quinta-feira, 10 de abril de 2025

Estudo avalia desigualdade econômica no Rio Grande do Sul

 



Em 2023, o Rio Grande do Sul foi o Estado brasileiro com o quarto maior rendimento domiciliar per capita. O valor de R$ 2.255 foi 22% acima da média nacional. Entretanto os dados revelam que o desafio de romper a desigualdade racial ainda persiste: enquanto o rendimento da população preta ou parda foi de R$ 1.512, o da população branca foi de R$ 2.486, equivalente a 1,6 vez mais. No Brasil, a diferença é ainda mais acentuada, de 1,9. Dados do mesmo ano mostram que 27,9% dos pretos ou pardos viviam em situação de pobreza no país, mais que o dobro da proporção de pobres entre os brancos, que foi de 13,4%.  

A análise está compilada no estudo “Redução das desigualdades: o ODS 10 no Rio Grande do Sul”, produzido pelo Departamento de Economia e Estatística (DEE), vinculado à Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (SPGG). O documento, divulgado nesta terça-feira (8/4), tem autoria do pesquisador Guilherme Risco e faz parte da série que acompanha a evolução do Estado em relação aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU), cujo prazo para cumprimento é 2030. O ODS 10, tema do estudo, se refere à Redução das Desigualdades. 

O estudo compara dados de 2015 a 2023, sempre que disponíveis, por meio de informações do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre outros.  

Em 2023, a renda dos 40% mais pobres no Rio Grande do Sul foi equivalente a 9,4% da renda dos 10% mais ricos. No Brasil, o percentual foi de 7%. O histórico de análises indica que, de 2015 a 2018, houve queda de rendimento entre os mais pobres. O cenário melhorou nos anos seguintes, de 2018 a 2023, quando a renda de todos os grupos variou positivamente. Apesar do avanço, permanece uma diferença de renda significativa entre os mais pobres e os mais ricos.   

PIB 

Um dos indicadores usados pelo DEE para aferir a desigualdade no Estado é a participação das remunerações no Produto Interno Bruto (PIB), que se refere à parcela da renda gerada no país que fica com os trabalhadores. Os dados disponíveis abrangem os anos de 2015 a 2021.  

No Rio Grande do Sul, a proporção do componente remuneração no PIB foi de 42,3% em 2015. A proporção diminuiu em 2021, último ano da série que analisa esse dado, quando passou para 36,9%. A redução também foi observada no Brasil, onde a proporção foi de 44,6% em 2015 e de 39,2% em 2021. 

Na comparação com os demais Estados brasileiros, o Rio Grande do Sul detinha a 6ª menor proporção no país em 2021, e a 7ª em 2015. Nesse período, o Distrito Federal foi a única unidade federativa com aumento da remuneração (1,5 pontos percentuais), enquanto o Pará foi a que teve a maior redução (14 pontos percentuais). 

Migração  

Uma das metas para a redução da desigualdade consiste em facilitar a migração e promover a integração de migrantes e refugiados à sociedade que os recebe. Segundo o relatório do Observatório das Migrações Internacionais (OBMigra), projeto da Universidade de Brasília em parceria com o Ministério da Justiça e Segurança Pública, 50.355 imigrantes solicitaram refúgio no Brasil em 2022, sendo a maior parte deles (67%) de origem venezuelana.

O Rio Grande do Sul foi a oitava unidade federativa com mais solicitações (855), sendo a maior parte delas de imigrantes de Cuba (22%), de Gana (19%), da Venezuela (14%), da África do Sul (10%) e do Haiti (9%). 

Um estudo elaborado em 2021 pelo DEE constatou que os imigrantes que chegam ao Rio Grande do Sul são, em sua maioria, jovens e homens. Os locais de residência concentram-se na Região Metropolitana, em grandes cidades ou em municípios próximos às fronteiras do RS.  

O documento indica que, entre 2018 e 2020, foram identificados 29.357 imigrantes no Estado. Os dados, do Sistema de Registro Nacional Migratório (Sismigra), ressaltam que 19 mil pessoas que imigraram ao RS estão presentes no Cadastro Único, indicando um número significativo em vulnerabilidade social.

