Por Adriana Novaes. Edição: Hysa Conrado.
Mais do que um espaço para completar os estudos, a Educação de Jovens e Adultos (EJA) tem se tornado um lugar de acolhimento e reconstrução para imigrantes e refugiados que chegam a São Paulo em busca de uma oportunidade para recomeçar a vida.
Reprodução/FacebookNas salas da EMEF Paulo Colombo, no Campo Limpo, Zona Sul da cidade, sotaques, histórias e trajetórias distintas se encontram e formam uma comunidade movida pela vontade de aprender e de pertencer.
Mesmo diante de cortes, da falta de divulgação e de dificuldades de acesso, a EJA segue sendo um ponto de apoio para homens e mulheres que deixaram para trás diplomas, carreiras e laços familiares. De acordo com a Secretaria Municipal de Educação (SME), somente no último ano, quase 2 mil imigrantes se matricularam nas unidades da EJA.
“O que a gente vê é que eles chegam tímidos, inseguros, mas com uma vontade enorme de aprender”, conta o coordenador Marcos Cesario, que acompanha a rotina da escola desde o início de 2025.
Na capital paulista, eles enfrentam o desafio de aprender um novo idioma, se adaptar à rotina de uma grande cidade, descobrir seus direitos e, aos poucos, reconstruir a vida.
“É muito bonito ver como a EJA vira um ponto de apoio. Aqui, o aprendizado e a vida caminham juntos. É um espaço de pertencimento, onde o que está em jogo não é só o estudo, mas o direito de existir e ser ouvido”, ressalta.
Lugar de recomeço
Entre as histórias que preenchem as salas da EMEF Paulo Colombo está a da cozinheira Marie Matilia, de 43 anos, haitiana que chegou ao Brasil em 2014, após o terremoto e a crise econômica que afetaram o Haiti. Ela escolheu São Paulo por influência dos seus dois irmãos que já estavam na cidade.
A estudante haitiana Marie Matilia./Crédito: Adriana Novaes
“O Brasil foi o único lugar que abriu as portas pra gente entrar como refugiado. Sempre fui fã do Brasil”, conta.
A jornada foi longa e desafiadora. Marie saiu do Haiti, passou pela República Dominicana e pela Argentina até chegar a São Paulo. Chegando aqui, não demorou para que seus irmãos voltassem para o país de origem da família. No início, ela enfrentou os obstáculos do idioma, do custo de vida e da solidão.
“Eu só entendia um pouco de espanhol. As pessoas percebiam que eu não era daqui, mas com o tempo fui aprendendo. No começo foi difícil, mas o brasileiro é acolhedor, minha maior dificuldade foi fazer os meus documentos e dos meus filhos, mas sempre aparecia alguém disposto a ajudar”, relembra.
Hoje, ela mora no Campo Limpo com os dois filhos. As crianças estudam em período integral e seu primogênito, pessoa com deficiência, faz o tratamento com acompanhamento especial na escola. Marie divide o tempo entre o trabalho, os cuidados com a casa e as aulas noturnas.
“Logo que cheguei, consegui um trabalho como cozinheira e então com muita luta fui conquistando minha casa própria”, conta.
No Brasil, Marie viu a oportunidade de concluir os estudos que ficaram incompletos no Haiti. “Aqui, decidi voltar a estudar porque quero mostrar pros meus filhos que nunca é tarde para aprender”, diz, com um sorriso.
Entre as histórias que preenchem as salas da EMEF Paulo Colombo está a da cozinheira Marie Matilia, de 43 anos, haitiana que chegou ao Brasil em 2014, após o terremoto e a crise econômica que afetaram o Haiti. Ela escolheu São Paulo por influência dos seus dois irmãos que já estavam na cidade.
“O Brasil foi o único lugar que abriu as portas pra gente entrar como refugiado. Sempre fui fã do Brasil”, conta.
A jornada foi longa e desafiadora. Marie saiu do Haiti, passou pela República Dominicana e pela Argentina até chegar a São Paulo. Chegando aqui, não demorou para que seus irmãos voltassem para o país de origem da família. No início, ela enfrentou os obstáculos do idioma, do custo de vida e da solidão.
“Eu só entendia um pouco de espanhol. As pessoas percebiam que eu não era daqui, mas com o tempo fui aprendendo. No começo foi difícil, mas o brasileiro é acolhedor, minha maior dificuldade foi fazer os meus documentos e dos meus filhos, mas sempre aparecia alguém disposto a ajudar”, relembra.
