quarta-feira, 31 de julho de 2024

Recomendação ao Amazonas assegura o atendimento a imigrantes, refugiados e apátridas

 

O Ministério Público Federal (MPF), o Ministério Público do Trabalho (MPT) e a Defensoria Pública da União (DPU) recomendaram ao Estado do Amazonas a adoção de providências administrativas necessárias para assegurar a manutenção e prorrogação do atendimento emergencial aos imigrantes, refugiados e apátridas no Centro de Convenções Vasco Vasques, em Manaus.

A recomendação visa à continuidade dos serviços prestados ao público pela Secretaria de Estado de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania (Sejusc), Polícia Federal, Receita Federal e pelas agências da Organização das Nações Unidas (ONU) e outras agências humanitárias. Entre os serviços, estão: expedição de protocolos de residência e refúgio e prorrogação de protocolo; emissão de CPF; retirada e solicitação de 2ª via de Registro Nacional Migratório; e a disponibilização de espaço infantil com dinâmicas educativas para crianças e adolescentes.

No prazo de 24 horas o Estado deve apresentar resposta escrita sobre o atendimento ou não da recomendação.

Os serviços deverão ser mantidos em unidade única até a reativação, ainda que provisória, dos atendimentos no novo prédio do Posto de Interiorização e Triagem (PITrig), devendo ser realizados, prioritariamente, em local de fácil acesso ao público-alvo dos atendimentos na capital.

Fonte: MPF

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terça-feira, 30 de julho de 2024

Tribunal da 11ª Região amplia debate sobre inclusão de refugiados no mercado de trabalho

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Foto: Ascom TRT11
CompartilheAutoridades, instituições com trabalho de campo, magistrados da Justiça do Trabalho 


Autoridades, instituições com trabalho de campo, magistrados da Justiça do Trabalho e especialistas trocaram conhecimentos na última quinta-feira (25/7), no evento “Trabalho Decente – Diálogos para a inclusão sociolaboral do migrante e refugiado”, realizado pelo Programa Trabalho Seguro (PTS) em conjunto com o Comitê de Combate ao Trabalho Escravo do Tribunal Regional do Trabalho da 11ª Região (AM/RR). O evento, que tem parceria da ONG Solidarity Center, foi realizado no prédio anexo à sede do TRT-11, na Avenida Tefé, bairro Praça 14, zona centro-sul de Manaus

O presidente do TRT-11, desembargador Audaliphal Hildebrando da Silva, destacou o cenário atual migratório na região que faz com que Roraima e Amazonas sejam a porta de entrada da maioria dos refugiados que chegam, principalmente, da Venezuela. “Em Roraima os venezuelanos aumentaram a população em mais de 50 mil pessoas. Esse crescimento populacional aconteceu aqui no Amazonas também. Eles precisam ser bem recebidos, conforme a Lei”, informou. Ele também reforçou que é papel do TRT-11 conhecer mais sobre as peculiaridades da Região e por isso, a importância de promover esse debate sobre os migrantes e refugiados.

Representante do Programa Trabalho Seguro no âmbito do TRT-11, o juiz do Trabalho Vitor Maffia, fez um diagnóstico da realidade encontrada entre os migrantes que buscam uma melhora de vida no Amazonas. “A gente percebe que muitos chegam aqui e quando conseguem um trabalho é por um emprego informal. O grande desafio é formalizar essas pessoas com toda a documentação necessária. No entanto, os direitos relativos a saúde e segurança do trabalho devem ser imediatamente implementados, independentemente da situação documental ou anotação em CTPS.”, frisou.

A juíza substituta do Trabalho e gestora regional do Comitê de Combate ao Trabalho Escravo, Stella Litaiff, defende uma convergência cada vez maior das entidades envolvidas no atendimento aos refugiados, justamente para promover o combate contra a informalidade. “Acredito que a partir deste evento haverá uma união maior de forças para promover a qualificação dessas pessoas para que elas possam regularizar sua situação.

As conversas iniciaram com duas palestras: O doutor em Relações Internacionais pela Universidade Federal de Roraima (UFRR), Fernando Xavier falou sobre “Migração Laboral no Mundo e no Brasil”, explicando porque é preciso haver a diferenciação entre refugiados (aqueles que fogem do seu país de origem por perseguição ideológica ou eventos climáticos) e migrantes (aqueles que buscam melhorar de vida em outro país). “Cada uma dessas categorias têm uma normativa própria e a fundamentação dessas normas é diferenciada”, disse.

