O fluxo de migrações internacionais para o Brasil, entre 2013 e 2022, resultou no nascimento de 129,8 mil crianças de mães imigrantes que chegaram ao país. O balanço foi feito pelo Observatório das Migrações Internacionais (OBMigra), vinculado ao Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), e foi apresentado em dezembro de 2023.
Ainda de acordo com o estudo, em 2022, a Polícia Federal (PF) registrou 1,2 milhão de registros de residência de longo termo e temporárias de migrantes, dez vezes mais ao observado no início do período.
O crescimento da população migrante jovem nos grandes centros urbanos reflete no aumento das conexões e expressões artísticas influenciadas culturalmente por diversas regiões do continente americano. De acordo com José Marcos Pinto da Cunha, em seu artigo “Migração e urbanização no Brasil: alguns desafios metodológicos para análise“, este intercâmbio estimula o desenvolvimento de novos grupos, comunidades e a procura do jovem em expor a sua individualidade.
“A tatuagem é uma afirmação de autoridade sobre o próprio corpo. Ela reafirma a autonomia e a identidade do indivíduo perante a sociedade. Em comunidades específicas, ela contrapõe o domínio do Estado perante comunidades. Ela passa um sinal claro de autodeterminação e escolha sobre o que fazer com o próprio corpo.”, explica Henrique Costa, tatuador.
Nascido na Zona Sul de São Paulo, Henrique começou a tatuar há 13 anos. Durante a sua trajetória, se especializou em tatuagens com inspiração latina. Conhecido pelos traços finos em preto e sombreamento, o estilo chicano foi influenciado pela migração mexicana nos EUA. Nos dias atuais, a tatuagem chicana representa diversos aspectos da cultura latina, inspirando aspectos culturais como música, moda, filmes e livros.
“Assim como o blues, a música rap e a moda de rua atual, o que conhecemos como a tatuagem moderna e a iconografia de diversos símbolos latinos devem-se muito aos migrantes mexicanos. A forma de tatuar com linhas finas e sombras começou em 1970, na California, e depois se ampliou para a cultura geral. Isso para apenas citar um dos inúmeros exemplos”, complementa Henrique.
Atualmente, as expressões culturais latinas crescem em São Paulo impulsionadas pela migração vinda ao país nos últimos anos. Grupos de rap como Blenzer e coletivos como o Otra Vida amplificam os aspectos culturais da migração latina.
“Quando me mudei para São Paulo, eu já gostava de reggaeton e outros estilos, mas, incrivelmente, quando vim para cá comecei a ter mais contato com outros aspectos do país que nasci, Bolívia. Entendi a universalidade de muitos símbolos e como eles me integram dentro da onde vivo e de onde eu vim”, finaliza Roberto Calizaya, estudante de 19 anos.
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