sexta-feira, 12 de maio de 2023

A voz dos refugiados palestinos chega ao Papa: a paz nunca esteve tão distante

 

O comissário-geral Philippe Lazzarini em audiência nesta quinta (11) com Francisco  (Vatican Media)

O destino dos refugiados palestinos estava na agenda do Papa Francisco desta quinta-feira (11), quando recebeu em audiência privada Philippe Lazzarini, comissário-geral da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados Palestinos, a UNRWA, que lamentou: "o conflito israelense-palestino e as condições de vida dos refugiados não são mais as prioridades da comunidade internacional".

No Vaticano "para trazer a voz dos refugiados palestinos", porque hoje há um sentimento na região de que a "comunidade internacional tenha virado as costas para os refugiados e não esteja mais interessada em tentar resolver esse conflito". Philippe Lazzarini, comissário-geral da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA), encontrou o Papa em uma audiência privada nesta quinta-feira (11) para falar sobre o "conflito mais longo do mundo" e para reiterar que "a paz nunca esteve tão distante como está hoje". Apenas nas últimas horas, os confrontos entre grupos armados na Faixa de Gaza e Israel recomeçaram de forma intensa, no terceiro dia de uma escalada que custou a vida de 25 palestinos, incluindo crianças. "A Santa Sé tem uma autoridade moral muito forte e hoje tem um papel para desempenhar na conscientização", disse Philippe Lazzarini em entrevista à Rádio Vaticano-Vatican News.

Diminuição dos recursos financeiros

Desde 2010, os principais doadores reduziram a ajuda à Agência. "Estamos em uma situação em que o conflito israelense-palestino não é mais uma prioridade. Isso também gera muita indiferença, especialmente no mundo árabe", lamenta o alto funcionário da ONU. As contribuições do mundo árabe representam cerca de 4% do total. Os Estados Unidos, o principal doador até a chegada do presidente norte-americano Donald Trump, suspenderam sua contribuição em 2018 e a retomaram em abril de 2021.

Sobre a difícil situação financeira em que a UNRWA se encontra, com recursos decrescentes por um lado e necessidades crescentes por outro, em um contexto dramático de inflação, Lazzarini não esconde suas preocupações: "a agência se encontra em uma situação absolutamente impossível. Pedem que atuemos como um Estado em termos de educação e saúde, mas não temos os recursos financeiros de um Estado e a própria situação financeira da Agência é a sua principal ameaça existencial". No próximo ano, a UNRWA, que começou como uma instituição temporária, vai celebrar 75 anos. É uma oportunidade para as Nações Unidas mobilizarem a comunidade internacional mais uma vez e retornarem às negociações para resolver o conflito mais antigo do mundo.

Duas narrativas irreconciliáveis

A UNRWA tem cerca de 30 mil funcionários, a maioria dos quais são palestinos. A Agência oferece educação básica e serviços de saúde a 5,7 milhões de refugiados palestinos no Líbano, na Síria, na Jordânia, na Cisjordânia ocupada e na Faixa de Gaza. Em seus 75 anos de existência, ela proporcionou acesso à educação a quase 2 milhões de palestinos.

Com relação às críticas de incitação à violência que são frequentemente feitas à UNRWA, Lazzarini deseja esclarecer: "muitas vezes, os ataques se concentram nos livros didáticos que são ensinados nas escolas da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, onde a Agência é erroneamente acusada de promover incitação à violência, quando tudo o que faz é aplicar o currículo palestino ou o dos países que hospedam os refugiados". A questão é que "a narrativa palestina obviamente não é a mesma que a narrativa da identidade israelense e que, em uma situação em que o conflito continua sem solução, é impossível conciliar as duas narrativas".

O direito ao retorno, uma utopia?

De acordo com uma resolução da ONU de 1972, os palestinos têm o direito inalienável de retornar às suas casas e propriedades das quais foram deslocados e desarraigados, enquanto que, de acordo com uma resolução da Liga Árabe de 1948, os países árabes que acolhiam palestinos não poderiam conceder-lhes cidadania. Para que o direito de retorno não seja uma utopia, "é necessário reiniciar um processo político, que hoje parece muito, muito distante", lamenta Philippe Lazzarini.

2022 foi o ano mais mortal desde 2004, com pelo menos 235 mortes durante as violências, 90% delas de palestinos. Este ano, pelo menos 132 palestinos, 19 israelenses e dois estrangeiros foram mortos em violência relacionada ao conflito israelense-palestino. Temos a impressão de que todos os dias", conclui o comissário-geral, "à medida que avançamos, na verdade regredimos em relação à perspectiva de um acordo político real que seja justo para todas as pessoas da região".

Vatican news

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