sábado, 9 de março de 2019

Paroquianos se mobilizam para acolher famílias venezuelanas em São Paulo

móvel alugado pela Pastoral do Migrante e a Paróquia Santa Cruz vai receber venezuelanos
Bolo, leite, café e suco na mesa, mantimentos na dispensa, camas arrumadas e muita expectativa. Já está tudo pronto na casa preparada pelos agentes da Pastoral do Migrante da Paróquia Santa Cruz de Itaberaba, na Região Episcopal Brasilândia, para acolher um grupo de imigrantes venezuelanos que irá chegar a São Paulo na sexta-feira, 8.
O imóvel de dois quartos, sala, cozinha, banheiro, área de serviço e quintal, localizado na Freguesia do Ó, na zona Noroeste da Capital Paulista, foi alugado após uma mobilização dos paroquianos. A casa foi mobiliada com doações, assim como os alimentos e utensílios domésticos. O aluguel e as despesas com água e energia elétrica serão pagos pelo Serviço Pastoral do Migrante (SPM), enquanto a comunidade arcará com as demais despesas do dia a dia.

INTERIORIZAÇÃO
Esses imigrantes fazem parte do “Plano Nacional de Integração Caminhos de Solidariedade: Brasil & Venezuela”, promovido pela Caritas Diocesana de Roraima, com a Cáritas Brasileira, o Instituto de Migrações e Direitos Humanos (IMDH), o Serviço Pastoral do Migrante, o Serviço Jesuíta para Migrantes e Refugiados (SJMR), com o apoio da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), para agilizar o processo de interiorização, integração e acolhida dos migrantes em pelo menos 90 dioceses do Brasil, dentre elas a Arquidiocese de São Paulo.
Os primeiros que serão acolhidos são um casal com três crianças e dois rapazes. Eles ficarão na casa por até seis meses, enquanto procuram emprego e condições de se estabilizar na cidade. O grupo terá a oportunidade de participar do curso de Língua Portuguesa oferecido na Paróquia. “Assim que eles conseguirem emprego, nós ainda vamos ajudar por quatro, cinco meses com cesta básica até que eles se organizem”, explicou ao O SÃO PAULO, Darialva Linge, coordenadora da Pastoral do Migrante da Paróquia Santa Cruz.

EXPECTATIVA
Darialva comparou sua expectativa pela chegada do grupo a de uma “noiva esperando o noivo e preparando a casa”. Quase todos os dias, ela visita o imóvel para ver se está faltando alguma coisa. Ela fez questão de preparar o bolo e o café para a reportagem para mostrar que lá já há tudo para ser um lar provisório para essas famílias. “Essas pessoas tiveram que deixar sua casa e tudo o que tinham para tentar uma vida nova em outro país, com outra cultura”, acrescentou, referindo-se à crise político-econômica agravada no país vizinho.
A coordenadora da Pastoral contou que, a princípio, no lugar dos dois rapazes que chegarão, viria outra família com crianças. No entanto, alguns dos filhos do casal ainda não atravessaram a fronteira. Por isso, o casal decidiu permanecer em Roraima até que toda a família esteja reunida. “Há casos de homens que deixam mulher e filhos na Venezuela e vêm para o Brasil primeiro para conseguir emprego e moradia e depois tentam trazer a família. É uma situação muito difícil”, completou Darialva.

PRIMEIRO PASSO
Os membros da Pastoral do Migrante confiam que esse é o primeiro passo e esperam que a iniciativa inspire outras paróquias a se mobilizar na acolhida de migrantes. Enquanto mostrava a casa para a reportagem, Darialva já imaginava conseguir doações de brinquedos e preparar um espaço no quintal para as crianças, pensando nas próximas famílias que passarão pelo imóvel. “Queremos que eles se sintam em casa. São nossos irmãos”, disse.
Para Dom Devair Araújo da Fonseca, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Episcopal Brasilândia, a iniciativa é uma oportunidade de a comunidade tomar consciência da realidade difícil vivida pelos venezuelanos e de se comprometer com a situação dos irmãos do país vizinho. “Concretamente, percebemos a ação de uma Igreja ‘em saída’, que vai ao encontro daquele que precisa e o acolhe, sempre recordando que Jesus, Maria e José também foram migrantes em terra estrangeira e foram acolhidos”.
Padre Edemilson Gonzaga, Pároco da Paróquia Santa Cruz, reforçou que a comunidade está fazendo aquilo que foi pedido pelo Papa Francisco: abrir as portas para aqueles que necessitam. “Nós queremos acolher aqueles que vêm, pois somos todos migrantes a caminho do Reino de Deus”, concluiu.

(Colaborou: Jenniffer Silva)
 
Jornal o São Paulo

www.miguelimigrante.blogspot.com

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