quarta-feira, 12 de julho de 2017

Belo Horizonte: Em defesa da paz na Síria

De longe, apenas pela televisão, temos assistido há anos a crianças sendo mortas, jovens, mulheres e inocentes sendo massacrados – imagens desoladoras de uma guerra sem fim. Quem fica aqui não deixa de se indignar com tudo que acontece na Síria, mas não sabe muito o que fazer. Para todos que têm esse mesmo sentimento, no dia 15 de agosto, na praça da Liberdade, haverá um grande ato pela paz no país árabe para chamar a atenção das autoridades.

“Belo Horizonte é um pedacinho, mas as vozes se levantam de algum lugar. Queremos que todos os brasileiros compareçam nesse dia para mostrar o seu apoio a nossa causa. Tive essa ideia porque estamos vendo a Síria sendo destroçada por uma guerra, e ninguém está fazendo nada”, afirmou Emir Cadar, cônsul da Síria em Minas Gerais.
A Sempre Editora – empresa que edita os jornais O TEMPO e Super Notícia e é proprietária da rádio Super Notícia FM – é parceira nesta campanha humanitária e está apoiando a manifestação no próximo dia 15 de agosto. Cadar esteve nos estúdios da rádio e concedeu entrevista para o jornal Super N.

“Queria que Belo Horizonte fosse o primeiro local a se levantar e mostrar sua indignação com essa guerra. A Síria tinha 22 milhões de habitantes, e, hoje, são 11 milhões. Quatrocentos mil já morreram, sendo 100 mil crianças, o resto deixou o país. Os números são absurdos”, destacou o cônsul do país árabe.

Segundo Cadar, cerca de 250 sírios vivem hoje na capital mineira, e os belo-horizontinos têm recebido os refugiados de braços abertos. “Eles chegam sem falar a língua, sem dinheiro, mas estão conseguindo vencer”, disse o cônsul. “Temos notícias até de casamentos de refugiados com moças de BH, e nos alegra a miscigenação de raças”, completou ele.

Os sírios são bons cozinheiros e bons de negócios. Muitos estão trabalhando no ramo de comidas árabes. “Eles têm conseguido abrir pequenas lanchonetes, e o brasileiro gosta muito”, ressaltou Cadar, que acredita que poucos querem voltar para a Síria, e a maioria deseja estabelecer-se no Brasil.

Futuro.Boa parte dos refugiados sírios vive o presente, o agora; talvez tenham-se habituado a isso quando viviam em meio a guerra, bombas e tantas mortes. “O futuro é complicado por causa da nossa situação no Brasil (refugiado). Depois de três anos (fora), você esquece o barulho de armas, o medo de andar na rua e continua a vida normal, vê que vale a pena viver”, desabafou Wassim Al Abdalla, 35. Ele sente muita saudade da família e dos amigos que ficaram na Síria. “Nos primeiros anos, era a cabeça em um lugar e o coração em outro”, lembrou. Ele não consegue responder se vai voltar um dia: “É igual você pensar se quando perder sua mãe vai chorar ou não”. Ele tem esperança que a guerra vai acabar um dia. “Defendo sempre a paz”.
Al Abdalla chegou ao Brasil em 4 de julho de 2014 e cita a data com importância, um marco. Começou a trabalhar 15 dias depois, aprendeu português sozinho e acaba de formar-se no ensino médio brasileiro. Ele era técnico em informática na Síria e quer fazer engenharia. No momento, trabalha numa editora de livros religiosos como estoquista. “A vida não para, sempre tem um futuro”. Hoje, é a alegria dos brasileiros que o cativa, apesar da difícil situação econômica atual, “mas vai melhorar”. A única coisa que nunca vai acabar, ressalta ele, é a saudade. 

TODOS JUNTOS

Causa.A ideia da manifestação na praça da Liberdade, no dia 15 de agosto, às 10h, é unir sírios e brasileiros que apoiam a causa apartidária por uma questão humanitária, explicou Emir Cadar.
FOTO: MARIELA GUIMARÃES
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Apelo. Na rádio Super Notícia FM, o cônsul da Síria em MG, Emir Cadar, convocou o público para o ato

NÚMEROS

250 sírios se refugiaram em BH, segundo o consulado
187 sírios pediram refúgio à PF em Minas Gerais até 2016
13,5 milhões de sírios precisam de ajuda humanitária
6 anos é o tempo que já dura o conflito no país árabe
400 mil é o número aproximado de mortes por causa da guerra
2,9 milhões de refugiados estão na Turquia; é o maior grupo


MUDANÇA

Jovens vêm primeiro e trazem familiares
Muitos jovens sírios que deixam o país para se estabelecer em outro lugar vêm primeiro sozinhos, para só depois trazer os familiares. Eva Bara, 27, veio para Belo Horizonte há três anos e está dando aulas de inglês e árabe. Os pais dela chegaram há quatro meses e estão trabalhando com comida. “Meus pais vieram porque eu e meu irmão já estávamos aqui, e a vida seria mais fácil. Moramos lá durante a guerra por três anos, é uma situação muito triste, mas alguns se acostumam”, contou.
Eva não pretende voltar para Síria, mas não sabe se ficará no Brasil por muito tempo. Durante a Copa do Mundo, ela conheceu um rapaz da Inglaterra, e eles estão namorando. “Nos encontramos no ponto de ônibus. Gosto de fazer amizades. Quero tentar morar em outros países também”, disse.

No ano passado, O TEMPO mostrou o caso de um restaurante árabe na Pampulha que fez uma “vaquinha” com os clientes para que um sírio que trabalhava lá trouxesse sua mulher e filhos para o Brasil. 

 


Brasil. O objetivo do cônsul Emir Cadar é que a manifestação se estenda para outras cidades brasileiras, como Curitiba, que tem uma colônia grande de árabes, e São Paulo, onde está o maior grupo de refugiados. “Daqui a pouco alguém lá nos Estados Unidos, na Rússia, no Oriente e na Europa vai ver que tem gente no Brasil preocupada com essa guerra”, afirmou Cadar.

Time. O cônsul também afirmou que “toda” a colônia árabe que mora em Belo Horizonte torce para o Atlético: “O Atlético abriu as portas, tem sírios que estão lá que entraram como serviços gerais e hoje já estão galgando postos importantes. Um deles está na contabilidade, o outro faz os contatos com a Europa, buscando jogadores”. Se todos torcem para o Galo não dá para cravar, mas que quase todos falam inglês muito bem, sim, além de serem profissionais qualificados, como diz Cadar. Ele lembrou ainda que o prefeito da capital mineira é neto de sírios, e o presidente Michel Temer é filho de libanês.

Exemplo. A equipe de esportes do portal Super FC entrevistou, em março, o sírio George Azar, que fez amigos, trouxe sua família e estabeleceu residência na capital com a oportunidade de trabalho que conseguiu no Atlético, onde começou como faxineiro e hoje faz parte da equipe que cuida do Centro Atleticano de Memória.

Alarmante. A Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) publicou, em março, um estudo sobre a situação dos sírios, que aponta que 13,5 milhões de pessoas necessitam de ajuda humanitária no país, e quase três milhões de sírios menores de 5 anos estão no meio do conflito.
O tempo
www.miguelimigrante.blogspot.com

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