sexta-feira, 20 de setembro de 2024

Defensoria quer revogação de medida que impede ingresso de imigrantes sem visto

 

A Defensoria Pública da União (DPU) se manifestou pela revogação das regras que impedem que imigrantes sem visto desembarquem no Brasil.

O órgão enviou uma nota técnica ao Ministério da Justiça com o posicionamento. A DPU entende que a medida é ilegal e pode ainda piorar a condição dos imigrantes.

A regra começou a valer a partir de 26 de agosto e visa impedir fraude no uso da Lei do Refúgio e o uso do Brasil como rota para imigração ilegal.

De acordo com a determinação do governo, imigrantes sem visto deveriam retornar à origem do embarque ou seguir até o destino.


Entretanto, a avaliação da DPU é que as justificativas do ministério se baseiam em “premissas frágeis, de um ponto de vista factual, e, juridicamente, é ilegal e violadora de direitos”, conforme conta na manifestação.


Para a DPU, não houve diálogo institucional para discutir a medida. O órgão ainda reitera que, após a adoção das regras, “constatou que as situações de violação de direitos permanecem, inclusive com risco à saúde e integridade dos migrantes, que continuam passando dias e semanas na área restrita à espera de alguma solução”.

A nota ainda explica que acolher esses imigrantes, que são vítimas de rede de tráfico de pessoas, poderia auxiliar em investigações.

Além disso, o documento aponta violação a convenções internacionais e lei de refúgio brasileira.


“Uma pessoa poderá requerer refúgio caso chegue ao Brasil com documentos falsos, sem visto, escondida em um navio ou nadando até a costa. Essa proteção é essencial à própria natureza do instituto do refúgio, na medida em que as pessoas estão comumente fugindo de guerras, perseguições étnicas, religiosas etc. Desse modo, é ilegal exigir regularidade nos documentos do viajante no momento da chegada”, aponta a Defensoria.

Por fim, a DPU acredita que “as medidas anunciadas podem estimular trajetos ainda mais perigosos de migração e dar espaço aos coiotes”.

Como alternativa, ainda propõe, entre outras medidas, o ingresso no país das pessoas atualmente retidas no Aeroporto de Guarulhos (SP), prazo máximo de 24 horas para permanência na área restrita do aeroporto e a criação de uma força-tarefa para aumentar a capacidade de atendimento.



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quinta-feira, 19 de setembro de 2024

Conhecimento ajuda a acolher migrantes

 

A produção de conhecimento sobre migrantes e refugiados vem crescendo no interesse de formandos da Universidade Federal da Bahia (Ufba), ao acrescentarem à iniciativa do reitor Paulo Cézar Miguez, incentivador da política de cotas para integrantes do público recém-acolhido no Brasil.

A mais nova monografia de uma coleção em escalada é de autoria da bacharelanda em Estudos de Gênero e Diversidade, Larissa Ferreira Gonçalves, “A construção do Programa de Intervenção Social da Ufba e os desafios da educação para a realidade migratória”, um estudo inédito produzido com análise qualitativa de dados confiáveis fornecidos pela Secretaria de Educação do Estado da Bahia.

Larissa é bolsista do Núcleo de Apoio a Migrantes e Refugiados da Ufba e estudante do Núcleo de Estudos Interdisciplinares da Mulher (Neim). Orientanda da professora titular Mariângela Nascimento, respeitada por seu trabalho em Hannah Arendt, Larissa destaca o fato de a Ufba vir obtendo êxito no planejamento e execução do objetivo de articular uma rede visando proteger os migrantes.

- Um dos principais eixos do trabalho de conclusão de curso está relacionado ao ensino e aprendizagem do português como língua de acolhimento, verificando-se as facilidades e dificuldades das 41 nacionalidades presentes, desde as mais simples, como a portuguesa, a venezuelana e a espanhola, as mais distantes, a exemplo dos afegãos, afirma.

Diante de um contexto no qual a tendência de aumento no fluxo migratório está diretamente proporcional às crises econômicas e políticas, o trabalho ganha força como alerta à importância de complemento da formação de professores envolvidos no acolhimento.

