quinta-feira, 7 de março de 2024

A tragédia dos menores estrangeiros sozinhos: “11.810 crianças desaparecidas”

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Na Itália existe um buraco negro que engole dezenas de milhares de menores todos os anos. De acordo com o relatório do Comissário Extraordinário para as Pessoas Desaparecidas, em 2023 houve 29.315 pessoas que, de uma hora para outra, nunca mais voltaram para casa. Cerca de 21.951 denúncias de desaparecimentos (75%) foram de menores de 18 anos. E dessas, 17.535 foram apresentadas em relação a crianças e adolescentes estrangeiros. Trata-se de um enorme salto em relação a 2022, quando já tinham ocorrido 13 mil desaparecimentos. O fenômeno intensificou-se nos últimos anos, coincidindo com o aumento dos desembarques (a partir de 2015), ultrapassando amplamente os números relativos aos menores italianos.

Muitos foram encontrados posteriormente: 5.723 vivos, 2 infelizmente mortos. Mas ainda estão desaparecidos 11.810 jovens que chegaram à Itália sem acompanhantes: ninguém sabe onde foram parar. Um número que causa consternação e que não pode mais nos deixar indiferentes. Em 91% dos casos são do sexo masculino. Muitos fogem das casas de acolhimento e deixam a Itália para se juntar a familiares e amigos na França ou no Norte da Europa. A maioria são jovens de 17 anos (6.146 indivíduos) que se afastam espontaneamente de comunidades ou famílias de acolhimento. Muitos saem sem deixar rastros e acabam na ilegalidade: trabalham ilegalmente com a cumplicidade de alguns compatriotas e enviam o dinheiro para as famílias que permaneceram no país de origem.

Esse é o caso, por exemplo, dos egípcios: um fluxo que se intensificou nos últimos dois anos, dirigido sobretudo para a Lombardia e outras cidades do rico Norte. Eles desembarcam na Sicília ou entram na Itália depois de terem viajado pela rota dos Balcãs, depois de meses de viagem no meio de violência e privação. Eles são “treinados” para apresentar-se - assim que chegam à Itália - nas delegacias e quartéis dos ‘carabinieri’, para serem atendidos pelos serviços municipais locais. Depois muitos saem do radar e começam o seu próprio percurso de vida, nem sempre dentro dos limites da legalidade. O medo é justamente esse, isto é, que o exército de crianças perdidas se junte às fileiras do submundo ou, pior ainda, acabe vítima de tráfico sexual. Algumas fontes investigativas sussurram que há também o perigo de tráfico de órgãos, mas não há qualquer tipo de prova. Oficialmente, apenas 25 jovens estrangeiros dos desaparecidos em 2023 poderiam ter sido vítimas de um crime. Mas que fim todos os outros têm, continua sendo um mistério que ainda ninguém conseguiu decifrar.

Também considerando aqueles que por algum motivo, talvez burocrático, as estatísticas podem ter deixado de fora, os números documentam um cenário que deixa em aberto perguntas angustiantes.

Os menores estrangeiros desaparecidos provêm principalmente da Tunísia (3.362), Egito (2.861) e Guiné (2.589). Seguidos em ordem pela Costa do Marfim (1.572) e pelo Afeganistão (1.106). Origens diferentes, com um único denominador comum: nações muito pobres, nas quais a vida de uma criança ou de um adolescente pode ter um preço.

Para tentar lançar alguma luz sobre uma questão que permanece envolta quase em uma sombra no total, em dezembro de 2023 o Comissário para as Pessoas Desaparecidas assinou um protocolo de entendimento para o período de três anos com a Autoridade responsável pelas Crianças e Adolescentes, com o objetivo de trocar informações úteis para prevenir o fenômeno. A ideia, porém, não é limitar-se à fase de observação, mas implementar iniciativas concretas.

O tráfico de menores é uma das grandes emergências do nosso tempo, mas por trás dos números (impressionante) é difícil encontrar explicações plausíveis. Recentemente o filme “Som da liberdade” (pouco distribuído na Itália), tentou abordar o delicado tema relativo aos desaparecimentos de crianças e adolescentes na América do Sul, ligados à praga da pornografia infantil online. É baseado na história verídica de um ex-agente do FBI que conseguiu salvar uma criança sequestrada em Honduras. Um tema candente e doloroso, que esbarra nas hipocrisias e lógicas comerciais: segundo a produtora, mais de uma plataforma online recusou o convite para a distribuição do filme. Em suma, um tema tabu que até a Itália tem dificuldade para enfrentar.

A reportagem é de Marco Birolini, publicada por Avvenire, 06-03-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.

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