sábado, 31 de maio de 2025

Número de refugiados salta 221% em 24 anos em meio à rigidez global nas regras de imigração

 

Número de refugiados no mundo não para de crescer, segundo a ONURovena Rosa/Agência Brasil

Em meio ao endurecimento das políticas de imigração em diversos países, o número de pessoas deslocadas à força em todo o mundo alcançou 122,6 milhões em 2024 — um aumento de 221% em relação a 2000 (38.083.552).

Os dados, divulgados pela ONU (Organização das Nações Unidas), incluem vítimas de perseguição, conflito, violência e violações de direitos humanos.

Para o doutor em Direito Internacional Jose Luiz Souza de Moraes, existe a tendência de redução no acolhimento a estrangeiros, impulsionada principalmente por movimentos nacionalistas, como nos Estados Unidos, Itália e Argentina.

“Há uma bandeira em comum entre esses países, que enxerga o estrangeiro como potencial inimigo do Estado e, por esse motivo, ele deve ser tratado com desconfiança, sendo o tema tratado como questão de segurança nacional”, afirma Moraes.

De onde vêm, para onde vão

As estimativas indicam que Colômbia, Alemanha, Irã, Turquia e Uganda abrigam 32% da população refugiada, composta, inclusive, por 47 milhões (40%) de crianças e adolescentes com menos de 18 anos.

Além disso, 65% desse grupo é formado por pessoas oriundas da Venezuela, Ucrânia, Afeganistão e Síria.

No Brasil, por exemplo, as solicitações de refúgio vêm crescendo desde 2020, alcançando 68 mil pedidos no ano passado. O número, comparado ao de quatro anos antes (28.899), representa um aumento de 135%.

Entre as principais nações de origem dos migrantes estão Venezuela, Síria, Afeganistão, República Democrática do Congo e Cuba.

Os dados relativos a 2023 apontam que, dos 143.033 refugiados reconhecidos, 51,7% eram homens e 47,6%, mulheres.

O relatório também destaca que a maioria dos solicitantes de reconhecimento da condição de refugiado tinha entre 25 e 39 anos (20.552), seguida pelo grupo com menos de 15 anos (14.244) e por pessoas entre 15 e 24 anos (12.389).

A ONU aponta que os fluxos migratórios para o Brasil “têm passado por processos de feminização e aumento no número de crianças e jovens”.

Consequências

Jose Luiz Souza ressalta que o avanço dessas políticas pode dificultar intercâmbios culturais e comerciais entre os países, além de comprometer a proteção dos direitos humanos, diante do “retrocesso” em medidas de acolhimento.

“Há uma diminuição da proteção dessa população, que já se encontra vulnerável por não estar vinculada ao seu país de origem. Em um contexto que enxerga o estrangeiro como diferente ou inimigo, os direitos fundamentais tornam-se ainda mais frágeis”, comentou.

Além das restrições na entrada, a concessão de vistos de residência também passou a sofrer mudanças em algumas nações.

Segundo Souza, há um descontentamento social alimentado por problemas sociais e econômicos — tanto nos Estados Unidos quanto na Europa —, intensificado pela guerra na Ucrânia.

O especialista argumenta que esse descontentamento social desemboca na figura do estrangeiro, visto como alguém que ‘está subtraindo empregos ou criando problemas’. Por isso, é transformado em inimigo comum.

“Isso ocorre “Isso ocorre especialmente na Europa, onde inclusive há tratamento diferenciado para refugiados europeus da Ucrânia em relação aos demais”, completou.

Endurecimento das regras

Recentemente, a Argentina passou a integrar a lista de países que dificultaram a entrada de imigrantes. No último dia 24, o presidente Javier Milei afirmou que as leis atuais permitiram que 1,7 milhão de estrangeiros imigrassem ilegalmente para o país nos últimos 20 anos.

Além da Argentina, Estados Unidos, Itália, Reino Unido e Portugal também endureceram normas de entrada, modificando regras para obtenção de vistos de trabalho, residência e nacionalidade.

É o caso da Itália e do Reino Unido. Na última semana, o Parlamento italiano aprovou uma lei que altera a concessão de cidadania a estrangeiros, afetando cerca de 32 milhões de brasileiros com ascendência italiana, segundo estimativas da embaixada da Itália no Brasil.

A nova legislação determina que a cidadania seja reconhecida apenas até a segunda geração de descendentes (filhos e netos), ao contrário da regra anterior, que permitia o reconhecimento a qualquer geração.

Além disso, será necessário que o descendente não possua outra nacionalidade, o que exclui os ítalo-brasileiros da possibilidade de transmitir o direito à cidadania.

No Reino Unido, o governo publicou um documento com reformas significativas no sistema de migração e de concessão de cidadania, visando reduzir a entrada de migrantes e restaurar o controle das fronteiras.

Entre as medidas, está o aumento do tempo necessário para a obtenção de residência permanente: os imigrantes deverão residir no país por dez anos antes de solicitá-la — anteriormente, o prazo era de cinco anos.