A procuradora-chefa do Ministério Público do Trabalho da 11ª Região (MPT-11), Alzira Melo da Costa tratou do tema “Trabalho decente e a realidade migrante no Amazonas e em Roraima”. Ela destacou a situação excepcional da Venezuela ante outros países que são fonte de populações de refugiados. “Olhando os dados das Nações Unidas você vê que a Venezuela está em terceiro lugar. Todos os demais países estão em guerra, Ucrânia, Síria, Afeganistão”, comparou.

Após as palestras foi realizada uma mesa redonda com representantes do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), da Organização Internacional para as Migrações (OIM), Universidade do Amazonas (Usam), União Geral dos Trabalhadores (UGT), Organização Hermanitos e MPT-11.

A assistente de campo da Acnur, Juliana Serra, destacou a importância da participação da iniciativa privada. “Estamos sempre sensibilizando as empresas para a contratação dessas pessoas. Além disso, temos também várias parcerias que promovem este acolhimento, inclusive plataformas nacionais que direcionam as pessoas para acesso ao emprego. Estamos sempre abertos ao diálogo com as empresas”, afirmou.

cnj.jus.br

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sexta-feira, 26 de julho de 2024

Indústrias trocaram experiências sobre a contratação de migrantes em Maringá

 A Casa da Indústria de Maringá recebeu representantes da indústria e migrantes para o evento Diálogo com a Indústria: Integração e Empregabilidade de Migrantes. Promovido pelo Sesi Paraná e apoio da Organização Internacional para as Migrações (OIM), visou apresentar o programa Indústria Acolhedora, que objetiva contribuir para a empregabilidade nas indústrias do Paraná, promovendo a inserção socioeconômica de migrantes e refugiados no setor.

“O Indústria Acolhedora tem o intuito de trazer visibilidade à questão da inclusão da mão-de-obra da pessoa migrante aqui no estado do Paraná. A indústria paranaense pode se beneficiar de diversas formas na captação de talentos, existem vários profissionais altamente qualificados que estão disponíveis”, afirmou Fernando Mizote, coordenador do Conselho de Responsabilidade Social da Fiep. “Além disso, a diversidade, os conhecimentos e a visão de novas perspectivas aumentam a qualidade da inovação nas empresas que empregam a pessoa migrante”, completa.

Paulo Meneguetti, coordenador do Conselho Regional Noroeste da Fiep, também esteve presente e ressaltou a importância desse diálogo. “O Sesi apresentou ações de acolhimento dos imigrantes, especialmente dos venezuelanos, e ouvir as empresas foi importante para conhecer todo o processo de contratação e introdução dos migrantes nas empresas.”

Indústria Acolhedora

Recentemente o Sesi Paraná lançou o programa Indústria Acolhedora, uma resposta a uma demanda humanitária crescente, oferecendo suporte essencial para migrantes e refugiados que buscam reconstruir suas vidas no Brasil. Além disso, também aborda uma necessidade crítica do setor industrial paranaense: a falta de mão de obra qualificada. Ao promover a inclusão desses talentos, o Sesi Paraná contribui para o desenvolvimento sustentável e a melhoria da qualidade de vida, tanto dos indivíduos quanto das comunidades locais.

O Indústria Acolhedora atua como um facilitador na ligação entre pessoas migrantes em busca de oportunidades de emprego e as empresas que desejam diversificar suas equipes e aproveitar o potencial desses talentos.

Isso, por meio das expertises das diferentes casas do Sistema Fiep: o Senai qualificando os profissionais, o Sesi, tratando de questões sociocomportamentais junto aos migrantes, bem como preparando as indústrias que irão recebê-los, o IEL trabalhando com líderes, e a Fiep os conectando, promovendo a articulação entre parceiros. O programa busca promover a multiculturalidade e a inclusão social e econômica de migrantes e refugiados, contribuindo para um ambiente de trabalho mais diversificado, inovador e acolhedor.

Mariana Backhauser, da Backhauser, que também esteve no encontro dividindo a experiência na contratação de migrantes, vê como fundamental que o Sistema Fiep, como organismo que representa a indústria, tenha esse olhar para as questões sociais emergentes. “É fundamental que fomente, traga informação, conscientização, desmistifique dúvidas ou inseguranças e incentive que as indústrias busquem caminhos, porque são dores que juntas podem gerar resultado para os dois lados”, finaliza.

/agenciafiep.com.br/

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quinta-feira, 25 de julho de 2024

‘Muitos chegam sem nada’: o trabalho da Casa do Migrante em Foz do Iguaçu

 

Coordenadora do espaço explica como funciona o serviço, que funciona na Vila Portes – foto: Alexandre Palmar/H2FOZ

O que para muitos é considerado fardo, para a irmã Terezinha Maria Mezzalira é missão de vida: ajudar quem bate à porta, migrantes e refugiados, que muitas vezes chegam a Foz do Iguaçu de seus países “sem nada”. Ela foi entrevistada no programa Marco Zero, do H2FOZ e Rádio Clube FM 100,9.

