sábado, 1 de novembro de 2025

Governo do Acre visita abrigos de migrantes nos municípios do Alto Acre para fortalecer ajuda humanitária

 Uma equipe da Secretaria de Estado Assistência Social e de Direitos Humanos (SEASDH), que tem como titular a vice-governadora Mailza Assis, iniciou visitas aos municípios do Alto Acre, para avaliar a situação do acolhimento de migrantes e oferecer apoio às equipes municipais que atuam na linha de frente do atendimento humanitário.

A agenda começou na Casa de Passagem Otonoel de Souza Oliveira, em Assis Brasil, município que faz fronteira com o Peru, onde foi identificado um aumento no fluxo de migrantes. Durante a visita, a equipe da pasta realizou o levantamento das necessidades de insumos, infraestrutura e à situação dos repasses de cofinanciamento federal, essenciais para a manutenção dos serviços de acolhimento.

Equipes da SEASDH tem ido aos abrigos para verificar situação dos migrantes e trabalhar integrado com ajuda humanitária. Foto: cedida

Diariamente, migrantes, a maioria venezuelanos e colombianos, acessam o Brasil por Assis Brasil, que faz fronteira com o Peru, sendo que grande parte está em situação de vulnerabilidade. Primeiro, eles passam pela Alfândega, são cadastrados, dão entrada na documentação e são encaminhados a Casa de Passagem do município, atualmente com 60 pessoas entre adultos e crianças. Lá são acolhidas, recebem alimentação e apoio. Todos os dias são servidos em média, 180 refeições.

Trabalho de apoio aos migrantes envolve governos estadual, municipal e federal. Foto: cedida

A Agência da ONU para as Migrações (OIM) é parceira e ajuda oferecendo condições dignas em cômodos separados, eletrodomésticos e serviços de lavanderia.

As visitas seguirão pelos demais municípios da regional, Brasiléia e Epitaciolândia (ambos divisam com a Bolívia) e Xapuri, até a capital Rio Branco, para fortalecer a rede de proteção social e garantir que as ações de acolhimento humanitário ocorram de forma articulada e contínua.

A ação envolve o governo Federal, o estado, os municípios, Polícia Federal, organizações internacionais e organizações da sociedade civil.

Visitas é parte das iniciativas do governo do Acre para oferecer suporte humanitário. Foto: cedida

“A ação integrada busca fortalecer o acolhimento de migrantes e refugiados em parcerias com as secretarias de assistência social municipal, o que demonstra uma das marcas da gestão que tem no cuidado humanitário das pessoas uma prioridade”, destacou a diretora de Direitos Humanos da SEASDH, Joelma Pontes.

https://agencia.ac.gov.br/

www.miguelimigrante.blogspot.com

Bolsa Família dá suporte para famílias refugiadas e migrantes no Brasil

 Foto: Katarine Almeida / Unicef/BRZ

Foto: Katarine Almeida / Unicef/BRZ

Gilberto Carpintero tem um sonho: que seus três filhos se desenvolvam com qualidade no país que escolheram viver. São quase dois anos que a família reside no Rondon 5, abrigo da Operação Acolhida para refugiados e migrantes da Venezuela no Brasil, localizado em Boa Vista.

Pai solo de Estefani, Andrews e Samuel, de 14, 12 e quatro anos respectivamente, Gilberto tem procurado meios para tentar se estabelecer. “O que mais quero é trabalhar. Entretanto, é complicado achar um trabalho com horários adequados à rotina dos meus filhos. O mais novo ainda não vai para a escola, e não acho certo deixá-lo com alguém que não seja o responsável”, explicou.

Foi nesse contexto que, em maio de 2025, com apoio das equipes da Associação Voluntários para o Serviço Internacional (AVSI) e do posto do Cadastro Único (CadÚnico), Gilberto foi incluído no CadÚnico e passou a receber os benefícios do Bolsa Família.

O processo de inserção social esteve diretamente vinculado ao Posto de Triagem (PTRIG) de Boa Vista, cuja implementação ocorreu em outubro de 2023, a partir de parceria entre o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS) e a prefeitura de Boa Vista, por meio da Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (Semads), e contou com apoio do Unicef garantindo que refugiados e migrantes acessassem o sistema de proteção social no Brasil.

