A entrada em vigor de um
novo decreto migratório na Argentina, que agiliza a expulsão dos estrangeiros
que cometam crimes no país, gerou um mal-estar entre as associações de
imigrantes, que consideraram que essa é uma reforma que criminaliza a imigração
e incentiva a xenofobia.
Segundo afirmou à
Agência Efe Marlene Pérez, coordenadora da Rede de Migrantes e Refugiados na
Argentina (RDMA) - que reúne 35 organizações de migrantes no país -, a reforma
aplicada desde 31 de janeiro faz cair por terra a presunção de inocência dos
estrangeiros porque "aquele que age contra a lei, antes de ser julgado,
tem três dias para deixar o país".
Imigrante boliviana
estabelecida em Buenos Aires desde 1986, Pérez acredita que a mudança
legislativa presume que o detido é culpado porque "(o presidente) Mauricio
Macri decidiu assim" e não porque tenha sido julgado antes de ser
deportado.
No entanto, conforme
dados oficiais, o número de imigrantes representa mais de 21% dos presos em
prisões federais, e nos crimes vinculados ao narcotráfico esse número sobe para
33%.
Pérez reconheceu que,
apesar da reforma "não representar nenhum muro" como o proposto pelo
presidente americano, Donald Trump, para separar os Estados Unidos do México, é
um documento "totalmente inconstitucional", uma vez que não passou
pelo Congresso.
Com relação às
declarações nas quais membros do governo vinculavam peruanos, bolivianos e
paraguaios a crimes de narcotráfico, a ativista sustentou que a droga não entra
"pelos controles frequentes".
"O narcotráfico é
algo maior e o próprio governo sabe por onde transita. Não é um imigrante, não
são bolivianos ou peruanos comuns que fazem isso", argumentou.
Desde que chegou a
Buenos Aires, Marlene já trabalhou como empregada doméstica e vendedora
ambulante até que, com 30 anos, decidiu estudar psicologia social. Ela admitiu
que no começo foi difícil, mas que a Argentina a recebeu de "braços
abertos".
Yefry Mosquera, por sua
vez, é membro de uma família de oito irmãos. Aos 24 anos, o peruano chegou a
Buenos Aires para estudar Jornalismo, já que no Peru o curso superior é muito
caro.
Mosquera contou que
assim que chegou se instalou em Rodrigo Bueno, uma espécie de comunidade
carente perto de uma das áreas mais caras da cidade. Lá conheceu pessoas com
poucos recursos e que, na maioria das vezes, ganham a vida com trabalhos que
exigem pouca qualificação.
Apesar de não morar mais
lá, Mosquera se considera um "villero", o equivalente a
"favelado", e sua esperança é que as pessoas não estigmatizem os
indivíduos por seu lugar de nascimento, cidade ou bairro.
"Não é por ser
imigrante que vamos ser criminosos, não é por ser imigrante que vamos ser
traficantes. Somos pessoas que podemos cometer erros, mas as pessoas, não as
nacionalidades", insistiu o peruano, que também integra a RDMA.
O jovem lembrou que na
universidade as pessoas "não são dividas entre locais e estrangeiros"
e destacou que, para ele, a Argentina já é sua pátria.
Terra
www.miguelimigrante.blogspot.com
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