Na pequena estrutura na Vila Portes, junto à “Feirinha” e ao terminal de ônibus, irmã Terezinha coordena a Casa do Migrante, inaugurada em 2008, dentro de uma visão do Ministério do Trabalho de manter o serviço em toda a faixa de fronteira brasileira. Só o espaço em Foz do Iguaçu perseverou.

A ação consegue ser mantida com solidariedade e uma rede de apoio. A comunidade doa alimentos, colchões e roupas, que chegam a quem precisa com a parceria estreita da Cáritas e do projeto Mãos Vivas. A Agência do Trabalhador intermedeia emprego, e a assistência social do município é chamada para vagas em abrigos.

“É um trabalho árduo e que requer muita doação”, contou, durante a entrevista, revelando que muitas vezes, diante tamanho sofrimento de pessoas, chega a pensar em desistir desse trabalho. “Mas não consigo parar, porque tem um ser humano na minha frente que precisa de ajuda”, reportou, com emoção.

Povos vizinhos

Antes, entidades internacionais repassavam alguma ajuda, o que foi direcionado para o Oriente Médio. No município, há protocolos de atendimento ao migrante e ao refugiado, porém não há recursos públicos, apontou a irmã, à frente da entidade que registra mais de 400 atendimentos mensais presencialmente.

A maior procura pela Casa do Migrante é de paraguaios, que representam cerca de 40% dos atendimentos, seguidos de venezuelanos e argentinos. “A vinda de pessoas da Argentina saltou nos últimos dias, porque muitos informais perderam seu trabalho e alguns que já viviam em situação de vulnerabilidade agora estão vindo recomeçar a vida aqui”, contou Terezinha Maria Mezzalira.

Olhar sensível

Ao Marco Zero, a coordenadora da instituição explicou que o migrante ou refugiado – em menor número na fronteira – chega em busca de uma vida melhor, mais segura e para proteger a própria vida e a da família, no caso dos que fogem de guerras ou perseguições. A situação política, social, econômica ou beligerante empurra as pessoas para fora de seus países.

“A maioria dos que chegam aqui querem ficar na região, precisam regularizar a situação de migrante para procurar trabalho”, relatou. Alguns buscam abrigo temporário ou estão de passagem, atravessando a fronteira para alcançar outros países ou retornar a eles.

Os cidadãos paraguaios que procuram a Casa do Migrante não demandam outros auxílios além da regularização da situação migratória, para trabalharem principalmente em meios rurais nas cidades do Oeste. Em geral, vêm de municípios mais rurais do país vizinho e não permanecem em Foz do Iguaçu.

“E tem os fronteiriços, que vêm e voltam todos os dias. Também representam um número elevado de atendimento”, mencionou a irmã Terezinha. A ajuda também impede a ação do chamado “gestor”, um intermediário que se vale da fragilidade dos migrantes, chegando a cobrar mais de R$ 1 mil por um simples agendamento, que é de graça.

A coordenadora descreveu a situação social em que filhos e netos de brasileiros que foram para o Paraguai na década de 1970, por exemplo, estão voltando ao Brasil. “Porque nunca foram proprietários, e hoje o dono da terra não precisa mais deles, a máquina faz tudo. Vêm de volta praticamente sem nada, muitos nem sequer sabem ler ou escrever”, enfatizou.

No Marco Zero, irmã Terezinha relatou particularidades de cubanos que chegam a Foz do Iguaçu, muitos com recursos, mas que entram no país com visto de turista, não conseguindo buscar suas famílias. São pessoas que geralmente têm nível elevado de ensino, falam vários idiomas e possuem boa formação.

Ela lamentou a condição de exploração a que são submetidos os venezuelanos durante o percurso migratório. “É sofrimento muito grande. São roubados no caminho. Tem meninas que chegam grávidas, porque são violentadas no caminho. Recebemos um migrante que passou por cinco países até chegar aqui só com a roupa do corpo”, sublinhou irmã Terezinha.

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quarta-feira, 24 de julho de 2024

As riquezas ignoradas do trabalho dos imigrantes

 

Tempo de leitura: 7 min

Vijay Prashad – Refugiados, que compõem 3,6% da população mundial, são fonte de sustento para as famílias que ficaram. Relatório aponta: remessas a seus países de origem cresceram 650% desde 2000. Precarizados no Norte, são alívio à pobreza de alguns países do Sul.