Texto: Karine PaixãEdição: 

Secom


https://estado.rs.gov.br/

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quarta-feira, 9 de abril de 2025

Mais de 900 mil migrantes que entraram nos EUA com o aplicativo CBP One da era Biden foram instruídos a se "autodeportar"

 

Foto wikipedea

Departamento de Segurança Interna está pedindo a quase 1 milhão de requerentes de asilo que entraram nos EUA por meio do aplicativo CBP One que “imediatamente” comecem a se “autodeportar”.

“Cancelar essas liberdades condicionais é uma promessa cumprida ao povo americano para proteger nossas fronteiras e a segurança nacional”, disse um porta-voz do DHS, após relatos de migrantes de que eles foram instruídos a retornar aos seus países de origem.

O aplicativo para smartphone CBP One, lançado em janeiro de 2023 e até dezembro de 2024, foi usado para admitir mais de 936.500 pessoas que alegam perseguição em seus países de origem, de acordo com dados do DHS.

Os usuários receberam permissão para viver e trabalhar por dois anos nos EUA enquanto aguardavam o resultado dos procedimentos de imigração locais, que muitas vezes eram demorados .

“Notificações formais de rescisão foram emitidas, e os estrangeiros afetados são instados a se autodeportarem voluntariamente usando o CBP Home App. Aqueles que se recusarem serão encontrados, removidos e permanentemente impedidos de reentrar”, disse o porta-voz do DHS.

O governo do presidente Joe Biden lançou o aplicativo para coibir o número recorde de travessias ilegais de fronteira , mas os republicanos do Congresso acusaram Biden de exceder ilegalmente a autoridade tradicional de "liberdade condicional", que, segundo eles, não poderia ser concedida categoricamente.

O porta-voz do DHS de Trump disse: “O governo Biden abusou da autoridade de liberdade condicional para permitir a entrada de milhões de estrangeiros ilegais nos EUA, o que alimentou ainda mais a pior crise de fronteira da história dos EUA”.

Dados precisos sobre o número de pessoas afetadas pela mudança não são claros por vários motivos — incluindo o fato de que alguns podem já ter recebido asilo, enquanto outros podem estar protegidos por proteções legais adicionais.

O aplicativo CBP One foi lançado com o objetivo de facilitar o movimento ordenado de possíveis cruzadores ilegais de fronteira para os EUA vindos do norte do México. Embora voltado para nacionalidades como haitianos e venezuelanos que se aglomeram na fronteira sudoeste, mexicanos e cidadãos de outros países podem participar.

O aplicativo para smartphone foi usado por quase 1 milhão de migrantes ao longo de dois anos para entrar nos EUA.AP

De acordo com o DHS, os migrantes que entraram nos EUA como parte de programas para cidadãos afegãos e ucranianos não serão afetados pelo último anúncio.

A secretária do DHS, Kristi Noem, também está revogando a liberdade condicional de 532.000 cubanos, haitianos, nicaraguenses e venezuelanos que voaram para os EUA às suas próprias custas com um patrocinador financeiro — a partir de 24 de abril.

Além disso, o governo Trump está se mobilizando para acabar com o Status de Proteção Temporária (TPS) para 600.000 venezuelanos e cerca de 500.000 haitianos — embora esse esforço esteja interrompido por litígio .

O DHS cancelou anteriormente os agendamentos de fronteira para usuários do aplicativo e o renomeou como “CBP Home”.AFP via Getty Images

O TPS concede prorrogações de 18 meses para residentes de países designados e pode ser aplicado a todos os residentes de uma nacionalidade específica que vivam nos EUA no momento da declaração de proteção.

As travessias ilegais de fronteira entre os EUA e o México despencaram desde que Trump assumiu o cargo em janeiro, com promessas de lançar a maior campanha de deportação em massa da história americana.

Essa iniciativa inicialmente se concentrou em migrantes acusados ​​de cometer crimes — com Trump coagindo seus países de origem a aceitar voos de deportação, enquanto enviava alguns para a Baía de Guantánamo, em Cuba, e outros para uma megaprisão em El Salvador.

https://nypost.com/

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terça-feira, 8 de abril de 2025

ONU estima que mundo terá 10,3 bilhões de pessoas em meados de 2080

 Um relatório do secretário-geral das Nações Unidas revela que a população mundial chegará a 10,3 bilhões de pessoas em meados de 2080.