Segundo o primeiro-ministro Keir Starmer, entre 2019 e 2023, quase 1 milhão de pessoas entraram ilegalmente no Reino Unido. Em movimento semelhante, no início de maio, Portugal anunciou que notificaria 18 mil imigrantes em situação irregular para deixarem o país.

Crise humanitária

Entre os países de origem dos solicitantes de refúgio, Venezuela e Cuba se destacam pelo agravamento das crises humanitária, econômica e política. Há uma década, a situação nos países vizinhos tem intensificado os fluxos migratórios.

Na Venezuela, o presidente Nicolás Maduro, no poder desde 2013, foi acusado por órgãos da ONU de perseguir opositores políticos e cometer crimes contra a humanidade.

Após as eleições presidenciais deste ano, a organização divulgou um relatório relatando um aumento “profundamente preocupante” nas violações dos direitos humanos, com “múltiplas e crescentes violações e crimes cometidos pelo governo venezuelano”.

As denúncias incluem tortura, desaparecimentos forçados e violência sexual. Entre as vítimas estão crianças, adolescentes e pessoas com deficiência.

Em Cuba, a população enfrenta escassez de alimentos, apagões elétricos e uma das piores crises econômicas da história recente, agravada pela desvalorização da moeda, queda na produção agrícola e aumento da desigualdade social.

noticias.r7

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sexta-feira, 30 de maio de 2025

MJSP promove oficina para fortalecer acolhimento a migrantes, refugiados e apátridas no Brasil

  


A 1ª Oficina sobre Migrações, Refúgio e Apatridia para a Rede Nacional de Cidades Acolhedoras (RNCA), promovida pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), por meio da Secretaria Nacional de Justiça, ocorreu nessa quarta-feira (28). O objetivo do evento é fortalecer a capacidade de gestores públicos locais para atuar no acolhimento de pessoas que chegam ao Brasil na condição de migrantes, refugiados ou apátridas. Aproximadamente 50 representantes dos 21 municípios brasileiros da rede participaram do encontro virtual.

A iniciativa reforça o compromisso do Governo Federal com os direitos humanos e com a promoção de uma abordagem humanitária e inclusiva para os fluxos migratórios no Brasil. “É fundamental fortalecer a rede. Sabemos que o atendimento a essas pessoas muitas vezes enfrenta desafios, seja pela complexidade dos processos, pela diversidade de realidades ou pela falta de informações acessíveis. Por isso, é importante integrar os esforços de diferentes órgãos”, explicou a diretora do Departamento de Migrações (Demig), Luana Medeiros.

A coordenadora-geral de Política Migratória, Clarissa Carmo, complementou, ao dizer que o trabalho em rede, integrado e participativo, contribuirá para o avanço da implementação da Política Nacional de Migrações, Refúgio e Apatridia, que será lançada por meio de decreto presidencial. “Desde o período de transição do atual governo, essa política esteve entre as prioridades da agenda pública”, disse.

Durante a oficina, a coordenadora-geral do Comitê Nacional para Refugiados (Conare), Amarilis Tavarers, apresentou o órgão colegiado. A coordenadora-geral de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e Contrabando de Migrantes, Marina Bernardes, explicou o IV Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e o Plano de Enfrentamento ao Contrabando de Migrantes. A coordenadora-geral de Imigração Laboral substituta, Silvia Tavares, falou sobre os tipos de autorizações de residência para trabalho adotadas no Brasil.

Cenário da migração

Os participantes da oficina tiveram acesso a dados atualizados sobre o contexto migratório e de refúgio no Brasil. Desde 2010, o Brasil contabilizou mais de 1,7 milhão de pessoas migrantes e 146 mil refugiados reconhecidos. Em 2024, foram registradas 194.331 novas entradas, com destaque para as solicitações de residência e refúgio de venezuelanos. Os principais motivos para o deslocamento incluem a busca por trabalho, educação, reunião familiar, acolhimento humanitário e missões religiosas.

Outro tema abordado foi o papel da Operação Acolhida, criada em 2018, que já interiorizou mais de 148 mil venezuelanos para diferentes municípios brasileiros, promovendo sua inclusão social e econômica. A operação mobiliza ministérios, Forças Armadas, governos locais, agências da Organização das Nações Unidas (ONU) e organizações da sociedade civil.

A política de migração

A Política Nacional de Migrações, Refúgio e Apatridia vai regulamentar o Artigo nº 120 da Lei de Migração (Lei nº 13.445/2017). “Estruturamos um processo participativo, com a formação de um grupo de trabalho interministerial e com diversos atores da sociedade civil, academia e instituições que atuam diretamente com a pauta migratória”, lembrou a coordenadora-geral da Política Migratória, Clarissa Carmo.