Todos os anos, a Organização Internacional para as Migrações (OIM) publica o seu Relatório Mundial sobre as Migrações. A maior parte destes relatórios são insignificantes, indicando um aumento secular da migração durante o período do neoliberalismo. À medida que os Estados das regiões mais pobres do mundo se viam sob o ataque do Consenso de Washington (cortes, privatizações e austeridade), e à medida que o emprego se tornava cada vez mais precário, um número cada vez maior de pessoas lançavam-se à estrada em busca de uma forma de sustentar as suas famílias. É por isso que a OIM publicou o seu primeiro relatório sobre as Migrações Mundiais em 2000, quando afirmava que “estima-se que há mais migrantes no mundo do que jamais existiu”. Foi entre 1985 e 1990, segundo os cálculos da OIM, que a taxa de crescimento das migrações mundiais (2,59%) ultrapassou a taxa de crescimento da população mundial (1,7%).

O ataque neoliberal às despesas públicas nos países mais pobres foi um fator determinante da migração internacional. Já em 1990, tinha-se tornado claro que os migrantes eram uma força essencial para garantir a entrada de moeda estrangeira nos seus países através do aumento dos pagamentos de remessas para as suas famílias. Em 2015, as remessas – principalmente da classe trabalhadora internacional – ultrapassaram três vezes o volume da Ajuda Pública ao Desenvolvimento (APD) e do Investimento Direto Estrangeiro (IDE). A APD é o dinheiro da assistência prestada pelos Estados, enquanto o IDE é o investimento realizado por empresas privadas. Em alguns países, como o México e as Filipinas, as transferências dos emigrantes da classe trabalhadora impediram a falência do Estado.

relatório deste ano revela que existem cerca de 281 milhões de pessoas em todo o mundo que vivem suas vidas de país em país atrás de oportunidades. Tal número representa 3,6% da população mundial. É o triplo das 84 milhões de pessoas que se deslocavam em 1970, e muito mais do que as 153 milhões de pessoas em 1990. “As tendências globais apontam para mais migrações no futuro”, observa a OIM. Com base em estudos detalhados, a OIM considera que o aumento da migração pode ser atribuído a três fatores: a guerra, a precariedade econômica e as alterações climáticas.

Em primeiro lugar, as pessoas fogem de guerras e, com o aumento dos conflitos bélicos, esta tornou-se uma das principais causas de deslocamento. As guerras não são apenas o resultado de divergências humanas, uma vez que muitos destes problemas seriam sanados se houvesse interesse na paz; os conflitos são exacerbados e transformados em guerra devido à imensa escala do comércio de armas e às pressões dos mercadores da morte para que se renuncie a medidas de paz e se recorra a armamentos cada vez mais sofisticados para resolver disputas. A despesa militar global atinge quase 3 bilhões de dólares, três quartos dos quais são gastos pelos países do Norte Global.Enquanto isso, as empresas de armamento obtiveram lucros colossais de 600 bilhões de dólares em 2022. Dezenas de milhões de pessoas são permanentemente deslocadas devido a este lucro dos mercadores da morte.

Em segundo lugar, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) calcula que cerca de 58% da força de trabalho global – ou 2 bilhões de pessoas – atuam no setor informal. Estas pessoas trabalham sob proteção social mínima e quase sem direitos no ambiente de trabalho. Os dados sobre o desemprego entre os jovens e a precariedade juvenil são impressionantes, e os números na Índia horripilantes. O Centro de Monitoramento da Economia Indiana mostra que os jovens da Índia – com idades entre os 15 e os 24 anos – são “confrontados com um duplo golpe de taxas de participação laboral baixas e em queda e taxas de desemprego chocantemente elevadas. A taxa de desemprego entre os jovens situou-se em 45,4% em 2022-23. Isto é um número alarmantemente seis vezes mais alto do que a taxa de desemprego da Índia de 7,5 por cento”. Muitos dos imigrantes da África Ocidental que tentam a perigosa travessia do Deserto do Saara e do Mar Mediterrâneo fogem das elevadas taxas de precariedade, subemprego e desemprego na região. Um relatório de 2018 do Grupo do Banco Africano de Desenvolvimento mostra que, devido ao ataque à agricultura global, os camponeses mudaram-se das zonas rurais para as cidades para serviços informais de baixa produtividade, de onde decidem partir em busca de melhores salários no Ocidente.

Em terceiro lugar, cada vez mais pessoas são confrontadas com os impactos adversos da catástrofe climática. Em 2015, na reunião de Paris sobre o clima, os líderes de governo concordaram em criar um grupo de trabalho sobre migração climática; três anos mais tarde, em 2018, o Pacto Global da ONU concordou que as pessoas que se deslocam por motivos de degradação climática devem ser protegidas. No entanto, o conceito de “refugiados climáticos” ainda não está estabelecido. Em 2021, um relatório do Banco Mundial calculou que, até 2050, haverá pelo menos 216 milhões de refugiados climáticos.

