segunda-feira, 27 de outubro de 2025

Scalabrinianas: 130 anos caminhando com os migrantes

Irmãs Scalabrinianas em ação na Angola. Foto: Arquivo Província São José - Europa 

 Irmãs Scalabrinianas em ação na Angola. Foto: Arquivo Província São José - Europa 

As Irmãs Scalabrinianas celebraram  no dia 25 de outubro 130 anos da fundação da congregação italiana. Elas estão presentes em 27 países e quatro continentes. Sua missão é levar a evangelização e acolher imigrantes que precisaram sair de seu local de origem por motivos de guerras, conflitos, clima ou pobreza, em busca de melhores condições em outro país..

Mariane Rodrigues – Vatican News 

Já se passaram 130 anos desde que a Congregação Irmãs Scalabrinianas foi fundada por São João Batista Scalabrini, em Piacenza, na Itália, cujo carisma inicial era o de acolher especificamente os migrantes italianos que viajavam do país europeu em busca de melhores condições de vida na América e muitos deles foram para o Brasil. Mais de um século depois, a migração continua entre os principais fenômenos sociais mundiais, especialmente pelos conflitos e guerras que não cessam e pelas mudanças climáticas, o que faz a missão das irmãs ser ainda mais essencial e ampla, amparando atualmente pessoas de todo o mundo que, forçadamente, buscaram outro país para sobreviver. 

As Irmãs Missionárias de São Carlos Borromeo, Scalabrinianas, comemoram no dia 25 de outubro 130 anos de fundação, mesmo dia em que se completam também 130 anos da chegada ao Brasil da Bem-aventurada e cofundadora das Scalabrinianas, Maria Assunta Caterina Marchetti. Em solo brasileiro, a freira italiana exerceu a missão até a sua morte, em 1º de julho de 1948. 

Assunta Marchetti, Irmã Scalabriniana que chegou ao Brasil há 130 anos. Foto: Arquivo da Congregação Scalabrinianas]
Assunta Marchetti, Irmã Scalabriniana que chegou ao Brasil há 130 anos. Foto: Arquivo da Congregação Scalabrinianas]

Atualmente, a congregação no Brasil atua por meio da Província Maria, Mãe dos Migrantes, e está presente nos estados do Amazonas, Ceará, Mato Grosso, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Rondônia, Roraima, São Paulo e no Distrito Federal. 

Além das obras sociopastoriais, como os centros de acolhimento, missões itinerantes, cataqueses, e presença de pastorais de mobilidade humana, as irmãs brasileiras socorrem e apoiam os migrantes e refugiados também nas áreas da saúde e educação, administrando três hospitais e quatro unidades do Centro de Atenção Psicossocial (Caps) no Rio Grande do Sul; e 12 escolas no estado gaúcho, no Paraná, em São Paulo e em Minas Gerais.

Para a Irmã Claudete Lidi Rissini, coordenadora do Serviço Sociopastoral das Scalabrinianas da Província Maria, Mãe dos Migrantes (América do Sul e África), no Brasil, tem-se observado um crescimento expressivo de mulheres e crianças em situação de extrema vulnerabilidade. A maioria saiu da Venezuela, Haiti, Cuba, Bolívia, Angola, República Democrática Congo, Síria, Somália, Marrocos, Tunísia, Moçambique, Nigéria, Congo, Equador, Peru e Egito. Assim, a migração no Brasil não se resume a países apenas da América do Sul, mas também da África. "A atual conjuntura migratória no país exige mais do que sensibilidade: demanda respostas ágeis, concretas, articuladas e sustentáveis", pontua ela. 

A Irmã Rissini considera que a realidade migratória no Brasil nos últimos anos tem se tornado cada vez mais complexas e os fluxos são marcados por migrantes e refugiados forçados a deixar o país de origem por causa das crises humanitárias, políticas e econômicas. 

Visita Canônica da Superiora Geral, Ir. Neusa de Fátima Mariano, à Missão Scalabriniana do estado de Roraima. Foto: Serviço de Comunicação da Província Maria, Mãe dos Migrantes
Visita Canônica da Superiora Geral, Ir. Neusa de Fátima Mariano, à Missão Scalabriniana do estado de Roraima. Foto: Serviço de Comunicação da Província Maria, Mãe dos Migrantes

"Como missionárias Scalabrinianas, nosso compromisso é assegurar que essas pessoas não sejam apenas acolhidas, mas reconhecidas em sua plena dignidade. Atuamos por meio de encaminhamentos legais para regularização migratória, acesso à saúde, empregabilidade e outras necessidades essenciais. Nossas casas de acolhida, programas de capacitação e apoio psicossocial têm proporcionado não apenas proteção imediata, mas também oportunidades de reconstrução de suas vidas. Muitos migrantes e refugiados conseguem construir seus projetos com autonomia, esperança e dignidade", afirmou ela. 

