quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Comédia sobre refugiado é ovacionada em festival


Pelo segundo ano consecutivo, um longa que trata do tema dos refugiados é o mais ovacionado da programação do Festival de Berlim. 

Se no ano passado o documentário "Fogo sobre o Mar", de Gianfranco Rosi, levou o prêmio de melhor filme da mostra por seu relato pungente sobre a travessia dos imigrantes para a Europa, neste ano o assunto é abordado por meio da comédia. E mais uma vez, o tema dá a um filme a chancela de favorito ao Urso de Ouro, o principal prêmio da mostra alemã. 

"The Other Side of Hope", do finlandês Aki Kauriskmäki ("O Porto", "O Homem Sem Passado"), exibido na manhã desta terça (14) já entrega o tom cômico nas suas cenas iniciais: o refugiado sírio Khaled (Sherman Haji) aparece com o rosto coberto de carvão, camuflado sob a carga de um navio que aporta em Helsinki. 

Em terra, Khaled tem de se virar com a burocracia estatal para pedir asilo no país europeu, encontra trabalho num restaurante capenga e precisa ajudar a irmã, perdida em algum canto da Europa, a imigrar para a Finlândia -tudo contado sob um humor ácido. 

Kaurismäki, que compete pela primeira vez no festival embora tenha participado de mostras paralelas sete vezes, afirma que buscou construir uma empatia com a questão dos refugiados. 

"Todo mundo precisa ter sonhos. O meu é o de mudar a mente dos finlandeses e, quem sabe, dos europeus", disse o diretor de 59 anos, que foi aplaudido de pé ao chegar à coletiva de imprensa. "Quando os refugiados chegaram, meus compatriotas tiveram uma atitude intolerável: encararam como uma guerra, disseram que suas coisas seriam roubadas." 

Apesar da chave cômica, "The Other Side of Hope" consegue criar uma relação compassiva entre Khaled e Wikström (Sakari Kuosmanen), o finlandês que o tira das ruas e permite que ele trabalhe em seu restaurante, ainda que sem visto de permanência. 

Durante a coletiva, Kaurismäki rebateu uma pergunta, vinda de uma jornalista austríaca, a respeito de sua opinião sobre a "islamização da Europa". 

"Não vejo nenhuma islamização na Europa", disse. "O que sei é que em Sevilha, séculos atrás, pessoas de diferentes religiões conviviam e os negócios bem. Durante anos, a Europa teve um sistema democrático, que agora está caindo aos pedaços." 

O vencedor do Festival de Berlim será anunciado no sábado (18). Também compete pelo Urso de Ouro a produção brasileira "Joaquim", de Marcelo Gomes, que fará sua estreia em solo alemão na próxima quinta 
(16). 

(Folhapress)

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