Paul Krugman
As nações modernas não têm condições - práticas ou políticas
- para abrirem as suas fronteiras, permitindo que qualquer pessoa possa
imigrar.
A boa notícia é que a América não tem fronteiras abertas e
não há nenhuma fação significativa na sua política que indique que o deveria
fazer. De facto, imigrar legalmente para os Estados Unidos é bastante difícil.
A má notícia é que está a ser difícil fazer cumprir as
regras em matéria de imigração, principalmente porque os organismos
governamentais competentes não dispõem de recursos suficientes.
Atualmente, a razão pela qual não dispõem desses recursos
prende-se com o facto de muitos republicanos no Congresso, embora falem de uma
crise nas fronteiras, parecerem determinados a negar o financiamento
necessário.
A sua posição está enraizada num cinismo político
extraordinário, e nem sequer tentam escondê-lo: Donald Trump interveio
juntamente com os republicanos para impedir qualquer acordo sobre imigração,
por acreditar que o caos na fronteira ajudará as suas perspetivas eleitorais.
No entanto, embora a sabotagem flagrante explique o atual
impasse sobre a imigração, existe algo mais subjacente: Trump e as pessoas que
o rodeiam são profundamente hostis à imigração em geral.
Trata-se, em parte, de xenofobia, ou mesmo de autêntico
racismo. Se declararmos repetidamente, como fez Trump, que os imigrantes estão
a “envenenar o sangue do nosso país”, não nos importamos se entraram no país
legalmente, estamos a afirmar que o que importa é se são brancos.
Porém, não é tudo. As pessoas próximas de Trump têm uma
visão de soma zero, em que cada emprego obtido por alguém que nasceu fora dos
Estados Unidos é um emprego que é retirado a alguém que nasceu neste país.
Em 2020, Stephen Miller, um dos responsáveis pelas políticas
de imigração de Trump, disse aos apoiantes deste que um dos objetivos consistia
em “fechar a torneira da nova mão-de-obra imigrante”. Surpreendentemente, Trump
emitiu uma ordem executiva destinada a recusar vistos a estrangeiros altamente
qualificados, muitos dos quais a trabalhar no setor da tecnologia.
Aparentemente, Miller e o seu chefe acreditavam que esta
medida se traduziria em mais empregos para os americanos, quando, na realidade,
acabaria por minar a competitividade americana em matéria de tecnologia
avançada.
Assim, esta parece ser uma boa altura para salientar que as
opiniões negativas sobre a economia da imigração estão todas erradas. Em vez de
eliminarem postos de trabalho, os trabalhadores nascidos no estrangeiro
desempenharam um papel fundamental no recente sucesso da América em combinar um
crescimento rápido com um rápido declínio da inflação. Além disso, os
trabalhadores nascidos no estrangeiro também serão cruciais para enfrentar os
problemas a longo prazo do país.
Sobre esse sucesso recente: demorou algum tempo, mas muitos
observadores estão finalmente a reconhecer que os Estados Unidos se têm saído
extraordinariamente bem na recuperação dos efeitos da pandemia de covid-19. A inflação diminuiu em grande parte
do mundo, mas os Estados Unidos destacam-se pela sua capacidade de combinar a
desinflação com um crescimento económico vigoroso. Um dos fatores-chave para
esse desempenho tem sido o rápido crescimento da força de trabalho dos EUA, que
aumentou 2,9 milhões desde antes da pandemia, há quatro anos.
Quanto desse crescimento se deveu aos trabalhadores nascidos
no estrangeiro? A totalidade. A mão-de-obra nativa diminuiu ligeiramente nos
últimos quatro anos, reflexo do envelhecimento da população, ao passo que foram
integrados 3 milhões de trabalhadores nascidos no estrangeiro.
Terão esses trabalhadores estrangeiros tirado postos de
trabalho aos americanos; em particular, aos americanos nativos? Não. A América
no início de 2024 tem pleno emprego, com os consumidores que dizem que os
empregos são “abundantes” a superarem em quase 5-1 os que dizem que os empregos
são “difíceis de conseguir”. Em 2023, a taxa de desemprego entre os
trabalhadores nativos foi, em média, ligeiramente inferior a 3,7%, o nível mais
baixo desde que o Governo começou a recolher os dados.
Na verdade, diria que o afluxo de trabalhadores nascidos no
estrangeiro ajudou os nativos. Existe uma vasta investigação sobre o impacto
económico da imigração, que não deteta, de forma consistente, os efeitos
negativos frequentemente previstos sobre o emprego e os salários. Em vez disso,
os trabalhadores imigrantes acabam muitas vezes por complementar a mão-de-obra
nativa, trazendo diferentes competências que, de facto, ajudam a evitar
estrangulamentos na oferta e permitem uma criação de emprego mais rápida.
Silicon Valley, por exemplo, contrata muitos engenheiros nascidos no
estrangeiro porque contribuem com algo diferente; o mesmo se aplica aos
trabalhadores de muitas profissões menos apelativas.
É provável que os trabalhadores imigrantes tenham sido
especialmente importantes nos últimos anos, uma vez que a economia se tem
esforçado por resolver as perturbações causadas pela pandemia.
Os trabalhadores nascidos no estrangeiro são cruciais para o
futuro fiscal da América. Numa primeira análise, o Governo Federal é um sistema
que cobra impostos aos adultos em idade ativa e gasta grande parte das receitas
em programas que ajudam os idosos, como o Medicare e a Segurança Social. Se
cortarmos o fluxo de imigrantes, que são maioritariamente adultos em idade
ativa, o sistema torna-se muito menos sustentável.
Portanto, embora a confusão na fronteira precise de ser
resolvida - e poderia ser resolvida se os republicanos ajudassem a solucionar o
problema em vez de o explorarem para obter vantagens políticas - não permitam
que essa confusão ofusque a realidade mais vasta de que a imigração é uma das
grandes fontes de poder e prosperidade da América.
Este artigo foi publicado originalmente no New York Times
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