Uma das mais respeitadas instituições de saúde da Bahia, o Hospital Aristides Maltez, e uma referência em tratamento de câncer no país, alerta para o perigo e letalidade do câncer de mama, quando não se presta a ele a devida atenção. A direção da unidade anunciou uma campanha de atividades para para o tema no Outubro Rosa. A programação consta de palestras, panfletagens e distribuição de conteúdos por meio digital, no próximo dia 5 de outubro. Estarão presentes equipes de profissionais da área de mastologia, acompanhados de anestesiologistas e técnicos anestesistas, além do pessoal da enfermagem.

//atarde.com.br/

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quarta-feira, 18 de setembro de 2024

Alerj: Projeto de Lei prevê cota de 5% para refugiados e resgatados

 


Estado do Rio – Refugiados e pessoas encontradas em condições análogos à escravidão podem ter garantido 5% das vagas de emprego nas empresas prestadoras de serviço ao Estado do Rio de Janeiro. É o que prevê o Projeto de Lei 1.095/23, do deputado Júlio Rocha (Agir), que a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) vota, em segunda discussão, nesta terça-feira (17). Caso receba emendas parlamentares, o texto sairá de pauta.

Os editais de licitação e os contratos deverão conter cláusula com esta previsão. O cumprimento do percentual de vagas valerá durante todo o período da prestação de serviços, sendo aplicado a todos os cargos oferecidos. Na hipótese de não preenchimento da quota, as vagas remanescentes serão revertidas em favor dos demais trabalhadores.
A medida valerá, inclusive, para as renovações e aditamentos contratuais. As empresas deverão comprovar que empenharam todos os meios cabíveis para o cumprimento da medida. No caso de descumprimento, as empresas estarão sujeitas à advertência e multa no valor mil UFIR-RJ, aproximadamente R$ 4.537,00.
Os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário poderão celebrar convênios com prefeituras e instituições da sociedade civil para implementação da norma. “A medida vem ao encontro de garantir os direitos fundamentais consagrados na Carta Magna àqueles que se encontram vulneráveis em sua condição humana. Com base no princípio da dignidade da pessoa humana, aprovar este projeto é concretizar os preceitos desse princípio”, comentou Júlio Rocha.

diariodovale.com.br/

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segunda-feira, 16 de setembro de 2024

Irã planeja deportar 2 milhões de refugiados afegãos

 


Foto: Mohsen Karimi/AFP/Getty Image

Após anos de crise econômica, frustração dos iranianos tem se voltado contra os migrantes afegãos. Sob pressão para agir, regime anuncia planos para deportar milhões de pessoas nos próximos meses.O regime iraniano pretende expulsar do país cerca de 2 milhões de estrangeiros sem documentação nos próximos seis meses. O anúncio foi feito na última terça-feira (10/09), pelo chefe da polícia do governo fundamentalista, Ahmad-Reza Radan.

Radan também disse que as forças de segurança e o Ministério do Interior estavam elaborando medidas para conseguir deportar "um número considerável de estrangeiros ilegais" a longo prazo.

Quando as autoridades iranianas falam de "estrangeiros ilegais", geralmente se referem a migrantes do Afeganistão. O Irã e o Afeganistão compartilham uma fronteira de 900 quilômetros de extensão, parte da qual passa por cadeias de montanhas altas e inacessíveis. Por mais de 40 anos, os afegãos fugiram para o Irã para escapar da guerra civil, da pobreza e, agora, novamente do Talibã.

"Os afegãos são pessoas cultas, mas nosso país não pode receber tantos migrantes", disse o ministro do Interior do Irã, Eskandar Momeni, em entrevista à agência de notícias estatal do Irã na segunda-feira.

Ele também destacou as dificuldades que as pessoas no Afeganistão enfrentam. "Planejamos lidar com essas questões de forma ordenada e sem muita confusão", disse ele. "Nossa prioridade são os migrantes irregulares".

Em maio, o Ministério do Interior anunciou que cerca de 1,3 milhão de migrantes irregulares já haviam sido deportados para o Afeganistão nos 12 meses anteriores.

