quarta-feira, 20 de maio de 2020

Conheça a história de estrangeiros que escolheram o Vale do Itajaí como lar

Em meados do século XIX imigrantes de diversas nacionalidades chegavam a região do Vale do Itajaí e deixavam seus legados ao ajudar a construir os municípios e costumes que conhecemos hoje. Pessoas que buscaram um recomeço em uma terra distante, com idioma diferente e criaram vínculos.
Atualmente, apesar de não haver um cadastro oficial de todos os imigrantes que residem no estado de Santa Catarina, é possível dimensionar através do Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico), do governo do Estado, que contava com 5.762 estrangeiros até dezembro do ano 
passado.

A seguir, você conhecerá a história de três estrangeiros que encontraram em Brusque e Blumenau um novo lar.

Da África para Brusque

Erasmo Jose da Silva é guineense. Guiné Bissau, país da África Ocidental possui uma população pequena, com apenas 1,6 milhão de pessoas. Apenas 15% da população fala português, enquanto o resto fala kriol, uma língua baseada no português. Há três anos em Brusque, ele optou por viver na cidade após conseguir um emprego como engenheiro de software em uma startup brusquense. “Optei por Brusque pelo trabalho e também por estar próximo de Florianópolis onde eu tenho primos morando”, afirma.

Erasmo em visita à Florianópolis. Foto: Arquivo pessoal
Ele diz ter se adaptado bem à cidade. Há dez anos no Brasil, Erasmo visitou seu país de origem recentemente. “Sinto muita saudade de Guiné Bissau porque é a minha casa, o lugar onde nasci e cresci, tendo os amigos de infância e os meus irmãos e irmãs. Saudades sempre eu tenho”, revela. O africano afirma que gosta de morar em Brusque e que recomendaria a cidade para outros estrangeiros.
Mate e fernet na terra do chope

O destino colocou o argentino Federico Damián Kowalewski no Brasil após uma visita da blumenauense Diani pela cidade de Cuzco, no Peru. Ele trabalhava em um bar de um hostel quando a conheceu, eles se apaixonaram, viraram namorados e aí surgiu o convite para morar em Blumenau. Federico é de Villa General Belgrano, pequena cidade de apenas cerca de 8 mil habitantes, na província de Córdoba. No município, predomina a colonização alemã e a arquitetura bávara, sendo uma das maiores colônias alemãs de toda a Argentina, será coincidência que o argentino ia morar em uma das cidades mais identificadas com a cultura germânica no Brasil?
Há três anos em Blumenau, Federico é professor de Yoga e diz que sua adaptação ao país foi tranquila. Ele esteve na Argentina em janeiro desse ano. “A Argentina é muito linda, tenho muitos amigos e família que me fazem sentir saudades”, relata.

Federico e a namorada. Foto: Arquivo pessoal

“A receptividade das pessoas é parecida (com a Argentina), mas percebo que em Blumenau às vezes não tanto. Eu sou de uma cidade bem pequena do interior de Córdoba e lá você conhece uma pessoa e em 20 minutos está tomando chimarrão na casa dela. Sei que isso acontece aqui no Brasil, talvez em Blumenau aconteça um pouco menos. A comida e hábitos alimentares são diferentes. Mas acredito que como latino-americanos temos mais semelhanças do que diferenças.”, sentencia.
Federico avalia Blumenau como uma cidade com “um bom equilíbrio entre cidade grande e cidade pequena” e destaca o acesso à natureza, boas condições de educação e possibilidades de trabalho como os principais pontos da cidade.

Como todo argentino, ele não abre mão de tomar o mate todos os dias. Já o fernet, tradicional drink argentino e muito popular em Córdoba que se bebe misturado com Coca-Cola, anda distante da vida do professor de Yoga, já que ele afirma ser difícil de ser encontrado em Blumenau. A cozinha brasileira conquistou o hermano que revela que hoje come mais como um brasileiro do que como um argentino. “Gosto muito da ideia do feijão, arroz e verdura”, conta.

Alemanha e Brasil, unidos em nome do amor

Uma história de amor também colocou o alemão Steffen Roß na região. Ele conheceu a hoje esposa Schayane, nos Estados Unidos e decidiu mudar-se para Brusque em 2012 após ter visitado a cidade em duas ocasiões. Steffen trabalha como professor de alemão em uma escola de idiomas e relembra que um dos principais obstáculos no seu início no Brasil foi a língua. “Eu nunca tinha feito aula de português e não falava nada do idioma. Mas no dia a dia e nas aulas eu fui aprendendo. Mas muitas vezes encontrei pessoas aqui que falavam alemão e pude me comunicar, isso também ajudou muito”, afirma.

Steffen e a esposa na Alemanha. Foto: Arquivo pessoal

Steffen conta se surpreendeu ao perceber que o uso de aquecedor nas casas brasileiras no inverno não é comum como na Europa. “Muitos alunos meus dizem que não gostam muito do verão daqui porque é muito quente. Na Alemanha, as pessoas gostam do verão. Entre maio e setembro os alemães viajam para países com temperaturas mais altas. Na Alemanha também as mudanças de clima são mais devagar, não tão rápidas como aqui”.

Natural de Aschersleben, cidade de 28 mil habitantes, ele esteve pela última vez na Alemanha no início de 2020. “Eu viajo para meu país todo ano, nas minhas férias e se for possível ir mais de uma vez. Tenho saudades não da Alemanha em si, mas sim da minha família e dos meus amigos, uso a internet para me comunicar com essas pessoas que fazem falta”.

O alemão diz que gosta de morar em Brusque. Ele lista diversos fatores para que se sinta em casa na cidade. “A qualidade de vida é boa, as praias não são muito longe, temos natureza ao redor”, elogia. Steffen também ressalta que os brusquenses são pessoas trabalhadoras, como os alemães.
 Entretanto, devido à instabilidade política que o país vive, segundo ele, atualmente não é o melhor momento para um estrangeiro se mudar para o Brasil. “As pessoas se tornaram politicamente mais radicais, não aceitando pessoas com opinião diferente. Muitos seguindo um presidente que em outros países felizmente não poderia se tornar presidente”, avalia.

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