“Apesar de as famílias residentes nos abrigos da Operação Acolhida receberem alimentação e produtos de higiene, o benefício do Bolsa Família acaba impactando na aquisição de itens que estão fora desse escopo. A família do senhor Gilberto, por exemplo, apresenta algumas situações de saúde que estão sendo sanadas com o recebimento do benefício”, destacou Paulo Xavier, psicólogo do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) responsável pelo acompanhamento da família no Rondon 5.

Com o benefício que recebe do programa, Gilberto tem comprado remédios de asma para Samuel, tem feito o acompanhamento para o caso de estrabismo de Estefani e investido na educação dos filhos.

“Quando chegamos ao Brasil, meus filhos não sabiam ler, escrever ou falar português. Então, foi difícil quando foram para a escola e se depararam com essa realidade. Mas, estou investindo em livros, para que consigam aprender um pouco mais. Se eles não tiverem educação em um país tão cheio de oportunidades, não terão nada”, disse o pai.

Com planos para continuar no Brasil, Gilberto e seus filhos pensam nos próximos passos. “O que eu mais quero é que meus filhos avancem no Brasil. Vou me sacrificar para que eles estudem, para que tenham uma boa educação. Vou lutar para que tenham conforto, para que eles continuem avançando aqui”, contou.

Postos do Cadastro Único

Os postos do Cadastro Único nos PTRIGs Pacaraima e Boa Vista foram inaugurados em junho e outubro de 2023, respectivamente, e realizam mais de 550 atendimentos por mês.

Até setembro deste ano, 9,5 mil famílias refugiadas e migrantes venezuelanas acessaram o Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal, permitindo o acesso a benefícios como o Bolsa Família e o Benefício de Prestação Continuada (BPC).

Os espaços, preparados para atender a população em seu idioma e prontos para sanar as dúvidas sobre as políticas públicas no novo país, também contribuem para uma maior fluidez nos atendimentos nos CRAS de Boa Vista e Pacaraima.

Em setembro de 2025, a prefeitura de Pacaraima assumiu o compromisso de continuar com as operações do Posto do CadÚnico do PTRIG, que fica na fronteira do Brasil com a Venezuela, por meio do apoio de recursos repassados pelo MDS, demonstrando o compromisso dos governos municipal e federal com a população.

A estratégia conta com o apoio financeiro da União Europeia por meio do Departamento de Proteção Civil e Ajuda Humanitária da União Europeia (ECHO, na sigla em inglês) e da Espanha, por meio da Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (AECID).

Fonte: Unicef

Assessoria de Comunicação - MDS

https://www.gov.br/mds/pt-br

sexta-feira, 31 de outubro de 2025

Tríplice Fronteira: Saúde estadual integra estratégias para migrantes, em Tabatinga

 


A Secretaria de Estado de Saúde (SES-AM) e a Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas – Dra. Rosemary Costa Pinto (FVS-RCP) participam do Simpósio de Saúde e Migração nas Fronteiras – Etapa Tabatinga e Benjamin Constant. O evento reúne representantes estratégicos do Sistema Único de Saúde (SUS), com o objetivo de fortalecer as capacidades locais frente aos desafios impostos pela migração, pelas mudanças climáticas e pelas condições singulares da Amazônia fronteiriça.

Promovido pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), em parceria com o Ministério da Saúde e instituições federais, estaduais e municipais, o evento, que começou na quarta-feira (29/10), se estende até esta sexta-feira (31/10), no município de Tabatinga (a 1.108 quilômetros de Manaus).

A secretária executiva adjunta do Interior da SES-AM, Rita Almeida, que representou a secretária de Estado de Saúde, Nayara Maksoud, ressaltou o papel estratégico da cooperação entre os entes federativos. “As regiões de fronteira exigem respostas oportunas, com planejamento e união de esforços. O trabalho conjunto entre Estado, municípios e parceiros internacionais é essencial para garantir um SUS fortalecido e capaz de acolher todos os que vivem ou transitam por essas áreas”, afirmou.

Para a diretora-presidente da FVS-RCP, Tatyana Amorim, a iniciativa reforça a importância da integração institucional. “Participar do simpósio é reafirmar o compromisso do Amazonas com estratégias contínuas e integradas voltadas para a saúde das populações em regiões de fronteira, promovendo o diálogo entre instituições e comunidades”, destacou.

Integração e resposta rápida

De acordo com o consultor nacional da OPAS/OMS no Brasil, Marcus Vinícius Quito, o encontro propõe debater a dinâmica da saúde em contextos de fronteira, considerando os impactos das mudanças climáticas, da migração populacional e das especificidades culturais e sociais da Amazônia. “A iniciativa busca fortalecer uma visão pan-americana de saúde, promovendo o intercâmbio entre gestores e profissionais e a construção de estratégias conjuntas para enfrentar os desafios de fazer saúde em territórios amazônicos e fronteiriços”, observou.