ONU: Mais de 4 milhões de afegãos vivem no Irã

O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) estima que cerca de 4,5 milhões de afegãos vivem atualmente no Irã. No entanto, de acordo com agências de notícias iranianas, o número real pode chegar a 6 milhões ou 8 milhões.

Muitos não têm permissão legal para ficar, evitando se registrar por medo de serem deportados. Muitos também usam o Irã como via de passagem para tentar chegar à Europa.

Devido à similaridade dos idiomas, os imigrantes afegãos podem facilmente se misturar à sociedade iraniana e se manter com o apoio de outros imigrantes já estabelecidos. Muitos acabam como mão de obra barata na agricultura e em canteiros de obras.

Mas muitos cidadãos iranianos acreditam que os trabalhadores afegãos sem documentos saturaram o mercado de trabalho e constituem um fardo para o sistema de previdência social.

Um debate acalorado sobre o alto número de refugiados afegãos vem ocorrendo há meses. Quase diariamente, a mídia iraniana noticia crimes, como estupros e assassinatos, supostamente cometidos por refugiados, ou a escassez de alimentos básicos, como farinha e ovos, ou doenças infecciosas supostamente trazidas pelos migrantes irregulares. Petições pedindo a deportação de refugiados afegãos, bem como inúmeras mensagens de ódio, circulam regularmente online.

Defensores de migrantes afegãos são alvos de ódio

Pessoas como a jornalista iraniana e ativista dos direitos das mulheres Jila Baniyaghoob, especialista em Afeganistão, que se manifestam contra esses sentimentos hostis ou que denunciam as condições de vida precárias enfrentadas pelos afegãos também costumam ser alvos de ódio.

"Recebo constantemente mensagens de ódio e até ameaças de morte", disse ela à DW. "Eles querem me silenciar."

Baniyaghoob é uma das 540 sigantárias de uma petição a favor de mais solidariedade aos migrantes afegãos. O documento também foi assinado por jornalistas, advogados, artistas, médicos e ativistas.

O grupo questiona abertamente o que eles apontam ser uma campanha de ódio organizada contra os migrantes e adverte sobre os efeitos imprevisíveis que esse populismo pode ter: "Há muito tempo, este país sofre com uma crise econômica e má administração crônica. Desde o ano passado, as autoridades têm culpado os migrantes irregulares por problemas como o preço excessivo dos alimentos. Agora, elas estão sob pressão para agir e deportar em grande escala. Mas dificilmente conseguirão proteger a fronteira. Muitos migrantes retornarão. Esse problema não será resolvido com ódio."

Protestos e ataques

Nos últimos meses, várias cidades do país foram palco de protestos e ataques arbitrários contra migrantes afegãos. Nazar Mohammad Nazari, um jovem do Afeganistão, disse à DW que "os ânimos estão exaltados". Ele tinha esperança de uma vida melhor no Irã.

"Na verdade, cheguei a voltar para o Afeganistão", acrescentou. Segundo ele, ataques arbitrários a indivíduos afegãos têm se tornado comuns. "Eu não me sentia mais seguro."

Além de tais ataques, os migrantes estão sempre correndo o risco de serem presos e deportados. De acordo com relatos divulgados na mídia do país na semana passada, descendentes de afegãos nascidos no Irã, com documentos iranianos e pouco ou nenhum conhecimento sobre o Afeganistão, também estão sendo deportados.

O Irã também está construindo um muro ao longo de sua fronteira nordeste com o Afeganistão, um local frequentemente usado para travessias. Por enquanto, o governo planeja erguer um muro de concreto de 74 quilômetros de extensão, com 4 metros de altura e coberto com arame farpado. No entanto, dada a extensão da fronteira compartilhada, muitos duvidam que o muro reduzirá o número de travessias irregulares da fronteira.

terra.com.br

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sábado, 14 de setembro de 2024

Proteção Social é uma força na ação climática, aponta OIT

 


Novos dados revelam sinergias entre os objetivos socioeconômicos e ambientais; segundo as estatísticas, mais de metade de população global recebe proteção social; disparidades em função de gênero entre os fatores que retardam a expansão da cobertura de proteção social no mundo; Bolsa Verde, do Brasil, exemplifica a catalisação de ação climática através de uma iniciativa de proteção social.

