quarta-feira, 11 de setembro de 2024

Mais de 2 mil migrantes escolheram Passo Fundo para viver nos últimos cinco anos

 


Francieli Alonso


Reprodução RBS TV / Divulgação
Comunidade venezuelana é a maior de Passo Fundo.

Cheia de esperança e em busca de uma vida melhor, a venezuelana Marianna Perez Acive veio para o Brasil há seis anos com o marido e os dois filhos. Ela lembra que a decisão de sair do país de origem foi difícil, mas necessária em função das dificuldades que viviam.

— Lá se você tinha comida para o café da manhã, não tinha para o almoço e se tinha pra almoçar, não tinha para jantar. Muitas vezes a gente ia dormir, sem nada no estômago. O pouco que tinha a gente deixava para as crianças. A vida está bem melhor aqui — lembra.

As mesmas dificuldades e sonhos fizeram a pedagoga e técnica de enfermagem Luisana Gonçalez, 37 anos, vir para o Brasil. Ela lembra que foi preciso deixar muitas coisas para trás para recomeçar ao lado da mãe e dos filhos de 12 anos e 16 anos.

— Deixei casa, emprego e parte da família. A saudade de lá é uma coisa que não se explica e emocionalmente eu acho que essa é a parte que não deixa a gente terminar de ser feliz — relata a venezuelana.

Luisana é presidente da Associação de Venezuelanos em Passo Fundo, cidade que recebeu mais de 2 mil migrantes nos últimos cinco anos, vindos de diversas partes do mundo. 

A comunidade venezuelana é a maior no município, com 1,5 mil famílias. Conforme a líder da associação, apesar das oportunidades, a vida de quem sai do seu país para viver em outro é repleta de desafios

— Além do idioma, tem toda a documentação, a adaptação, a parte das crianças, buscar o emprego, porque sem um trabalho você não consegue pagar as contas e ter o básico — explica.

Histórias como as de Marianna e Luisana são algumas das tantas que encontramos no norte do RS. A região é uma das mais procuradas por imigrantes e refugiados para recomeçar a vida. Nos últimos cinco anos, 56.822 mil estrangeiros entraram no Brasil pelo Rio Grande do Sul

Reprodução RBS TV / Divulgação
Marianna Perez Acive migrou da Venezuela para o Brasil com o marido e dois filhos.

Segundo dados do Sistema de Registro Nacional Migratório (Sismigra), foram quase 16 mil apenas no ano passado. Na lista das cidades gaúchas que mais receberam migrantes em 2023, cinco ficam nas regiões norte e noroeste (veja lista abaixo). 

Em quarto lugar no RS, Erechim é a primeira da região no ranking. Passo Fundo aparece como a sexta cidade gaúcha com mais registros migratórios em 2023.

O que esperam os migrantes 

São pessoas que precisaram deixar os países de origem por diferentes motivos, como a crise política e econômica. Todas chegam aqui com o mesmo objetivo, um futuro melhor.

— Eu vim em busca de oportunidades pra melhorar minha vida. Tenho saudade da Venezuela, da minha mãe, do meu pai. Já tem quase três anos que não vejo eles, mas precisei vir pra cá para ter um futuro melhor — disse o operador de supermercados José Lopes Garcia, que está há três meses em Passo Fundo.

Se as vagas de trabalho atraem os migrantes, a vinda deles para cá também ajuda a suprir a falta de mão-de-obra em diversas empresas, como é o caso de uma rede de supermercados de Passo Fundo, com cerca de 6 mil funcionários. Hoje, cerca de 300 são de outros países. 

A tendência é que esse número aumente nos próximos meses, como explica a psicóloga do setor de Recursos Humanos da rede, Stéfani Girardello.

— Essas pessoas têm uma tendência à adaptabilidade e resiliência extremamente altas. Então a gente consegue ver o desenvolvimento delas aqui muito mais acelerado — relatou. 

E é também com o sonho de proporcionar uma vida mais digna à família que o Eduardo Suarez deixou a Venezuela há um mês. 

Ele está regularizando a situação no Brasil e em busca de emprego. O objetivo é trazer a mulher e os três filhos pequenos que ficaram lá. Enquanto isso não acontece, ele precisa lidar com a saudade da família.

Reprodução RBS TV / Divulgação
De Gâmbia, Babu Gai vive em Erechim, no norte gaúcho, há 13 anos.

— Eu vendi minha moto pra vir pra cá. Parte do dinheiro eu deixei com a minha família, para o sustento deles. Eu queria muito eles aqui comigo, mas ainda não posso trazer — disse. 

Quem está na região há mais tempo garante que a migração possibilitou uma mudança radical — e também a melhora da qualidade de vida. 

— A vida está melhor. Eu cheguei na cidade sem nada, só uma mala e com um pouco de dinheiro para sobreviver — conta o costureiro Babu Gai, que veio da Gambia, um dos menores países da África, e vive há 13 anos em Erechim.

Acompanhe a série "Migração: um recomeço" 

A próxima reportagem da série será publicada na quarta-feira (11) e aborda como os municípios da região estão se adaptando à nova realidade e o que foi preciso fazer para acolher os migrantes e garantir serviços básicos, como saúde e educação. 


gauchazh.clicrbs.com.br/passo-fundo

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