O representante da Assessoria de Migração da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente (SVSA/MS), João Roberto Cavalcante Sampaio, destacou a relevância de ações voltadas às populações migrantes e refugiadas. “Nosso objetivo é levar as vivências locais para subsidiar as políticas do Ministério da Saúde, especialmente no cuidado às populações em situação de vulnerabilidade nas fronteiras”, afirmou.

O secretário municipal de Saúde de Tabatinga, Janderson Felix, reforçou o papel das parcerias na superação dos desafios regionais. “Tabatinga é uma cidade de encontro de povos e, por ser uma fronteira aberta, estamos expostos a diversas doenças. Isso torna nosso trabalho desafiador, mas, com o apoio dos parceiros, conseguimos fortalecer a atenção básica e a vigilância em saúde. Sozinhos, não conseguimos fazer nada”, destacou.

A coordenadora do Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) Alto Rio Solimões, Maria Geralda Ozório, chamou atenção para os impactos das mudanças climáticas na saúde indígena. “O tema é urgente, pois, durante a última estiagem no Amazonas, muitas comunidades indígenas ficaram isoladas, enfrentando escassez de água e alimentos, em uma situação crítica de vulnerabilidade”, ressaltou.

A região da tríplice fronteira Brasil–Colômbia–Peru enfrenta desafios significativos, como intensos fluxos migratórios, condições ambientais extremas e limitações estruturais. A programação do simpósio inclui simulado de fronteira, seminário sobre saúde na tríplice fronteira e oficina de participação social, promovendo a integração efetiva entre gestores, profissionais de saúde, autoridades e lideranças comunitárias.

https://vanguardadonorte.com.br/

www.radiomigrantes.net

quinta-feira, 30 de outubro de 2025

Governo do Brasil realiza nova operação de recepção humanitária para brasileiros repatriados dos EUA nesta quarta-feira (29)

Agencia Brasil

 Nesta quarta-feira (29), o Governo do Brasil realiza mais uma ação de recepção humanitária para brasileiros repatriados dos Estados Unidos. A operação de deportação é feita pelo governo dos Estados Unidos e, no Brasil, os repatriados serão recebidos com uma ação de acolhida coordenada pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) em parceria com outros órgãos federais, integrando o programa “Aqui é Brasil”.

O voo procedente dos EUA tem chegada prevista para às 19h45, no Aeroporto Internacional de Belo Horizonte, em Confins (MG). No local, uma estrutura especial será montada para atender as demandas imediatas dos repatriados, que terão acesso a atendimento médico e psicológico, alimentação, kits de higiene, apoio psicossocial e transporte para suas cidades de origem.

Programa "Aqui é Brasil"

O MDHC coordena a ação em parceria com os ministérios das Relações Exteriores (MRE), do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), da Saúde (MS) e da Justiça e Segurança Pública (MJSP); governos estaduais; Polícia Federal (PF); Defensoria Pública da União (DPU); Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT); e organismos internacionais, como a Organização Internacional para as Migrações (OIM). O objetivo é oferecer não apenas assistência emergencial, mas também acompanhamento contínuo que garanta a proteção da dignidade e dos direitos humanos de todos os brasileiros em situação de repatriação ou deportação atendidos.

Com essa estratégia interministerial, o Governo do Brasil reforça o compromisso de dar uma resposta rápida e coordenada diante de situações de deportação ou repatriação forçada, garantindo suporte integral no processo de retorno ao país.

Serviço

Recepção humanitária a brasileiros repatriados dos EUA
Data: Quarta-feira (29)
Horário: 19h45, sujeito a alterações
Local: Aeroporto Internacional de Belo Horizonte, em Confins (MG)

https://www.gov.br/mdh/pt-br

www.miguelimigrante.blogspot.com

quarta-feira, 29 de outubro de 2025

No Campo Limpo, a EJA se torna lugar de acolhimento e oportunidade para imigrantes em SP

 Por Adriana Novaes. Edição: Hysa Conrado. 

Mais do que um espaço para completar os estudos, a Educação de Jovens e Adultos (EJA) tem se tornado um lugar de acolhimento e reconstrução para imigrantes e refugiados que chegam a São Paulo em busca de uma oportunidade para recomeçar a vida.