A Organização Internacional do Trabalho, OIT, disponibilizou a edição 2024-2026 do Relatório sobre a Proteção Social no Mundo. O documento concentra-se na intersecção entre a proteção social universal e a ação climática para a transição justa. Os autores apontam para o papel catalisador da proteção social na adaptação a mudanças no clima e no avanço da justiça social.

O relatório identifica ainda lacunas na cobertura e financiamento e avança recomendações de medidas políticas, que visam contribuir para o progresso no caminho às metas da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável.

Metade do mundo com proteção, mas as mulheres em desvantagem

Os pesquisadores sugerem que o fortalecimento dos sistemas de proteção social e a sua adaptação a novas realidades requer ação política decisiva, particularmente nos países mais vulneráveis a mudanças climáticas, onde a seguridade é mais baixa.

Segundo o relatório, cerca de 52,4% da população global, atualmente, beneficia de pelo menos uma forma de proteção social. A proporção subiu 9,6% desde 2015.

O número representa uma marca importante no panorama global, sendo essa a primeira vez com mais de metade dos habitantes do mundo protegidos de alguma forma. No entanto, os autores apontam que o progresso é muito lento.

A este ritmo, diz o relatório, a cobertura do resto da população por uma prestação de proteção social levaria 49 anos até 2073.

Proporção de cobertura entre as mulheres

Além disso, a expansão da proteção social no mundo segue atualmente duas trajetórias de desenvolvimento divergentes. Por um lado, aponta o relatório, os países de rendimento elevado, ou 85,9%, estão cada vez mais próximos de usufruto de cobertura universal.

Já os países de rendimento médio-alto, 71,2%, e os países de rendimento médio-baixo, cerca de 32,4%, estão a dar passos na colmatação das lacunas de proteção.

Segundo o relatório, as disparidades de gênero na cobertura legal e efetiva a nível mundial continuam substanciais. A proporção de 50,1% mulheres efetivamente cobertas por pelo menos uma prestação de proteção social, fica atrás dos homens com 54,6%.

Já no caso da cobertura jurídica, apenas 33,8% da população em idade ativa está legalmente coberta por sistemas de segurança social. Além disso, ao desagregar os dados, observa-se que a proporção de cobertura entre as mulheres, com 28,2%, é dramaticamente inferior à percentagem com proteção entre homens com 39,3%.

Proteção Social como facilitador da mitigação e proteção ambiental

Entre várias formas em que as atividades no âmbito de proteção social podem facilitar a mitigação das alterações climáticas e a transição justa, o relatório salienta contribuições diretas para o apoio à preservação e restauração de sumidouros de carbono e recursos naturais.

Os exemplos incluem o pagamento por serviços ecossistêmicos, regimes de transferência condicional de dinheiro e programas de emprego público que podem ser concebidos para cumprir simultaneamente os objetivos de proteção social e ambiental.

Neste contexto, o relatório destaca o caso do programa Bolsa Verde, no Brasil. Entre 2011 e 2016, o subsídio distribuiu-se a 31.621 participantes, como um benefício adicional do programa Bolsa Família, com a condição de não participação em atividades perniciosas para o ambiente, em particular a derrubada ilegal de árvores na região de Amazonas.

Bolsa Verde

O relatório cita as análises que indicam a redução do desflorestamento de 22% comparado com as áreas sem beneficiários de Bolsa Verde. Deste modo, os ganhos significativos da redução de carbono foram gerados graças ao programa, contribuindo à proteção da Amazônia.

A nova versão de Bolsa Verde realiza pagamentos trimestrais a famílias residentes em Unidades de Conservação de Uso sustentável, em assentamentos ambientalmente diferenciados da Reforma Agrária, e em territórios ocupados por povos e comunidades tradicionais, como ribeirinhos, extrativistas, indígenas, quilombolas e outros.


Onunews


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sexta-feira, 13 de setembro de 2024

Política Lula diz que Brasil continuará a receber refugiados venezuelanos

 

Ricardo Stucker PR

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, nesta quarta-feira (11), que o Brasil continuará acolhendo os imigrantes venezuelanos que buscarem refúgio no país. Em entrevista à Rádio Norte FM, de Manaus, Lula disse esperar que o país vizinho “volte à normalidade”.