Riqueza 

O novo relatório da OIM salienta que estes migrantes – muitos dos quais levam vidas extremamente precárias – enviam para casa quantidades cada vez maiores de dinheiro para ajudar as suas famílias cada vez mais desesperadas. “O dinheiro que enviam para casa”, diz o relatório da OIM, “aumentou em impressionantes 650 [por cento] durante o período de 2000 a 2022, passando de 128 bilhões de dólares para 831 bilhões de dólares”. A maioria destas transferências no período recente, segundo os analistas, vão para países de baixo e médio rendimento. Dos 831 bilhões de dólares, por exemplo, 647 bilhões vão para os países mais pobres. Para a maioria destes países, as transferências enviadas para as famílias pelos emigrantes da classe trabalhadora ultrapassam largamente o IDE e a APD em conjunto e constituem uma parte significativa do Produto Interno Bruto (PIB).

Uma série de estudos realizados pelo Banco Mundial revelam dois aspectos importantes sobre os as remessas. Em primeiro lugar, que elas são distribuídas de forma mais homogênea entre as nações mais pobres. As transações de Investimento Direto Estrangeiro (IDE) favorecem normalmente as maiores economias do Sul Global e destinam-se a setores que nem sempre vão proporcionar empregos ou renda às camadas mais pobres da população. Em segundo lugar, aas pesquisas com os familiares mostram que estas remessas ajudam a reduzir consideravelmente a pobreza nos países de rendimento médio e baixo. Por exemplo, transferências efetuadas por migrantes da classe trabalhadora levaram a uma redução da taxa de pobreza em Gana (em 5%), Bangladesh (em 6%) e em Uganda (em 11%). Países como o México e as Filipinas vêem as suas taxas de pobreza aumentar drasticamente quando as remessas diminuem.

O tratamento dado a estes migrantes, que são cruciais para a redução da pobreza e para a criação de riqueza na sociedade, é escandaloso. São tratados como criminosos e abandonados pelos seus próprios países, que preferem gastar quantias vulgares de dinheiro para atrair investimentos muito menos impactantes através de empresas multinacionais. Os dados mostram que é necessário mudar a perspetiva de classe em relação aos investimentos. As remessas dos migrantes são maiores em volume e mais impactantes para a sociedade do que o “dinheiro quente” que entra e sai dos países e não “escorre” para a sociedade.

Se os migrantes do mundo – todos os 281 milhões – vivessem num mesmo país, formariam o quarto maior país do mundo, depois da Índia (1,4 bilhões), da China (1,4 bilhões) e dos Estados Unidos (339 milhões). No entanto, os migrantes recebem poucas proteções sociais e pouco respeito (uma nova publicação do Fórum Zetkin para a Investigação Social mostra, por exemplo, como a Europa criminaliza os migrantes). Em muitos casos, os seus salários são suprimidos devido à falta de documentação e as suas remessas são fortemente tributadas pelos serviços de transferência internacionais (PayPal, Western Union e Moneygram), que cobram taxas elevadas tanto ao remetente como ao destinatário. Até agora, existem apenas pequenas iniciativas políticas que apoiam os migrantes, mas nenhuma plataforma que una os seus números numa força política poderosa.

Fonte: As riquezas ignoradas do trabalho dos imigrantes – Outras Palavras

controversia.com.br/

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terça-feira, 23 de julho de 2024

No Brasil, refugiado sírio aproveita todas as oportunidades para prosperar em sua nova vida


Abdul percorreu um longo caminho desde o conflito na Síria até sua nova vida no Brasil, uma jornada facilitada pela política acolhedora do país sul-americano em relação aos refugiados e impulsionada por sua própria determinação e abraço alegre das oportunidades. 

“Quando cheguei aqui pela primeira vez, senti paz e tranquilidade”, lembrou Abdul, uma década após fugir de sua Síria natal, que então estava em plena crise. Abdul agora se sente tão em casa que se declara “BrazSírio: Sírio Brasileiro!” 

Abdul está entre os mais de 4 mil refugiados sírios acolhidos pelo Brasil desde que se tornou o primeiro país nas Américas a oferecer vistos humanitários especiais para aqueles que fugiam da Síria em 2013. Um processo simplificado de asilo significa reconhecimento rápido e integração dos refugiados, que atualmente somam cerca de 140 mil pessoas de países como Venezuela, Síria, Afeganistão e República Democrática do Congo. 

Durante uma visita ao Brasil em maio, o Alto Comissário Assistente para Operações da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), Raouf Mazou, elogiou o “compromisso do país com políticas inclusivas para refugiados”. O Brasil, segundo ele, é evidência de que “documentação, asilo e outras formas de proteção, combinadas com acesso a empregos, meios de subsistência, educação e saúde, são a melhor maneira de encontrar soluções”. 