A expectativa de crescimento seguirá pelos próximos 60 anos, mas a projeção é de uma leve queda até o fim deste século com o número de habitantes alcançando 10,2 bilhões pelo globo.

Migração internacional afeta demografia

O documento será debatido esta semana, durante a 58ª Sessão da Comissão sobre População e Desenvolvimento, CPD58, que se reúne até este 11 de abril, na sede da ONU em Nova Iorque.

Sob o tema do relatório, “Assegurando vidas saudáveis e promovendo o bem-estar em todas as idades”, especialistas da ONU analisarão as tendências demográficas mundiais.

O líder das Nações Unidas, António Guterres, lembra que vários fatores de padrões nacionais como fertilidade, mortalidade e migração internacional afetam as tendências globais. As pessoas estão vivendo mais e formando famílias menores, o que caracteriza a transição demográfica.

O Brasil, ao lado do Irã e do Vietnã, está na lista de países que terão um pico populacional entre 2025 e 2054
Rovena Rosa/Agência Brasil
 
O Brasil, ao lado do Irã e do Vietnã, está na lista de países que terão um pico populacional entre 2025 e 2054

Brasil, Portugal e Angola

Alguns países já tiveram picos populacionais ou terão esses movimentos nas próximas décadas.

Nesse caso, é preciso considerar aumentar serviços de automação e tecnologia e melhorar a produtividade em todas as idades.

O Brasil, ao lado do Irã e do Vietnã, está na lista de países que terão um pico populacional entre 2025 e 2054.

Para o mesmo período, o documento aposta num aumento da expectativa de vida desde o nascimento para Portugal, Itália e Espanha. Dos países de língua portuguesa, Angola deve dobrar o número de habitantes até 2054.

O mesmo deve acontecer em mais outras oito nações africanas incluindo Mali, Somália, República Democrática do Congo e Chade.

Mais de 20% do crescimento esperado da população global deve ocorrer nessas áreas da África.  Devido a seu rápido crescimento, os demógrafos esperam que países como Paquistão, Nigéria e RD Congo ultrapassem os Estados Unidos em termos de tamanho populacional.

Criação de vagas para idosos

Uma outra observação do relatório é o apoio de forças de trabalho multigeracionais, com oportunidades de treinamento e retreinamento da mão-de-obra.

A criação de vagas para trabalhadores idosos que queiram continuar no mercado, mesmo após a primeira aposentadoria ou reforma, é uma das recomendações.

O crescimento ou declínio de populações nacionais em tamanho é resultado do equilíbrio entre três componentes demográficos: fertilidade, mortalidade e migração internacional.

A migração internacional afeta indiretamente o número de nascimentos nos países de destino e em países de origem.

Em nações como Portugal, Rússia e Espanha, a imigração está levando a um aumento de nascimentos
© Unece
 
Em nações como Portugal, Rússia e Espanha, a imigração está levando a um aumento de nascimentos

Migração em Portugal, Rússia e Espanha

Em países como Albânia, Armênia, Guadalupe e Jamaica, existe redução no número de nascimentos. Já nações como Portugal, Rússia e Espanha, a imigração está levando a um aumento de nascimentos.

O relatório explica que o impacto da migração internacional sobre mudança da população é apenas nos níveis nacional e regional. Num patamar global, o efeito da migração internacional sobre o crescimento da população é zero.

Em todo o mundo, as taxas de fertilidade, num número médio de nascimentos por mulher, caíram acentuadamente durante as últimas décadas em muitos países. A taxa global hoje é de 2.25 filhos por mulher, uma criança a menos que na geração passada.

Até o final dos anos 2040, a taxa de fertilidade deverá cair para 2.1.

Saúde e higiene prolongam vida

A expectativa de vida, no entanto, vem crescendo nas últimas décadas, aumentando mais de 8,4 anos desde 1995.  No ano passado, a idade era de 73,3 anos. Em 2054, deverá ser de 77,4 anos. No fim da década de 2050, o relatório indica que mais da metade das mortes deverá ocorrer na idade de 80 ou mais, em 1995 este número era de 17%.