Reprodução/Facebook

Nas salas da EMEF Paulo Colombo, no Campo Limpo, Zona Sul da cidade, sotaques, histórias e trajetórias distintas se encontram e formam uma comunidade movida pela vontade de aprender e de pertencer.

Mesmo diante de cortes, da falta de divulgação e de dificuldades de acesso, a EJA segue sendo um ponto de apoio para homens e mulheres que deixaram para trás diplomas, carreiras e laços familiares. De acordo com a Secretaria Municipal de Educação (SME), somente no último ano, quase 2 mil imigrantes se matricularam nas unidades da EJA.

“O que a gente vê é que eles chegam tímidos, inseguros, mas com uma vontade enorme de aprender”, conta o coordenador Marcos Cesario, que acompanha a rotina da escola desde o início de 2025.

Na capital paulista, eles enfrentam o desafio de aprender um novo idioma, se adaptar à rotina de uma grande cidade, descobrir seus direitos e, aos poucos, reconstruir a vida.

É muito bonito ver como a EJA vira um ponto de apoio. Aqui, o aprendizado e a vida caminham juntos. É um espaço de pertencimento, onde o que está em jogo não é só o estudo, mas o direito de existir e ser ouvido”, ressalta.

 

Lugar de recomeço

 Entre as histórias que preenchem as salas da EMEF Paulo Colombo está a da cozinheira Marie Matilia, de 43 anos, haitiana que chegou ao Brasil em 2014, após o terremoto e a crise econômica que afetaram o Haiti. Ela escolheu São Paulo por influência dos seus dois irmãos que já estavam na cidade.

A estudante haitiana Marie Matilia./Crédito: Adriana Novaes

“O Brasil foi o único lugar que abriu as portas pra gente entrar como refugiado. Sempre fui fã do Brasil”, conta.

A jornada foi longa e desafiadora. Marie saiu do Haiti, passou pela República Dominicana e pela Argentina até chegar a São Paulo. Chegando aqui, não demorou para que seus irmãos voltassem para o país de origem da família. No início, ela enfrentou os obstáculos do idioma, do custo de vida e da solidão.

“Eu só entendia um pouco de espanhol. As pessoas percebiam que eu não era daqui, mas com o tempo fui aprendendo. No começo foi difícil, mas o brasileiro é acolhedor, minha maior dificuldade foi fazer os meus documentos e dos meus filhos, mas sempre aparecia alguém disposto a ajudar”, relembra.

Hoje, ela mora no Campo Limpo com os dois filhos. As crianças estudam em período integral e seu primogênito, pessoa com deficiência, faz o tratamento com acompanhamento especial na escola. Marie divide o tempo entre o trabalho, os cuidados com a casa e as aulas noturnas.

“Logo que cheguei, consegui um trabalho como cozinheira e então com muita luta fui conquistando minha casa própria”, conta.

No Brasil, Marie viu a oportunidade de concluir os estudos que ficaram incompletos no Haiti. “Aqui, decidi voltar a estudar porque quero mostrar pros meus filhos que nunca é tarde para aprender”, diz, com um sorriso.

Entre as histórias que preenchem as salas da EMEF Paulo Colombo está a da cozinheira Marie Matilia, de 43 anos, haitiana que chegou ao Brasil em 2014, após o terremoto e a crise econômica que afetaram o Haiti. Ela escolheu São Paulo por influência dos seus dois irmãos que já estavam na cidade.

“O Brasil foi o único lugar que abriu as portas pra gente entrar como refugiado. Sempre fui fã do Brasil”, conta.

A jornada foi longa e desafiadora. Marie saiu do Haiti, passou pela República Dominicana e pela Argentina até chegar a São Paulo. Chegando aqui, não demorou para que seus irmãos voltassem para o país de origem da família. No início, ela enfrentou os obstáculos do idioma, do custo de vida e da solidão.

“Eu só entendia um pouco de espanhol. As pessoas percebiam que eu não era daqui, mas com o tempo fui aprendendo. No começo foi difícil, mas o brasileiro é acolhedor, minha maior dificuldade foi fazer os meus documentos e dos meus filhos, mas sempre aparecia alguém disposto a ajudar”, relembra.

Hoje, ela mora no Campo Limpo com os dois filhos. As crianças estudam em período integral e seu primogênito, pessoa com deficiência, faz o tratamento com acompanhamento especial na escola. Marie divide o tempo entre o trabalho, os cuidados com a casa e as aulas noturnas.