Trabalho, futebol, diversão e serviço 

Abdul é a personificação do que essas soluções podem representar. 

Após fugir da Síria para o vizinho Líbano, ele ouviu falar do visto humanitário do Brasil e se candidatou rapidamente. “Quando colocaram o visto no meu passaporte, comecei a olhar para ele e pensar no Brasil. Esse visto me garantiu uma nova vida. Ele salvou minha vida”, disse Abdul. 

Apenas seis meses depois, ele era um refugiado reconhecido com documentação oficial que lhe permitiu começar a construir uma nova vida do outro lado do mundo. 

Vivendo na cosmopolita megacidade de São Paulo, Abdul aprendeu a falar português fluentemente — embora com forte sotaque árabe – e trabalha como assistente jurídico no Ministério Público Estadual, ajudando estrangeiros a obter documentação e serviços públicos.  

Ele passa as tardes administrando uma instituição de caridade que apoia refugiados e migrantes e dando palestras em escolas sobre suas experiências como refugiado. À noite, estuda direito. Em 2022, após se naturalizar cidadão brasileiro, Abdul até se candidatou a um cargo político, embora sem sucesso. 

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A casa de Abdul em São Paulo é decorada com objetos dos seus dois times favoritos - o Flamengo e o Corinthians - incluindo camisetas autografadas.

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Abdul conversa com jovens do ensino médio sobre sua experiência enquanto refugiado

Em meio a todo o trabalho, ele se certifica de encontrar tempo para jogar e assistir ao seu esporte amado, o futebol, inclusive organizando um torneio de futebol para refugiados em toda a cidade. Abdul trabalha duro, joga com afinco e se veste com elegância.  

Sua casa em São Paulo é decorada com lembranças de seus dois times favoritos — Flamengo e Corinthians — incluindo camisas de futebol autografadas, e ele se apaixonou pela música brasileira, tanto o samba quanto o rap, dançando e cantando junto. 

Retribuindo 

“Com o número de pessoas deslocadas à força em todo o mundo atingindo um recorde e o direito de buscar asilo ameaçado em muitas partes do mundo, a jornada de Abdul da Síria devastada pela guerra ao Brasil demonstra que conceder às pessoas acesso ao asilo e proteção internacional é um exemplo claro e tangível de solidariedade que, traduzido em ação, salva vidas”, afirma o Representante do ACNUR no Brasil, Davide Torzilli. 

Tendo recebido — e aproveitado — tantas oportunidades, Abdul diz que sua ambição agora não é ficar parado e descansar, mas sim “dar uma mão às pessoas que precisam”, de todas as maneiras possíveis: apoiando outros refugiados, assim como sua nova comunidade, e educando as pessoas sobre questões de refugiados. 

Por Luiz Fernando Godinho

acnur.org

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sexta-feira, 19 de julho de 2024

Seleção Olímpica de Refugiados vai competir em Paris; Atletas fugiram de seus países

 

Imagem de capa para Seleção Olímpica de Refugiados vai competir em Paris; Atletas fugiram de seus países
Atletas, que deixarm seus países, integram a Seleção Olímpica de Refugiados que vai competir em Paris. Foto: AP

Uma Seleção Olímpica de Refugiados, que reúne 26 atletas de 11 países, competindo em 12 modalidades, estará em Paris. São esportistas, que deixaram suas nações porque se sentiam perseguidos pelos mais diversos motivos. Superação é a palavra de ordem dessa turma.

A equipe foi criada para as Olimpíadas do Rio, em 2016, como esperança de dias melhores e alerta para situação dos refugiados. Em Paris, os atletas refugiados irão para Paris em um momento de migração recorde. As histórias que cercam esses esportistas são emocionantes.

Pela legislação internacional, são refugiados os que estão fora de seu país de origem por perseguição – seja por causa de raça, de religião, de nacionalidade, do grupo social, de opinião política, das violações de direitos humanos ou dos conflitos armados

Seleção Olímpica

A Seleção Olímpica de Refugiados reúne histórias lindas e emocionantes de superação. Pessoas que venceram as barreiras do idioma, da fome, da falta de esperança e, sobretudo do preconceito e da discriminação.

Fernando Dayán Jorge passou a infância voando entre barcos de pesca frágeis e casas, na baía próxima à sua casa em Cienfuegos, Cuba. Começou a praticar lá com seu pai, quando tinha 11 anos, ele disse que sente como se tivesse vivido mil vidas.