A ítalo-brasileira Eléia Scariot fez seus primeiros votos religiosos no Brasil, em Caxias do Sul, no ano 2000. Seu último trabalho no país foi no Ceará. A sua trajetória foi convertida para a Europa, onde atualmente exerce a função de vice-provincial da Província São José, com sede em Piacenza. 

Ela explica que atualmente a congregação está voltada, principalmente, para mulheres e crianças em situação de vulnerabilidade que foram forçadas a migrar para outros países por motivos de problemas climáticos, por causa de guerras e conflitos, e devido à pobreza. 

"A nossa missão é centrada nessa perspectiva fundamental e naquilo que o Papa Francisco abraçou durante o seu pontificado e agora o Papa Leão, que está dando continuidade a essa missão de acolher e integrar as pessoas migrantes. É uma missão da Igreja", afirma a missionária. 

Os centros de acolhimento, por exemplo, atendem os imigrantes em suas necessidades emergenciais, porém, posteriormente, os trabalhos são organizados de modo a inseri-los no lugar onde chegam. 

“É desde a acolhida, a promoção do cuidado, a proteção, até chegar à integração. É um desafio porque às vezes nos deparamos com políticas retrógradas e radicais no mundo inteiro”, expõe a irmã Scalabriniana. 

Acolher os imigrantes é acolher a Cristo 

Irmãs Scalabrinianas em ação em Siracusa, na Itália. Foto: Arquivo Província São José - Europa
Irmãs Scalabrinianas em ação em Siracusa, na Itália. Foto: Arquivo Província São José - Europa

 

Scariot lembra que, acolher aqueles que chegam em terras estrangeiras para fugir da fome, da violência e da falta da dignidade humana, é receber também o Cristo, que viveu o seu evangelho em função dos mais pobres e vulneráveis. Ela também recordou a passagem de Mateus, capítulo 35, quando o discípulo registrou as palavras de Jesus: “Tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me”.

“O carisma se renova e é muito atual e presente. Queremos continuar acolhendo em cada migrante o próprio Cristo que dizia: 'eu era imigrante e você me acolheu em sua casa'. [...]. Essa missão evangélica nos motiva. Muitas outras instituições trabalham com imigrantes, mas nosso diferencial é que fazemos porque o imigrante, para nós, revela a presença de Deus. É o cristo que vem a nós e nos pede para ser acompanhado, protegido e integrado na sociedade”, reflete Eleia Scariot. 

Ela explica que cada região do mundo tem particularidades quanto ao perfil dos imigrantes. Nos países europeus, como a Itália, a acolhida recai, sobretudo, para aqueles que fogem da guerra, a exemplo dos ucranianos. Essas diferenças regionais, de culturas e de motivações para a migração forçada são exemplos de que as ações da congregação abrangem a todos, sem distinção de país ou credo. 

"Para nós, o ser humano está em primeiro lugar. Acolhemos porque é ser humano e porque está em situação de vulnerabilidade. Muitas vezes são pessoas obrigadas a deixar a própria terra. Independente do lugar, é sempre um ser humano que leva consigo sua bagagem de esperança e de riqueza cultural", enfatiza ela. 

“Caminhar juntos... com migrantes e refugiados”

Desde o dia 16 de outubro até dia 9 de novembro, as irmãs realizam o XV Capítulo Geral, em Rocca di Papa, Itália. O tema deste ano é “Caminhar juntos... com migrantes e refugiados” e é inspirado na passagem bíblica: 'O próprio Jesus aproximou-se' (Lc 24,15).

Trinta e duas Irmãs se reúnem no Capítulo, representando as diferentes áreas de atuação missionária da Congregação. 

“Este Capítulo é de grande importância porque se realiza dentro de um contexto do Jubileu do Ano Santo e dos 130 anos da fundação da Congregação e, ao mesmo tempo, dentro de um contexto de grandes mudanças no qual estamos vivendo”, afirmou Irmã Neusa de Fátima Mariano, Superiora Geral das Irmãs Scalabrinianas. 

Congregação presente em 27 países

A Congregação Irmãs Sclabrinianas foi fundada em 25 de outubro de 1895, em Piacenza, no Norte da Itália, por São João Batista Scalabrini, que foi canonizado em 9 de outubro de 2022. 

Após as primeiras irmãs receberem de seu fundador os crucifixos de missões e professarem os seus votos religiosos, ele enviou quatro das pioneiras ao Brasil em missão denominada de “migrantes com os migrantes”. Dentre elas, Assunta Marchetti. 

Elas foram acompanhadas pelo Padre José Marchetti, cofundador. As irmãs prepararam crianças para a primeira Eucaristia e, ao longo da travessia do oceano, reanimaram a esperança dos companheiros de viagem. 

Naquela época, elas se dedicaram aos órfãos filhos dos imigrantes italianos levados pelo Pe. Marchetti. Posteriormente, expandiram as ações missionárias para as áreas da educação e saúde.

 As Irmãs Scalabrinianas estão presentes em 27 países e quatro continentes.

vaticannews.va/pt

www.miguelimigrante.blogspot.com

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