Melhorias na saúde pública, de higiene pessoal, na medicina e nutrição são alguns dos fatores-chaves para que se viva mais. Entre 2020 e 2021, o aumento da longevidade foi estancado pelo impacto da pandemia de Covid-19.

O relatório do secretário-geral chama a atenção para a transição demográfica que explica o fato de todas as populações estarem seguindo um caminho similar entre viver mais e ter famílias menores.

África Subsaariana terá 2,2 bilhões até 2054
Pnud Somalia/Ali Adan Abdi
 
África Subsaariana terá 2,2 bilhões até 2054

Nos próximos 30 anos, a população total da África Subsaariana deve aumentar 79% alcançando 2,2 bilhões de pessoas em 2054. Até o final do século serão 3,3 bilhões de africanos no mundo.

No ano passado, os países e regiões com maior expectativa de vida foram China, Japão, Hong Kong e a Coreia do Sul com pelo menos 84 anos.

Já Portugal, Itália e Espanha, na Europa, além de Guadalupe e Martinica na América Latina e Caribe terão aumentos em suas taxas de expectativa de vida. Já Jamaica, São Vicente e Granadinas, na mesma região, além da Moldávia na Europa registrarão declínio na expectativa de vida abaixo dos 72 anos de idade.

*Monica Grayley, da ONU News com informações do Departamento Econômico e Social das Nações Unidas.


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sexta-feira, 4 de abril de 2025

Ministro dialoga sobre políticas para migrantes com membros da Rede Eclesial Pan-Amazônica

Foto Roberta Aline/MDS


O ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias, recebeu lideranças da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM)-Brasil, representante da Igreja Católica na Amazônia Legal. Na reunião, realizada nesta quarta-feira (2.04), foram abordadas medidas para atender as populações que migram para o Brasil.

Wellington Dias destacou a importância de reforçar a atuação na assistência social e na segurança alimentar e nutricional. “Vamos trabalhar em uma parceria pelo MDS em duas frentes, uma voltada para a área de alimentação e outra para o acolhimento socioassistencial. Nosso intuito será ir além de garantir o atendimento em caráter emergencial, pensando em uma perspectiva de solução mais duradoura para essas famílias”, ressaltou o ministro.

A REPAM atua por meio de uma metodologia que articule, apoie e visibilize as ações e iniciativas das comunidades, pastorais e organizações eclesiais, na defesa da vida dos povos e da biodiversidade amazônica, por meio de núcleos temáticos. São eles: Formação e Métodos Pastorais, Justiça Socioambiental e Bem Viver, Direitos Humanos e Incidência Política.

Também participaram da reunião o secretário nacional de Assistência Social, André Quintão; a diretora do Departamento de Promoção da Inclusão Produtiva Rural e Acesso à Água, Camile Sahb e; a diretora de Departamento de Promoção da Alimentação Adequada e Saudável, Patrícia Gentil, ambas da Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional do MDS.

Assessoria de Comunicação - MDS

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quinta-feira, 3 de abril de 2025

Número de brasileiros barrados em Portugal dispara 722% em um ano

Foto wikipedea


 Portugal intensificou em 2024 o controle nas fronteiras aéreas e marítimas, e os brasileiros foram os estrangeiros mais afetados por essa mudança. Segundo dados do Relatório Anual de Segurança Interna (RASI), divulgado na terça-feira (1º), o número de brasileiros impedidos de entrar no país saltou de 179 em 2023 para 1.470 em 2024 — um aumento de 722% em apenas um ano.

O número chama atenção não só pelo crescimento acentuado, mas também pela representatividade: os brasileiros responderam por 85% de todas as recusas de entrada em aeroportos portugueses no último ano. Ao todo, 1.727 estrangeiros foram barrados no período.

A principal razão para a negativa de entrada foi a falta de justificativa plausível: 768 passageiros não conseguiram explicar às autoridades migratórias o motivo da viagem. Em segundo lugar, apareceram os casos de visto vencido ou inadequado, com 352 ocorrências.