Hoje, ela mora no Campo Limpo com os dois filhos. As crianças estudam em período integral e seu primogênito, pessoa com deficiência, faz o tratamento com acompanhamento especial na escola. Marie divide o tempo entre o trabalho, os cuidados com a casa e as aulas noturnas.
“Logo que cheguei, consegui um trabalho como cozinheira e então com muita luta fui conquistando minha casa própria”, conta.
No Brasil, Marie viu a oportunidade de concluir os estudos que ficaram incompletos no Haiti. “Aqui, decidi voltar a estudar porque quero mostrar pros meus filhos que nunca é tarde para aprender”, diz, com um sorriso.
Na EJA, Marie encontrou acolhimento e motivação.
“Os professores têm muita paciência. O difícil não é o professor, é a gente mesmo, porque depois de adulto é mais complicado. Mas aqui todo mundo se ajuda, parece uma família. Quando alguém falta, os colegas mandam mensagem perguntando se está tudo bem, eu trago os meus filhos para a aula comigo”, conta.
Para ela, estar de volta à escola é um gesto de resistência e amor próprio. “Quando cheguei, me senti perdida, tinha acabado de me separar, sem saber por onde começar. Agora, sinto que pertenço. Aqui eu tenho amigos, tenho voz. Eu me sinto parte.”
Marie sonha em concluir o ensino fundamental e seguir estudando. “Penso em fazer gastronomia ou enfermagem. Quero trabalhar ajudando pessoas. O estudo é o meu caminho pra isso”, afirma.
E embora pretenda visitar o Haiti um dia, ela não pensa em voltar a morar lá. “É aqui que estou reconstruindo minha vida.”
Os obstáculos para permanecer na escola
Antes de ingressarem na EJA, muitos alunos passaram pelo programa Portas Abertas: Português para Imigrantes, criado pela Secretaria Municipal de Educação para facilitar o aprendizado da língua portuguesa e a integração de estrangeiros.
Desde 2017, o projeto já atendeu mais de 7 mil pessoas, segundo dados divulgados pela SME, mas perdeu força nos últimos anos em parte por conta do corte do Bilhete Único Estudante, que garantia transporte gratuito.
“A prefeitura não considera o Portas Abertas um curso regular, e muita gente simplesmente não tinha como pagar a condução”, explica Alessandra de Aguiar, professora do programa.
Atualmente, 18 escolas municipais oferecem o programa, distribuídas por regiões como Campo Limpo, Guaianases, Ipiranga e Capela do Socorro. Já a EJA é voltado para o ensino fundamental e está presente em 140 unidades da rede.
As inscrições são contínuas e podem ser feitas presencialmente nas escolas ou pelo portal da Prefeitura. Não é necessário apresentar todos os documentos na hora da matrícula, e as aulas são oferecidas nos períodos da manhã, tarde e noite.
“Eles vinham de longe, com muito esforço. Quando o bilhete acabou, o sonho de estudar também foi ficando mais distante”, destaca.
Mesmo com as dificuldades, professores e alunos se apoiam.
“A EJA é mais do que sala de aula. É um espaço de encontro. Eles se reconhecem uns nos outros, se ajudam, criam laços. É ali que o pertencimento acontece”, afirma a professora Aline Magna.
O professor de Ciências da EJA, Domingos Valério, lembra que, no início das turmas de imigrantes e refugiados, tudo era novidade. Ele preparou aulas em vários idiomas para se adaptar, mas os estudantes insistiram que o conteúdo fosse dado em português, pois queriam aprender o idioma o mais rápido possível.
Na EMEF Paulo Colombo, referência em acolhimento de refugiados na DRE Campo Limpo, esse sentimento de pertencimento se manifesta no cotidiano: nos intervalos, nas trocas de experiências e na solidariedade entre alunos e professores.
A escola se tornou um espaço de integração espontânea. “Muitos ex-alunos ajudam os novos que chegam, indicam conhecidos, traduzem documentos, explicam como funciona o transporte. A comunidade se apoia”, explica o coordenador Marcos Cesario.
Ele acredita que o grande desafio da EJA é resistir à falta de visibilidade e às condições de trabalho que impedem muitos de continuarem.
“Muitos começam empolgados, mas no meio do ano letivo conseguem um emprego com horários que não permitem estudar. A gente entende, mas é triste ver o quanto o trabalho e a sobrevivência acabam pesando mais que o sonho”, desabafa.
“Quando a gente olha para essas turmas, vê mais do que alunos. Vê vidas em reconstrução. A EJA é o início de uma nova história para muita gente”, resume Marcos Cesario.
https://periferiaemmovimento.com.br/
www.miguelimigrante.blogspot.com

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