“Logo que cheguei, consegui um trabalho como cozinheira e então com muita luta fui conquistando minha casa própria”, conta.

No Brasil, Marie viu a oportunidade de concluir os estudos que ficaram incompletos no Haiti. “Aqui, decidi voltar a estudar porque quero mostrar pros meus filhos que nunca é tarde para aprender”, diz, com um sorriso.

Na EJA, Marie encontrou acolhimento e motivação.

“Os professores têm muita paciência. O difícil não é o professor, é a gente mesmo, porque depois de adulto é mais complicado. Mas aqui todo mundo se ajuda, parece uma família. Quando alguém falta, os colegas mandam mensagem perguntando se está tudo bem, eu trago os meus filhos para a aula comigo”, conta.

Para ela, estar de volta à escola é um gesto de resistência e amor próprio. “Quando cheguei, me senti perdida, tinha acabado de me separar, sem saber por onde começar. Agora, sinto que pertenço. Aqui eu tenho amigos, tenho voz. Eu me sinto parte.”

Marie sonha em concluir o ensino fundamental e seguir estudando. “Penso em fazer gastronomia ou enfermagem. Quero trabalhar ajudando pessoas. O estudo é o meu caminho pra isso”, afirma.

E embora pretenda visitar o Haiti um dia, ela não pensa em voltar a morar lá. “É aqui que estou reconstruindo minha vida.”

Os obstáculos para permanecer na escola

Antes de ingressarem na EJA, muitos alunos passaram pelo programa Portas Abertas: Português para Imigrantes, criado pela Secretaria Municipal de Educação para facilitar o aprendizado da língua portuguesa e a integração de estrangeiros.

Desde 2017, o projeto já atendeu mais de 7 mil pessoas, segundo dados divulgados pela SME, mas perdeu força nos últimos anos em parte por conta do corte do Bilhete Único Estudante, que garantia transporte gratuito.

“A prefeitura não considera o Portas Abertas um curso regular, e muita gente simplesmente não tinha como pagar a condução”, explica Alessandra de Aguiar, professora do programa.

Atualmente, 18 escolas municipais oferecem o programa, distribuídas por regiões como Campo Limpo, Guaianases, Ipiranga e Capela do Socorro. Já a EJA é voltado para o ensino fundamental e está presente em 140 unidades da rede.

As inscrições são contínuas e podem ser feitas presencialmente nas escolas ou pelo portal da Prefeitura. Não é necessário apresentar todos os documentos na hora da matrícula, e as aulas são oferecidas nos períodos da manhã, tarde e noite.

“Eles vinham de longe, com muito esforço. Quando o bilhete acabou, o sonho de estudar também foi ficando mais distante”, destaca.

Mesmo com as dificuldades, professores e alunos se apoiam.

“A EJA é mais do que sala de aula. É um espaço de encontro. Eles se reconhecem uns nos outros, se ajudam, criam laços. É ali que o pertencimento acontece”, afirma a professora Aline Magna.

O professor de Ciências da EJA, Domingos Valério, lembra que, no início das turmas de imigrantes e refugiados, tudo era novidade. Ele preparou aulas em vários idiomas para se adaptar, mas os estudantes insistiram que o conteúdo fosse dado em português, pois queriam aprender o idioma o mais rápido possível.

Na EMEF Paulo Colombo, referência em acolhimento de refugiados na DRE Campo Limpo, esse sentimento de pertencimento se manifesta no cotidiano: nos intervalos, nas trocas de experiências e na solidariedade entre alunos e professores.

A escola se tornou um espaço de integração espontânea. “Muitos ex-alunos ajudam os novos que chegam, indicam conhecidos, traduzem documentos, explicam como funciona o transporte. A comunidade se apoia”, explica o coordenador Marcos Cesario.

Ele acredita que o grande desafio da EJA é resistir à falta de visibilidade e às condições de trabalho que impedem muitos de continuarem.

“Muitos começam empolgados, mas no meio do ano letivo conseguem um emprego com horários que não permitem estudar. A gente entende, mas é triste ver o quanto o trabalho e a sobrevivência acabam pesando mais que o sonho”, desabafa.