Além disso, o relatório mostra que o controle de fronteiras se tornou mais rigoroso desde o desembarque, com barreiras sendo colocadas antes mesmo da área de imigração, em cumprimento às normas da União Europeia. Em 2024, 24,6 milhões de passageiros foram fiscalizados em Portugal, número 7,9% maior que o registrado em 2023.

Brasil no foco da segurança

A ofensiva migratória não se limita aos aeroportos. O RASI aponta que grupos criminosos brasileiros estão entre os mais ativos em Portugal, principalmente no narcotráfico, utilizando o país como rota de entrada de cocaína na Europa. O relatório também menciona que brasileiros aparecem com frequência em ações de combate à imigração irregular.

O controle migratório incluiu a realização de 1.961 ações de inspeção e fiscalização, resultando na expulsão de 146 pessoas — 42 por via administrativa e 100 por decisão judicial. Outros 444 estrangeiros receberam notificação para abandonar voluntariamente o território português.

Outro ponto sensível é a exploração laboral. O tráfico de pessoas com essa finalidade registrou 213 vítimas em 2024, muitas delas atuando em setores como agricultura, construção civil, indústria têxtil e trabalho doméstico — áreas onde a mão de obra brasileira tem forte presença.

Além dos brasileiros, foram impedidos de entrar no país cidadãos de Angola (274), Reino Unido (108), Índia (83), Guiné-Bissau (72), Timor-Leste (70) e Senegal (68).

https://www.infomoney.com.br/



quarta-feira, 2 de abril de 2025

Projeto valoriza escritores migrantes e discute o papel da tradução literária

Professora Prisca Agustoni é a décima pesquisadora entrevistada do programa IdPesquisa (Foto: UFJF)

A literatura tem sido um espaço para narrar as experiências de migração, refletindo partidas, chegadas e desafios da adaptação a novas culturas. Com o objetivo de dar visibilidade a escritores migrantes e analisar as transformações geradas pelo contato entre diferentes línguas e perspectivas, o projeto “Vozes da Migração”, coordenado pela professora Prisca Agustoni, do Departamento de Línguas e Literaturas Estrangeiras Modernas e do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários da UFJF, estuda obras literárias que abordam esse fenômeno.

O projeto é tema do décimo episódio do programa Id Pesquisa da UFJF, já disponível nas plataformas digitais. “Vozes da Migração” se concentra na produção de escritores migrantes, bilíngues ou que incorporam tais questões em suas obras literárias, investigando as transformações provocadas pela interação entre diversas perspectivas de mundo e idiomas. O movimento migratório, caracterizado por viagens arriscadas entre nações e continentes, é hoje uma das maiores tragédias da atualidade.

Através do projeto, Prisca destaca a relevância da tradução na edição de livros de escritores internacionais. Para ela, essa tarefa equivale à tradução dos códigos culturais, além de contribuir para o entendimento dos processos de migração. “A tradução é uma peça-chave para entender os processos migratórios não apenas no sentido linguístico, mas como uma ponte que permite o diálogo entre culturas. Esse é um aspecto central nos estudos sobre migração e identidade.”

A professora também observa que a tradução é um processo que exige tempo, pois envolve a identificação de códigos culturais, utilizando as ferramentas de decodificação oferecidas pela literatura e pelas ciências humanas. “Quando cada vez menos espaço é dado para as áreas de humanas, a gente percebe que o mundo se torna mais áspero, duro, tecnocrata e sem rosto. É preciso aprimorar cada vez mais a sensibilidade e a escolha daquilo que vamos traduzir e, por outro lado, quem vamos escolher para essa tarefa tão difícil da tradução, seja literária quanto de códigos culturais”, ressalta Prisca. 

Pesquisa analisa produção de escritores migrantes e bilíngues em suas obras (Foto: UFJF)

Novas formas de pertencimento
O projeto também explora como a literatura, a filosofia e a arte reconfiguram as experiências migratórias, refletindo os desafios contemporâneos enfrentados por milhões de pessoas ao redor do mundo. A pesquisadora observa que muitos escritores migrantes veem a escrita em outra língua como uma ferramenta para a construção de suas identidades literárias. Ela cita como exemplo a escritora russa Olga Martynova, cuja obra foi traduzida recentemente.