“O ministro das Relações Exteriores [Mauro Vieira] está com orientação e determinação da Presidência da República para que a gente trate com muito respeito as pessoas que estão vindo para o Brasil por necessidade de sobrevivência. Você sabe que o ser humano é meio nômade, quando ele não tem onde comer, quando ele não tem onde trabalhar, ele fica procurando outros lugares”, disse Lula.

“Essas pessoas que estão vindo para cá vão ter que ser bem tratadas e o governo federal tem a obrigação de ajudar o estado de Roraima a cuidar da educação dessa gente, a cuidar da manutenção dessa gente, porque nós não queremos que essas pessoas venham para cá e passem mais necessidade ainda do que já passava na Venezuela”, acrescentou o presidente.

Sem informar a data, Lula disse que vai visitar Roraima e conversar com o governador Antonio Denarium sobre o tema. “Para que a gente possa, definitivamente, tratar com muita responsabilidade e respeito esses milhares de venezuelanos que estão no Brasil. E eu espero que a Venezuela volte à normalidade e que essa gente possa voltar para a Venezuela o mais rápido possível”, disse Lula em referência à crise econômica e social e à instabilidade política no país vizinho.

Em julho, foram realizadas eleições presidenciais na Venezuela, em um pleito marcado por suspeitas de fraudes. Lula diz não reconhecer a reeleição do presidente Nicolás Maduro até que as autoridades do país apresentem as atas com os dados da votação por mesa eleitoral.

As cidades de Boa Vista e Pacaraima, em Roraima, são as principais portas de entrada de venezuelanos que buscam melhores condições de vida no Brasil. Para dar uma resposta humanitária às demandas que chegam pela fronteira, o governo brasileiro realiza a Operação Acolhida, em parceria com mais de 120 organizações nacionais e internacionais, sociedade civil e iniciativa privada.

Segundo dados da Organização Internacional para as Migrações (OIM), agência das Nações Unidas, 1.134.532 migrantes venezuelanos entraram no Brasil de janeiro de 2017 até julho de 2024. Desse total, 532.773 já deixaram o país.

A Operação Acolhida é estruturada em torno de três eixos: ordenamento de fronteira, acolhimento e interiorização. Entre abril de 2018 e março de 2024 mais de 125 mil pessoas foram beneficiadas pela estratégia de interiorização do governo federal. Parte dos imigrantes acabam ficando nos dez abrigos da operação distribuídos em Boa Vista e Pacaraima, mas, de acordo com os dados do governo, a população venezuelana fora dos abrigos aumentou 8% em janeiro deste ano.

agenciabrasil.ebc.com.br

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quinta-feira, 12 de setembro de 2024

Papa Francisco pede proteção à 'dignidade dos trabalhadores migrantes' em visita à Singapura

 

O papa Francisco pronuncia discurso em Singapura© Tiziana FABI

O papa Francisco fez um apelo nesta quinta-feira (12) por proteção à "dignidade dos trabalhadores migrantes", e a quem deve ser garantido um "salário justo", em um discurso para as autoridades de Singapura, última escala de sua longa viagem pela Ásia e Oceania.

"Faço votos que seja dada especial atenção aos pobres e aos idosos cujo trabalho lançou as bases da Singapura de hoje – como para proteger a dignidade dos trabalhadores migrantes, que tanto contribuem para a construção da sociedade e a quem deve ser garantido um salário justo", afirmou o pontífice argentino.

A etapa de 48 horas em Singapura, uma cidade-Estado de seis milhões de habitantes, é a última em sua longa viagem pela região Ásia-Pacífico, que começou na Indonésia, e pretende estimular o desenvolvimento da Igreja Católica no continente asiático.

Singapura tem 300 mil trabalhadores migrantes, a maioria procedentes de Bangladesh, Índia ou China, que em troca de baixos salários contribuíram para a construção dos imponentes arranha-céus e a infraestruturas da cidade.

Várias ONGs denunciaram o tratamento reservado das autoridades aos migrantes e pedem melhores condições de vida para o grupo.