“Quando a gente olha para essas turmas, vê mais do que alunos. Vê vidas em reconstrução. A EJA é o início de uma nova história para muita gente”, resume Marcos Cesario.

https://periferiaemmovimento.com.br/

www.miguelimigrante.blogspot.com 



terça-feira, 28 de outubro de 2025

Jundiaí será ‘Cidade Acolhedora’

 

(Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Os vereadores apresentaram, de forma conjunta, o projeto 15005/2025, que cria a Política municipal de Acolhimento, Cidadania e Integração para Migrantes, além do selo ‘Jundiaí Cidade Acolhedora’. A proposta – que ainda não tem data para ser votada – pode ser considerada uma resposta ao episódio envolvendo João Bottcher, apoiador do Movimento Brasil Livre(MBL), que no dia 23 do mês passado usou a Tribuna Livre para defender projeto que tramita na Câmara de Joinville(SC), pedindo a criação de centro de controle de migração naquela cidade. João tentou convencer os parlamentares de Jundiaí, muitos deles migrantes também, e causou a indignação deles.

O projeto coletivo quer promover os direitos e a integração social, econômica, política e cultural de migrantes internacionais e nacionais (interestaduais e intermunicipais) residentes em Jundiaí. Os princípios e objetivos da futura política municipal serão:

– Universalidade, indivisibilidade e interdependência dos direitos humanos;

– Repúdio e prevenção à xenofobia, ao racismo e a quaisquer formas de discriminação;

– Igualdade de tratamento e de oportunidades em relação aos demais moradores no acesso a serviços, programas e políticas públicas;

– Promoção da inclusão social, laboral e produtiva;

– Respeito à diversidade e fomento à interculturalidade.

– Acesso Unificado à Informação, com orientação sobre: cadastro no Sistema Único de Saúde (SUS);

– Matrícula na rede municipal de ensino (EMEB);  

– Inscrição ou transferência do título de eleitor;

– Acesso aos serviços dos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS);

– Apoio na busca por emprego e qualificação;

– Regularização migratória e outros documentos civis;

– Atendimento Qualificado: implementação de programas de capacitação contínua para servidores públicos sobre direitos humanos, interculturalidade e a realidade da migração, podendo incluir atendimento multilíngue como instrumento de inclusão;

– Fomento a parcerias com a sociedade civil, universidades, associações de migrantes e setor privado para fortalecer e ampliar a rede de apoio.

– Criação do selo “Jundiaí Cidade Acolhedora” como instrumento de reconhecimento público para empresas, órgãos públicos e organizações da sociedade civil que aderirem e cumprirem as metas da Política Municipal

Na justificativa, os vereadores lembram que o Censo de 2022 revelou que a população de Jundiaí cresceu 21,9% em 12 anos, “ritmo muito acima da média nacional, evidenciando o status da cidade como um polo de atração. Além disso, dados históricos do IBGE indicam que cerca de 40% da população jundiaiense não nasceu na cidade, claro sinal da importância da migração para a composição social do município, que conta ainda com 4 mil migrantes internacionais”.

Com a criação da Política Municipal, os vereadores esperam alinhar Jundiaí à Constituição Federal e à Lei de Migração. “Esta proposta é inspirada em políticas municipais de sucesso, como as de São Paulo e Florianópolis, que se tornaram referências nacionais. Ao aprovar este projeto, Jundiaí não apenas se equipara a essas capitais na vanguarda da inclusão, mas inovará ao integrar formalmente os migrantes nacionais na mesma estrutura de direitos”, concluem os parlamentares.

https://jundiagora.com.br/

www,miguelimigrante.blogspot.com

segunda-feira, 27 de outubro de 2025

Scalabrinianas: 130 anos caminhando com os migrantes

Irmãs Scalabrinianas em ação na Angola. Foto: Arquivo Província São José - Europa 

 Irmãs Scalabrinianas em ação na Angola. Foto: Arquivo Província São José - Europa 

As Irmãs Scalabrinianas celebraram  no dia 25 de outubro 130 anos da fundação da congregação italiana. Elas estão presentes em 27 países e quatro continentes. Sua missão é levar a evangelização e acolher imigrantes que precisaram sair de seu local de origem por motivos de guerras, conflitos, clima ou pobreza, em busca de melhores condições em outro país..

Mariane Rodrigues – Vatican News 

Já se passaram 130 anos desde que a Congregação Irmãs Scalabrinianas foi fundada por São João Batista Scalabrini, em Piacenza, na Itália, cujo carisma inicial era o de acolher especificamente os migrantes italianos que viajavam do país europeu em busca de melhores condições de vida na América e muitos deles foram para o Brasil. Mais de um século depois, a migração continua entre os principais fenômenos sociais mundiais, especialmente pelos conflitos e guerras que não cessam e pelas mudanças climáticas, o que faz a missão das irmãs ser ainda mais essencial e ampla, amparando atualmente pessoas de todo o mundo que, forçadamente, buscaram outro país para sobreviver. 