Ela será instituída por meio de decreto com a participação de vários ministérios que atuam com políticas públicas sociais, de saúde, educação, emprego e renda. A política é coordenada pelo MJSP e conta com a participação do Ministério do Trabalho e Emprego; do Ministério da Educação; do Ministério da Saúde; do Ministério das Relações Exteriores; do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania; e do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome.

A política trará macrodiretrizes para o I Plano Nacional de Migrações, Refúgio e Apatridia, construído com contribuições da 2ª Conferência Nacional de Migrações, Refúgio e Apatridia (Comigrar), que ocorreu em novembro de 2024.

https://www.gov.br/

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quinta-feira, 29 de maio de 2025

Italianos no Brasil podem participar de referendo que propõem alterar leis sobre trabalho e cidadania

 

Cidadãos italianos no exterior receberão cédulas pelos correios e devem devolvê-las antes de 9 de junho - Foto: CGIL

Nos dias 8 e 9 de junho de 2025, cidadãos italianos ao redor do mundo, incluindo os que residem no Brasil, podem participar de um referendo revogatório que pode impactar significativamente as legislações sobre trabalho e cidadania na Itália. A votação, que ocorre por correspondência para os eleitores no exterior, é vista como uma oportunidade para a diáspora italiana expressar sua posição sobre temas centrais da política italiana contemporânea. Para os votantes no Brasil, o documento deve ser encaminhado até o dia 5 de junho ao consulado para garantir validade do voto.

O que está em jogo?

O referendo de 2025 propõe a revogação de leis que, segundo os proponentes, restringem direitos trabalhistas e dificultam o acesso à cidadania italiana por residência. Entre os pontos mais debatidos estão as reformas que flexibilizaram contratos de trabalho e as normas que limitam o reconhecimento da cidadania italiana por residência.

Organizações sindicais e movimentos sociais têm destacado que a manutenção dessas leis pode aprofundar a precarização do trabalho e excluir milhões de residentes do direito à cidadania. Por outro lado, setores empresariais e políticos conservadores argumentam que as reformas são necessárias para a modernização econômica e para conter a expansão descontrolada da cidadania italiana.

Os cinco quesitos do referendo

O referendo de 2025 apresenta cinco quesitos distintos, quatro relacionados ao trabalho e um à cidadania. Cada um deles propõe a revogação de normas específicas:

Reintegração em caso de demissão injusta: Propõe a revogação de dispositivos do Jobs Act que limitam a reintegração de trabalhadores demitidos injustamente, especialmente em empresas com mais de 15 funcionários. A aprovação permitiria o retorno ao emprego em casos de demissão sem justa causa.

Proteção para trabalhadores de pequenas empresas: Busca eliminar o teto de indenizações por demissão injusta em empresas com até 15 empregados, equiparando os direitos desses trabalhadores aos de empresas maiores.

Redução da precariedade no trabalho: Visa reintroduzir a obrigatoriedade de justificativas para contratos temporários, limitando o uso indiscriminado de vínculos precários e promovendo maior estabilidade no emprego.

Segurança no trabalho: Propõe a revogação de normas que isentam empresas contratantes de responsabilidade em casos de acidentes com trabalhadores terceirizados, reforçando a responsabilidade solidária e a segurança no ambiente laboral.

Facilitação da cidadania italiana: Sugere a redução do tempo mínimo de residência legal na Itália de 10 para 5 anos para estrangeiros não comunitários solicitarem a cidadania, ampliando o acesso e promovendo maior integração.

A comunidade ítalo-brasileira e o referendo

O Brasil abriga a maior comunidade de descendentes de italianos fora da Itália, com estimativas variando entre 25 e 30 milhões de pessoas. Desses, cerca de 730 mil possuem cidadania italiana reconhecida.

No Rio Grande do Sul, estado que celebra em 2025 os 150 anos da imigração italiana, a presença dessa comunidade é particularmente significativa, com aproximadamente 120 mil pessoas registradas no consulado, sem contar os descendentes não inscritos. A chegada dos primeiros imigrantes italianos ao estado ocorreu em 20 de maio de 1875, na localidade de Nova Milano, atual distrito de Farroupilha.

As comemorações do sesquicentenário incluem uma série de eventos culturais, como espetáculos teatrais, exposições e festivais gastronômicos, que celebram a contribuição dos italianos para a formação da identidade gaúcha. Nesse contexto, o referendo ganha uma dimensão simbólica adicional, sendo visto por muitos como uma forma de reafirmar os laços históricos e culturais entre o Brasil e a Itália.

Como votar?

Cidadãos italianos residentes no exterior devem receber pelo correio o material de votação, que inclui as cédulas e instruções detalhadas. O voto deve ser enviado de volta ao consulado correspondente até o dia 5 de junho para ser considerado válido.

Caso o eleitor não receba o material de votação até o final de maio, é recomendado entrar em contato com o consulado italiano responsável por sua jurisdição para solicitar orientações sobre como proceder. Informações adicionais podem ser encontradas no site oficial do referendo.

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