O canoísta de 25 anos foi duas vezes atleta olímpico da seleção cubana no Rio de Janeiro e em Tóquio. Depois, medalhista de ouro. Abandonou a equipe cubana e mora nos Estados Unidos, na Flórida.

“Ser escalado para as Olimpíadas de Paris de 2024 é uma oportunidade enorme”,  disse Fernando. “Há tantos cubanos que vêm para este país e perdem o sonho de competir novamente, simplesmente porque não sabem como voltar para este lugar.”

Quebra de paradigmas

A afegã Manizha Talash, de 21 anos, quebrou vários tabus no seu país. No Afeganistão, onde os talibãs –  muçulmanos radicais religiosos – dão as regras e fixam normas rígidas contra as mulheres, ela enfrentou a ordem. A atleta faz parte a equipe de break dance.

Dançar no Afeganistão é para homens apenas. “Estou aqui porque quero alcançar meu sonho. Não porque estou com medo”, afirmou Manizha, que mora em Madri, na Espanha.

A afegã salta, gira, faz movimentos com as mãos e os pés ao ritmo do hip-hop, balançando seu cabelo preto e vermelho antes de fazer uma pose sinalizando o fim de sua performance. Ela lembra que começou a dançar ainda no seu país – era a única numa turma de 55 meninos.

“O Talibã não gosta quando uma garota dança”, disse a atleta. “As meninas não podem fazer nada”, acrescentou.

sonoticiaboa.com.br/

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quinta-feira, 18 de julho de 2024

O Deserto do Saara, uma fronteira mortal para migrantes e refugiados

Foto Pixabay 

 Segundo um relatório da ONU publicado no dia 5 de julho, a viagem em que os migrantes e refugiados embarcam através do Saara é mais mortal do que a travessia do Mediterrâneo, portanto é uma das rotas migratórias mais perigosas do mundo. Acidentes, desidratação, fome e violência já causaram a morte brutal de mais de 1.000 pessoas no maior deserto quente do mundo nos últimos três anos.

Delphine Allaire - Cidade do Vaticano

Se o Mediterrâneo é um cemitério, o deserto é um calvário. Para efeitos deste novo relatório intitulado “Nesta jornada, ninguém se importa se você vive ou morre”, 32 mil migrantes e refugiados foram entrevistados pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), tonde descrevem ossos e cadáveres espalhados na areia e confidenciando seu medo de morrer durante a travessia. Vincent Cochetel, enviado especial do ACNUR para o Mediterrâneo Ocidental e Central, apresentou o relatório na sexta-feira, 5 de julho, em Genebra.

Porque é que a travessia do Saara parece ser mais perigosa do que a travessia do Mediterrâneo?

O primeiro perigo que os migrantes e refugiados nos falam diz respeito aos ataques de gangues criminosas e bandidos que os roubam, privando-os de todos seus pertences. Para as mulheres, existe um risco maior de violência sexual nestas rotas. Depois existe a violência por parte dos contrabandistas ou traficantes que obrigam as pessoas a fazer um certo número de coisas no caminho. Não é a bela viagem que foi prometida, mas extorsões, trabalho forçado e, por vezes, a exploração sexual. Os perigos também vêm das autoridades nos postos fronteiriços, de pessoas que abusam da sua posição para extorquir dinheiro destes infelizes migrantes e refugiados no deserto, e não apenas nas rotas que levam ao Norte de África ou depois à Europa por barco, mas também nas rotas que levam ao Norte da África ou depois à Europa por barco, também aquelas que vão para o interior e para o sul do continente africano.

Eles viram pessoas morrendo no deserto, pessoas que caíram de caminhões e não foram resgatadas pelos contrabandistas ou doentes abandonados no meio do nada. A maior parte deles viu principalmente cadáveres nessas estradas no sul da Argélia, no norte do Níger, no sul da Líbia, mas também em outras partes do Saara.

Porém, quando fazemos a pergunta: “Você conhece alguém que morreu no mar?” Recebemos muito menos respostas. Com base nestes relatos, acredita-se que haja muito mais mortes na terra firme do que no mar.

Como obter informações e atuar no Saara? Não é um buraco negro para as ONG e as instituições internacionais?

Certamente. Existem vários buracos negros como esses aos quais poucas pessoas ou ninguém têm acesso. Para as organizações internacionais é muito difícil ir até lá devido às condições geográficas extremas, mas também porque os Estados não querem que as organizações humanitárias testemunhem esta violência silenciosa e secreta. Trata-se de um fenômeno que recebe pouca cobertura midiática porque é menos visível do que um barco em perigo no Mar Mediterrâneo.

As organizações humanitárias precisam encontrar outros canais de informação: trabalhar um pouco mais com os líderes tradicionais, com as autoridades locais, que são testemunhas e, por vezes, também elas vítimas destes grupos. Trabalhar em um sistema de investigação, identificação e referenciação destas pessoas que controlam pequenas cidades e oásis nessas rotas.