As Irmãs Missionárias de São Carlos Borromeo, Scalabrinianas, comemoram no dia 25 de outubro 130 anos de fundação, mesmo dia em que se completam também 130 anos da chegada ao Brasil da Bem-aventurada e cofundadora das Scalabrinianas, Maria Assunta Caterina Marchetti. Em solo brasileiro, a freira italiana exerceu a missão até a sua morte, em 1º de julho de 1948. 

Assunta Marchetti, Irmã Scalabriniana que chegou ao Brasil há 130 anos. Foto: Arquivo da Congregação Scalabrinianas]
Assunta Marchetti, Irmã Scalabriniana que chegou ao Brasil há 130 anos. Foto: Arquivo da Congregação Scalabrinianas]

Atualmente, a congregação no Brasil atua por meio da Província Maria, Mãe dos Migrantes, e está presente nos estados do Amazonas, Ceará, Mato Grosso, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Rondônia, Roraima, São Paulo e no Distrito Federal. 

Além das obras sociopastoriais, como os centros de acolhimento, missões itinerantes, cataqueses, e presença de pastorais de mobilidade humana, as irmãs brasileiras socorrem e apoiam os migrantes e refugiados também nas áreas da saúde e educação, administrando três hospitais e quatro unidades do Centro de Atenção Psicossocial (Caps) no Rio Grande do Sul; e 12 escolas no estado gaúcho, no Paraná, em São Paulo e em Minas Gerais.

Para a Irmã Claudete Lidi Rissini, coordenadora do Serviço Sociopastoral das Scalabrinianas da Província Maria, Mãe dos Migrantes (América do Sul e África), no Brasil, tem-se observado um crescimento expressivo de mulheres e crianças em situação de extrema vulnerabilidade. A maioria saiu da Venezuela, Haiti, Cuba, Bolívia, Angola, República Democrática Congo, Síria, Somália, Marrocos, Tunísia, Moçambique, Nigéria, Congo, Equador, Peru e Egito. Assim, a migração no Brasil não se resume a países apenas da América do Sul, mas também da África. "A atual conjuntura migratória no país exige mais do que sensibilidade: demanda respostas ágeis, concretas, articuladas e sustentáveis", pontua ela. 

A Irmã Rissini considera que a realidade migratória no Brasil nos últimos anos tem se tornado cada vez mais complexas e os fluxos são marcados por migrantes e refugiados forçados a deixar o país de origem por causa das crises humanitárias, políticas e econômicas. 

Visita Canônica da Superiora Geral, Ir. Neusa de Fátima Mariano, à Missão Scalabriniana do estado de Roraima. Foto: Serviço de Comunicação da Província Maria, Mãe dos Migrantes
Visita Canônica da Superiora Geral, Ir. Neusa de Fátima Mariano, à Missão Scalabriniana do estado de Roraima. Foto: Serviço de Comunicação da Província Maria, Mãe dos Migrantes

"Como missionárias Scalabrinianas, nosso compromisso é assegurar que essas pessoas não sejam apenas acolhidas, mas reconhecidas em sua plena dignidade. Atuamos por meio de encaminhamentos legais para regularização migratória, acesso à saúde, empregabilidade e outras necessidades essenciais. Nossas casas de acolhida, programas de capacitação e apoio psicossocial têm proporcionado não apenas proteção imediata, mas também oportunidades de reconstrução de suas vidas. Muitos migrantes e refugiados conseguem construir seus projetos com autonomia, esperança e dignidade", afirmou ela. 

A ítalo-brasileira Eléia Scariot fez seus primeiros votos religiosos no Brasil, em Caxias do Sul, no ano 2000. Seu último trabalho no país foi no Ceará. A sua trajetória foi convertida para a Europa, onde atualmente exerce a função de vice-provincial da Província São José, com sede em Piacenza. 

Ela explica que atualmente a congregação está voltada, principalmente, para mulheres e crianças em situação de vulnerabilidade que foram forçadas a migrar para outros países por motivos de problemas climáticos, por causa de guerras e conflitos, e devido à pobreza. 