“Eu traduzi no ano passado uma poeta de origem russa, que cresceu entre a França e a Alemanha, que escreve a própria obra em francês e em alemão. Ou seja, ela se auto traduz, mesmo sendo russa de nacionalidade. É uma figura muito interessante. Tanto ela quanto muitas outras vozes contemporâneas reivindicam a ideia de que a nacionalidade é fundamental até certo ponto, porque há uma corrosão em curso.”

Pesquisadora e objeto de pesquisa
Prisca Agustoni, poeta, narradora, tradutora e autora de literatura infantojuvenil, nasceu em Lugano, Suíça, e desde 2003, divide sua vida entre o país europeu e o Brasil. No episódio, a pesquisadora também se coloca como objeto de sua própria pesquisa ao compartilhar sua experiência como emigrante. Embora sua migração não tenha sido forçada, ela fala sobre os desafios de adaptar-se a uma nova cultura e língua.

“Comecei como alguém que analisava e avaliava a obra de outros autores e artistas fundamentais para nossa época, orientando dissertações e teses. Aos poucos, fui integrando minha própria vivência, inicialmente de forma tímida, mas, com o tempo, percebendo a necessidade de assumir também a voz de quem migrou”, explica.

Prisca ainda reflete sobre sua relação com a literatura, considerando-a “um território de fronteiras mais abertas, sem a necessidade de passaportes”, em que, segundo ela, “permite criar universos, habitá-los e acolher outras pessoas, independentemente das limitações burocráticas e geopolíticas”. 

Foi a partir dessas experiências que escreveu o livro “O Mundo Mutilado (2020)”, no qual traduz, por meio da literatura, os desafios e nuances da migração. O livro traz referências poéticas, influências em epígrafes e dedicatórias distribuídas nas seis seções da obra, revelando a complexa paisagem linguística de uma escritora que, entre línguas e geografias, encontrou no Brasil um novo lar

https://www2.ufjf.br/noticias

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terça-feira, 1 de abril de 2025

Cáritas Brasileira e REPAM-Brasil unem esforços para fortalecer ações em apoio a migrantes e refugiados em Roraima

 


A Cáritas Brasileira, representada por Valquíria Lima, Diretora Executiva, esteve presente na sede da REPAM-Brasil, acompanhada da sua presidência, para apresentar projetos e a realidade enfrentada pelos migrantes, refugiados, apátridas e retornados em Roraima. Durante a reunião, foi solicitado apoio para as Ações Urgentes em Prol dos Migrantes, Refugiados, Apátridas e Retornados, projeto que ocorre na Diocese de Roraima, presidida por Dom Evaristo Spengler, que também é presidente da REPAM-Brasil.

A articulação dos Serviços aos Migrantes e Refugiados da Diocese de Roraima (ASEMIR), composta por diversas organizações da sociedade civil, denuncia as condições precárias enfrentadas por esses grupos em Roraima. Desde 2015, a migração venezuelana se intensificou na região, afetando profundamente sua estrutura social e territorial. Apesar da Operação Acolhida, muitos migrantes continuam fora dos abrigos, vivendo em vulnerabilidade severa em ocupações informais e nas ruas, devido à falta de políticas públicas adequadas.

Diante deste cenário, propomos uma ação articulada entre o Ministério:

Ministério da Justiça:

  • Reforço das políticas de combate ao tráfico de pessoas.
  • Sensibilização de agentes públicos e criação de políticas públicas para combater a xenofobia institucional.
  • Fortalecimento das redes de proteção comunitária para vítimas de violência e exploração.
  • Apoio à criação de um Centro de Referência para a População Migrante e Refugiada em Roraima.
  • Ampliação das campanhas de combate à xenofobia e ao racismo estrutural.

Este conjunto de ações visa enfrentar os desafios enfrentados por migrantes e refugiados em Roraima, promovendo políticas públicas mais inclusivas e eficazes. Agradecemos o apoio contínuo na defesa dos direitos humanos e no acolhimento digno a todos aqueles que buscam refúgio e oportunidades em nosso país.


repam.org.br

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