no Brasil e espero que eu e minha família possamos construir uma vida aqui com esse povo tão gentil.” 

A Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) lidera a resposta emergencial de acolhida a pessoas refugiadas do Afeganistão no Brasil, fornecendo abrigo, ajuda humanitária, aulas de português e apoio para que elas se integrem ao país. Você pode fazer parte dessa missão: saiba mais e doe agora. Não perca também a chance de aquecer o coração de refugiados recém-chegados e deixe uma mensagem de boas-vindas para eles. 

Por Leonardo Medeiros 

acnur.org

www.miguelimigrante.blogspot.com

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