terça-feira, 1 de outubro de 2019

Para os migrantes, Francisco sonha com uma grande política. E ele pede aos bispos propostas e não reclamações


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Os números do relatório da Caritas sobre a imigração desafiam a política das rejeições e pressionam aqueles que ficam satisfeitos com o bem protocolar. No Dia Mundial dos Migrantes e RefugiadosBergoglio reitera que o problema diz respeito a todos.


"Quero ouvir de vocês propostas concretas, não as reclamações de sempre." O Papa Francisco disse isso, conforme relato do cardeal Gualtiero Bassetti, presidente dos bispos italianos, na apresentação do 28º relatório de imigração da Caritas e da Fundação Migrantes, que mais uma vez joga no lixo uma montanha de palavras inúteis e superficiais que a política dedica ao problema atual da imigração.
As palavras do papa foram a resposta ao cardeal Bassetti, que o informava sobre o encontro sobre espiritualidade pela paz no Mediterrâneo, inspirado em Giorgio La Pira, a ser realizado em Bari de 19 a 23 de fevereiro de 2020. Está prevista a participação de bispos de pelo menos vinte países da EuropaÁsia e África, mas especialmente dos países que fazem fronteira com o Mediterrâneo. Entre os principais temas previstos estão os imigrantes, o desenvolvimento solidário, o diálogo e o testemunho do Evangelho.
Parece quase que a palavra de Francisco sobre os migrantes não gere mais manchete, tanto parece comum nas informações sobre a sua ação como pontífice. E, no entanto, ele é sempre capaz de considerar de forma diferenciada o problema que se tornou um desafio para a política mundial, abalada em sua calmaria pelo novo fenômeno em proporções e problemas abertos por imigrantes e refugiados. O papa está convencido de que apenas uma política grande e de longo prazo possa resolver problemas graves, como a emigração.
De acordo com os dados mais recentes da ONU, 257,7 milhões de pessoas em todo o mundo vivem em um país diferente do país de origem. De 2000 a 2017, a população que deixou o próprio país de origem aumentou 49%. Por outro lado, 39,9 milhões de cidadãos estrangeiros residem dentro das fronteiras da União Europeia com 28 Estados-Membros. Um aumento de 3,5% em relação a 2017. A Itália conta com 5.255.503 cidadãos estrangeiros regularmente residentes, igual a 8,7% da população total residente. Existem 841.719 estudantes estrangeiros em escolas italianas. Os dados do relatório mostram que 63% dos alunos com cidadania não italiana nasceram na Itália.
Esses números essenciais são suficientes para desmentir a retórica política que é feita sobre os imigrantes que visa ocultar ou manipular os dados, com o objetivo de incitar os ânimos descarregando sobre os imigrantes problemas congênitos do país. A direita italiana, em particular, continua a clamar ao "lobo" com políticas de interdição diante de um fenômeno que ultrapassa as fronteiras nacionais. Querem combater moinhos de vento, mas o medo nunca é uma solução para as causas de um problema.
Francisco sempre vem repetindo isso e lançou um percurso de solução razoável e concreta, resumido em quatro verbos: acolher, proteger, promover, integrar. Até agora, nenhuma política na Itália se moveu para harmonizar e realizar com determinação e coragem esses quatro verbos. Até as políticas definidas como progressistas realmente temem a atração do populismo conservador que repete como um mantra o habitual refrão de fechar, punir, obstaculizar e rejeitar como a única maneira de colocar "primeiro os italianos". Na realidade, mesmo para os italianos nunca foram resolvidos os problemas de longa data, mesmo antes do fenômeno da migração crescer. Os imigrantes servem como uma distração de massa para justificar inadimplências e lacunas. Talvez seja por isso que o cardeal Bassetti reiterou que "é errado viver a imigração como um motivo de divisão do país" e que "a distinção entre nós e eles deve ser superada".
Francisco nunca deixou de considerar o problema dos imigrantes dentro de um horizonte que não é apenas mundial, mas também epocal. E ele tentou sugerir aos políticos uma visão ampla para soluções de grandes perspectivas, que fosse além dos pequenos ganhos eleitorais de cada um. "Comemoramos o Dia Mundial dos Migrantes e Refugiados", esclareceu ele no Angelus do Dia Mundial - para reafirmar a necessidade de que ninguém seja excluído da sociedade, seja ele um cidadão residente de longa data ou um recém-chegado". E um pouco antes, na homilia da Missa, ele citou um ponto de sua mensagem para o Dia de hoje: "O Senhor nos pede que reflitamos sobre as injustiças que geram exclusão, em particular sobre os privilégios de poucos que, para serem preservados, são custeados por muitos. O mundo de hoje é cada dia mais elitista e cruel com os excluídos. É uma verdade que causa dor: este mundo é cada dia mais elitista, mais cruel com os excluídos. Os países em desenvolvimento continuam a serem depauperados de seus melhores recursos naturais e humanos em benefício de poucos mercados privilegiados. As guerras afetam apenas algumas regiões do mundo, mas as armas para realizá-las são produzidas e vendidas em outras regiões, que depois não querem assumir a responsabilidade pelos refugiados produzidos por esses conflitos. Quem paga o preço são sempre os pequenos, os pobres, os mais vulneráveis, aos quais é impedido de se sentarem à mesa e se deixam apenas as migalhas do banquete”.
Francisco repete como um refrão que "não se trata apenas os migrantes". E é verdade: não se trata apenas de estrangeiros, se trata de todos os habitantes das periferias existenciais que, junto com os migrantes e refugiados, são vítimas da cultura do descarte. O Senhor nos pede para colocar em prática a caridade para com eles; ele nos pede para restaurar sua humanidade, juntamente com a nossa, sem excluir ninguém, sem deixar ninguém de fora”. O tema dos excluídos, do qual os migrantes são um aspecto simbólico, não pode encontrar soluções justas apenas em partes, mas em políticas fortemente solidárias capazes de criar um novo mundo e novas sociedades.

A reportagem é de Carlo Di Cicco, jornalista especializado em assuntos do Vaticano, publicada por Tiscali, 30-09-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
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