Desde sua eleição em 2013, o papa argentino se posiciona como o fervoroso defensor dos direitos dos migrantes e refugiados.

"Estou muito feliz que o papa tenha escolhido falar sobre este tema", disse à AFP uma trabalhadora doméstica filipina, que não revelou o nome porque não tinha permissão de seu empregador. 

"Mesmo que não aumentem o meu salário, ao menos estou feliz em saber que o papa luta e reza por nós. Ele realmente tem um coração para os pobres", disse a mulher de 34 anos, que ganha cerca de 600 dólares de Singapura (US$ 460).

Um valor que contrasta com a renda bruta média em Singapura, 5.190 dólares de Singapura (US$ 3.985), segundo os dados de 2023 do Ministério do Trabalho.

- "Um papa que une" -

No final do dia, o papa presidiu uma missa no SportsHub, o estádio nacional da cidade, para 50 mil fiéis, alguns procedentes de países vizinhos como Índia, Vietnã, Hong Kong e Mianmar.

Francisco chegou ao estádio em um carrinho de golfe. Ele acenou e abençoou a multidão, em um ambiente tranquilo. Também ofereceu rosários às crianças, deu autógrafos e tirou selfies. 

"Francisco se preocupa mais com a humanidade e com o meio ambiente em geral. Eu o vejo como um papa que une as pessoas", disse à AFP Bena Onyaco, uma filipina que vive em Singapura há 20 anos, que vestia uma camisa com a frase "I Love Papa Francesco" ("Eu amo o papa Francisco"). 

Na manhã de quinta-feira, o papa de 87 anos foi recebido oficialmente no Parlamento, assim como pelo presidente Tharman Shanmugaratnam e o primeiro-ministro Lawrence Wong. Francisco recebeu uma orquídea branca com o seu nome, a flor símbolo do país.

No seu discurso, o pontífice destacou a importância de uma sociedade baseada na "justiça social" e "bem comum". Ele pediu aos líderes políticos que trabalhem na "melhoria das condições de vida dos cidadãos com políticas sobre a habitação pública, uma educação de elevada qualidade e um sistema de saúde eficiente".

Singapura, um Estado independente desde 1965, é um dos países mais desenvolvidos da Ásia, graças à sua indústria e tecnologia.

A maioria da população da ilha tropical é chinesa, mas também possui importantes minorias malaias, indianas e de outros países. Os cristãos representam 19% da população, de maioria budista.

O papa não mencionou as frequentes críticas ao país na área dos direitos humanos e do rigor de seu sistema judicial, que ainda aplica a pena de morte.

Apesar dos problemas de saúde e do ritmo intenso da viagem, a mais longa de seu pontificado, o líder da Igreja Católica demonstrou boa forma durante a viagem, desafiando as dúvidas sobre sua capacidade para suportar a jornada.

A viagem de 12 dias terminará na sexta-feira após um percurso de 33 mil quilômetros por quatro países: Indonésia, Papua-Nova Guiné, Timor Leste e Singapura.

cmk-arb/ebe/dbh/ag/fp/aa

msn.com

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quarta-feira, 11 de setembro de 2024

Mais de 2 mil migrantes escolheram Passo Fundo para viver nos últimos cinco anos

 


Francieli Alonso


Reprodução RBS TV / Divulgação
Comunidade venezuelana é a maior de Passo Fundo.

Cheia de esperança e em busca de uma vida melhor, a venezuelana Marianna Perez Acive veio para o Brasil há seis anos com o marido e os dois filhos. Ela lembra que a decisão de sair do país de origem foi difícil, mas necessária em função das dificuldades que viviam.

— Lá se você tinha comida para o café da manhã, não tinha para o almoço e se tinha pra almoçar, não tinha para jantar. Muitas vezes a gente ia dormir, sem nada no estômago. O pouco que tinha a gente deixava para as crianças. A vida está bem melhor aqui — lembra.

As mesmas dificuldades e sonhos fizeram a pedagoga e técnica de enfermagem Luisana Gonçalez, 37 anos, vir para o Brasil. Ela lembra que foi preciso deixar muitas coisas para trás para recomeçar ao lado da mãe e dos filhos de 12 anos e 16 anos.