"A nossa missão é centrada nessa perspectiva fundamental e naquilo que o Papa Francisco abraçou durante o seu pontificado e agora o Papa Leão, que está dando continuidade a essa missão de acolher e integrar as pessoas migrantes. É uma missão da Igreja", afirma a missionária. 

Os centros de acolhimento, por exemplo, atendem os imigrantes em suas necessidades emergenciais, porém, posteriormente, os trabalhos são organizados de modo a inseri-los no lugar onde chegam. 

“É desde a acolhida, a promoção do cuidado, a proteção, até chegar à integração. É um desafio porque às vezes nos deparamos com políticas retrógradas e radicais no mundo inteiro”, expõe a irmã Scalabriniana. 

Acolher os imigrantes é acolher a Cristo 

Irmãs Scalabrinianas em ação em Siracusa, na Itália. Foto: Arquivo Província São José - Europa
Irmãs Scalabrinianas em ação em Siracusa, na Itália. Foto: Arquivo Província São José - Europa

 

Scariot lembra que, acolher aqueles que chegam em terras estrangeiras para fugir da fome, da violência e da falta da dignidade humana, é receber também o Cristo, que viveu o seu evangelho em função dos mais pobres e vulneráveis. Ela também recordou a passagem de Mateus, capítulo 35, quando o discípulo registrou as palavras de Jesus: “Tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me”.

“O carisma se renova e é muito atual e presente. Queremos continuar acolhendo em cada migrante o próprio Cristo que dizia: 'eu era imigrante e você me acolheu em sua casa'. [...]. Essa missão evangélica nos motiva. Muitas outras instituições trabalham com imigrantes, mas nosso diferencial é que fazemos porque o imigrante, para nós, revela a presença de Deus. É o cristo que vem a nós e nos pede para ser acompanhado, protegido e integrado na sociedade”, reflete Eleia Scariot. 

Ela explica que cada região do mundo tem particularidades quanto ao perfil dos imigrantes. Nos países europeus, como a Itália, a acolhida recai, sobretudo, para aqueles que fogem da guerra, a exemplo dos ucranianos. Essas diferenças regionais, de culturas e de motivações para a migração forçada são exemplos de que as ações da congregação abrangem a todos, sem distinção de país ou credo. 

"Para nós, o ser humano está em primeiro lugar. Acolhemos porque é ser humano e porque está em situação de vulnerabilidade. Muitas vezes são pessoas obrigadas a deixar a própria terra. Independente do lugar, é sempre um ser humano que leva consigo sua bagagem de esperança e de riqueza cultural", enfatiza ela. 

“Caminhar juntos... com migrantes e refugiados”

Desde o dia 16 de outubro até dia 9 de novembro, as irmãs realizam o XV Capítulo Geral, em Rocca di Papa, Itália. O tema deste ano é “Caminhar juntos... com migrantes e refugiados” e é inspirado na passagem bíblica: 'O próprio Jesus aproximou-se' (Lc 24,15).

Trinta e duas Irmãs se reúnem no Capítulo, representando as diferentes áreas de atuação missionária da Congregação. 

“Este Capítulo é de grande importância porque se realiza dentro de um contexto do Jubileu do Ano Santo e dos 130 anos da fundação da Congregação e, ao mesmo tempo, dentro de um contexto de grandes mudanças no qual estamos vivendo”, afirmou Irmã Neusa de Fátima Mariano, Superiora Geral das Irmãs Scalabrinianas. 

Congregação presente em 27 países

A Congregação Irmãs Sclabrinianas foi fundada em 25 de outubro de 1895, em Piacenza, no Norte da Itália, por São João Batista Scalabrini, que foi canonizado em 9 de outubro de 2022. 

Após as primeiras irmãs receberem de seu fundador os crucifixos de missões e professarem os seus votos religiosos, ele enviou quatro das pioneiras ao Brasil em missão denominada de “migrantes com os migrantes”. Dentre elas, Assunta Marchetti. 

Elas foram acompanhadas pelo Padre José Marchetti, cofundador. As irmãs prepararam crianças para a primeira Eucaristia e, ao longo da travessia do oceano, reanimaram a esperança dos companheiros de viagem. 

Naquela época, elas se dedicaram aos órfãos filhos dos imigrantes italianos levados pelo Pe. Marchetti. Posteriormente, expandiram as ações missionárias para as áreas da educação e saúde.

 As Irmãs Scalabrinianas estão presentes em 27 países e quatro continentes.

vaticannews.va/pt

www.miguelimigrante.blogspot.com