Qual é o perfil dos migrantes que tentam a travessia do deserto? Seus países de origem estão mudando?

Em termos gerais, o perfil não muda muito. Dependemos muito dos dados fornecidos pelos Estados.

Quando migrantes e refugiados atravessam o Mediterrâneo para chegar à Europa, aproximadamente uma em cada duas pessoas obtém asilo ou autorização humanitária na Europa. Considera-se, portanto, que uma em cada duas pessoas necessita de proteção internacional. A outra pessoa geralmente deixa o seu país por razões econômicas, para estudar na Europa ou qualquer outra coisa.

No continente africano é praticamente a mesma coisa. A maioria dos migrantes e refugiados permanece no continente africano. 70% permanecem no país vizinho ao seu país de origem com a intenção, quando as coisas melhorarem, de regressar para casa.

As únicas mudanças recentes que tiveram um impacto nesta mobilidade em direção ao Norte da África são as crises sudanesas – 10 milhões de pessoas deslocadas – e a guerra no Mali e no Burkina Faso, que força muitos cidadãos destes países ao exílio. Aqui, novamente, nem todos vão em direção do Norte da África, muitos burquinenses vão principalmente para os países do Golfo da Guiné, na África Ocidental.

Uma vez superados os perigos do Saara, as pessoas ainda estão dispostas a atravessar o Mediterrâneo para chegar à Europa?

No seu próprio país, 21% das pessoas entrevistadas afirmaram ter em mente um destino e que, independentemente das informações sobre os perigos, dariam o mebohr de si para alcançá-lo. 79% se arrependeram de ter feito esta escolha: se soubessem quais seriam os riscos reais, não teriam realizado a viagem. É muito interessante. Para muitos, a Líbia é o destino final. 70% das pessoas chegaram ao seu destino final quando chegam à Líbia.

Que políticas de acolhimento estão em vigor nos países da costa norte-africana no final da viagem ao Saara? Com quais possíveis violações e abusos observados?

O principal problema é que todos os países do Norte da África ratificaram instrumentos internacionais relativos à proteção dos refugiados, sejam eles instrumentos internacionais ou instrumentos regionais, mas nenhum país do Norte da África tem uma lei sobre asilo.

Todos os outros países do continente africano possuem sistemas de asilo que funcionam mais ou menos bem, o que não é o caso do Norte da África. Estes países alegam sempre que são países de trânsito. Isso não é verdade. Na época da pandemia, há três anos, vimos todos os tipos de comunidades, tanto migrantes como refugiados, nos países do Norte da África, a maioria dos quais trabalhavam no setor informal da economia. Contudo, sem um quadro legislativo, isto significa que as pessoas não têm o direito de permanecer. A situação deles é muito precária.

E com os incidentes derivados das divisões em algumas comunidades, existe o risco de que as coisas acabem mal, como as ondas de expulsões da Argélia para o Níger, da Tunísia para a Líbia, para a Argélia, da Líbia para outros países vizinhos. Estas expulsões em massa não são a solução, porque as pessoas vão para outros países e depois partem novamente.

Quais soluções de proteção podem ser elaboradas para melhorar a assistência nestas rotas do Saara e por que atores?

Os Estados devem chegar a um acordo. Nenhum Estado sozinho pode responder aos desafios de uma melhor gestão destes movimentos no continente. Precisamos de trabalhar em uma abordagem baseada no percurso, nos caminhos que as pessoas percorrem. As dinâmicas nas comunidades não são necessariamente as mesmas, por isso devemos também fazer um esforço para saber quem as influencia, como financiam as suas viagens, que atividades do programa têm um valor estabilizador onde a proteção precisa ser melhorada, trabalhar no regresso; há pessoas que precisam de ajuda para voltar para casa. Deve ser implementada toda uma série de atividades, não apenas por parte de organizações humanitárias.

Os Estados devem assumir a responsabilidade por estas soluções baseadas em estudos no terreno e não devemos abandonar esta obrigação de solidariedade. Antes de tudo, precisamos salvar vidas humanas, independentemente do estatuto das pessoas envolvidas, sejam elas refugiados ou migrantes. É uma denominação importante, mas não em termos de ajuda emergencial. O traficante não sabe se uma pessoa é migrante ou refugiada. A Europa deve também ajudar os países ao longo destas rotas a criar mecanismos de proteção e assistência que proporcionem alternativas dignas às viagens perigosas e irregulares. Um pouco no espírito daquilo que os Estados europeus adotaram com alguns Estados africanos na cúpula de La Valleta em 2015.

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