— Deixei casa, emprego e parte da família. A saudade de lá é uma coisa que não se explica e emocionalmente eu acho que essa é a parte que não deixa a gente terminar de ser feliz — relata a venezuelana.

Luisana é presidente da Associação de Venezuelanos em Passo Fundo, cidade que recebeu mais de 2 mil migrantes nos últimos cinco anos, vindos de diversas partes do mundo. 

A comunidade venezuelana é a maior no município, com 1,5 mil famílias. Conforme a líder da associação, apesar das oportunidades, a vida de quem sai do seu país para viver em outro é repleta de desafios

— Além do idioma, tem toda a documentação, a adaptação, a parte das crianças, buscar o emprego, porque sem um trabalho você não consegue pagar as contas e ter o básico — explica.

Histórias como as de Marianna e Luisana são algumas das tantas que encontramos no norte do RS. A região é uma das mais procuradas por imigrantes e refugiados para recomeçar a vida. Nos últimos cinco anos, 56.822 mil estrangeiros entraram no Brasil pelo Rio Grande do Sul

Reprodução RBS TV / Divulgação
Marianna Perez Acive migrou da Venezuela para o Brasil com o marido e dois filhos.

Segundo dados do Sistema de Registro Nacional Migratório (Sismigra), foram quase 16 mil apenas no ano passado. Na lista das cidades gaúchas que mais receberam migrantes em 2023, cinco ficam nas regiões norte e noroeste (veja lista abaixo). 

Em quarto lugar no RS, Erechim é a primeira da região no ranking. Passo Fundo aparece como a sexta cidade gaúcha com mais registros migratórios em 2023.

O que esperam os migrantes 

São pessoas que precisaram deixar os países de origem por diferentes motivos, como a crise política e econômica. Todas chegam aqui com o mesmo objetivo, um futuro melhor.

— Eu vim em busca de oportunidades pra melhorar minha vida. Tenho saudade da Venezuela, da minha mãe, do meu pai. Já tem quase três anos que não vejo eles, mas precisei vir pra cá para ter um futuro melhor — disse o operador de supermercados José Lopes Garcia, que está há três meses em Passo Fundo.

Se as vagas de trabalho atraem os migrantes, a vinda deles para cá também ajuda a suprir a falta de mão-de-obra em diversas empresas, como é o caso de uma rede de supermercados de Passo Fundo, com cerca de 6 mil funcionários. Hoje, cerca de 300 são de outros países. 

A tendência é que esse número aumente nos próximos meses, como explica a psicóloga do setor de Recursos Humanos da rede, Stéfani Girardello.

— Essas pessoas têm uma tendência à adaptabilidade e resiliência extremamente altas. Então a gente consegue ver o desenvolvimento delas aqui muito mais acelerado — relatou. 

E é também com o sonho de proporcionar uma vida mais digna à família que o Eduardo Suarez deixou a Venezuela há um mês. 

Ele está regularizando a situação no Brasil e em busca de emprego. O objetivo é trazer a mulher e os três filhos pequenos que ficaram lá. Enquanto isso não acontece, ele precisa lidar com a saudade da família.

Reprodução RBS TV / Divulgação
De Gâmbia, Babu Gai vive em Erechim, no norte gaúcho, há 13 anos.

— Eu vendi minha moto pra vir pra cá. Parte do dinheiro eu deixei com a minha família, para o sustento deles. Eu queria muito eles aqui comigo, mas ainda não posso trazer — disse. 

Quem está na região há mais tempo garante que a migração possibilitou uma mudança radical — e também a melhora da qualidade de vida. 

— A vida está melhor. Eu cheguei na cidade sem nada, só uma mala e com um pouco de dinheiro para sobreviver — conta o costureiro Babu Gai, que veio da Gambia, um dos menores países da África, e vive há 13 anos em Erechim.

Acompanhe a série "Migração: um recomeço" 

A próxima reportagem da série será publicada na quarta-feira (11) e aborda como os municípios da região estão se adaptando à nova realidade e o que foi preciso fazer para acolher os migrantes e garantir serviços básicos, como saúde e educação. 


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