sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Venezuelanos dormem no chão e dividem abrigo improvisado em RR


Atualmente 157 imigrantes estão morando em um ginásio de Boa Vista. 

Abrigo, mantido pelo governo, funciona há mais de uma semana.



Fugindo do desemprego e da fome na Venezuela, o pescador Anibal Perez, de 29 anos, veio para o Brasil com a esposa e os dois filhos há 20 dias. Em Roraima, eles e outros 153 vivem no Centro de Referência ao Imigrante, um abrigo improvisado em um ginásio poliesportivo onde até bebês e crianças dormem em papelões pelo chão.
Em 26 do mês passado, uma decisão da 1ª Vara da Infância de Juventude obrigou o Governo e a Prefeitura de Boa Vista a fornecer moradia e alimentação ao imigrantes.O abrigo funciona no bairro Pintolândia, zona Oeste da capital, desde o dia 27 de dezembro. O espaço, que é mantido pelo Governo do Estado de Roraima, foi criado no dia 30 de novembro, mas inicialmente não abrigava os imigrantes e funcionava em outro ponto da cidade.
Os mais de cem refugiados abrigados no Centro de Referência vivem em uma quadra poliesportiva. Eles dividem quatro banheiros e duas tendas de banho que foram construídas com lona e madeira sobre o chão de areia. Os abrigados têm acesso a uma cozinha e uma despensa.
Duas tendas de banho improvisadas que foram construídas com lona e madeira sob o chão de areia (Foto: Inaê Brandão/G1 RR)Duas tendas de banho improvisadas que foram construídas com lona e madeira sobre o chão de areia (Foto: Inaê Brandão/G1 RR)
Conforme a Defesa Civil de Roraima, órgão responsável pelo Centro, mais de 90% dos venezuelanos abrigados no local são indígenas. No espaço há venezuelanos regularizados no Brasil e outros sem permanência legal.
Anibal, que é indígena do povo Warao e vivia na cidade de Tucupita, no estado Delta Amacuro, conta que veio para Roraima vender artesanato nos semáforos. Ele e a família entraram no país pelo 'caminho verde' e, em Boa Vista, dormiam na rua até irem para o abrigo no dia 27 do mês passado.
O pescador Anibal Perez, de 29 anos, fugiu da fome e do desemprego; atualmente ele, a esposa e os dois filhos moram no Centro de Referência ao Imigrante (Foto: Inaê Brandão/G1 RR)O pescador Anibal Perez, de 29 anos, a esposa e
os dois filhos moram no Centro de Referência ao
Imigrante (Foto: Inaê Brandão/G1 RR)
"Vim com minha esposa e meus filhos. Um de três anos e outro de um ano e meio. Na rua era muito perigoso. Não era coberto e não era seguro para as crianças. Aqui pelo menos temos um teto e alimento", disse o pescador.
Para organizar a convivência no espaço, os moradores precisam seguir regras e trabalhar de forma voluntária.
Leonarda Baes, de 48 anos, e os três filhos adultos chegaram no Brasil há 40 dias. Nesta quinta-feira (5), ela comandava a cozinha do local.
"Hoje estamos fazendo arroz, feijão e carne. Aqui nos revezamos na cozinha, limpeza e manutenção. Minha colaboração é na cozinha. É minha forma de agradecer o teto que recebemos", falou.
Ela e os filhos dormiram por 35 dias na rodoviária da capital, quando foram convidados para se mudar para o centro na última segunda (2).
"Estamos dormindo no chão, estamos sem trabalho, mas a situação está melhor aqui no Brasil do que na Venezuela. Lá não há comida. Só fazíamos uma refeição ao dia. Aqui, mesmo na rodoviária, sempre nos levavam comida", disse.
Leonarda Baes, de 48 anos, era a responsável pela alimentação dos abrigados nesta quinta-feira (5) (Foto: Inaê Brandão/G1 RR)Leonarda Baes, de 48 anos, era a responsável pela alimentação dos abrigados nesta quinta-feira (5) (Foto: Inaê Brandão/G1 RR)
O chefe da Divisão de Operações Emergenciais da Defesa Civil, tenente Emerson Lima, é um dos responsáveis pelo abrigo e explicou que durante o dia os venezuelanos saem do local para trabalhar pedindo dinheiro nos semáforos e retornam de noite.
Conflitos e regras
O pescador Orlando Botine, 37 anos, morava na cidade de Maturin, estado Monagas, e se mudou para Roraima há um mês. Ele também estava dormindo na rua e se mudou para o abrigo logo que o local foi aberto.
Orlando explicou que para manter a ordem no espaço, que é coletivo, foram escolhidos líderes que representam grupos de venezuelanos abrigados. "Mesmo entre nós existem culturas diferentes e conflitos".
Para manter a ordem no local, abrigados ajudam na cozinha, limpeza e manutenção do local (Foto: Inaê Brandão/G1 RR)Para manter a ordem no local, abrigados ajudam
na cozinha, limpeza e manutenção do local
(Foto: Inaê Brandão/G1 RR)
O chefe da Divisão de Operações Emergenciais da Defesa Civil explicou que os líderes são responsáveis por passar as regras aos demais abrigados.
"Existe uma diferença de cultura muito grande. Algumas pessoas queriam fumar em local fechado, beber, outros tomavam banho pelados na frente de todos ou queria defecar fora do banheiro. Nós não repreendemos ninguém, mas explicamos como deve ser feito", afirmou o tenente.
Além da cultura, Emerson explicou que a língua é outra barreira enfrentada já que a maioria dos moradores do local são indígenas que usam dialetos próprios para se comunicar e não dominam o espanhol.
450 refeições por dia
O tenente explicou que o número de pessoas que frequentam o abrigo é inconstante, tendo em vista que todos podem entrar e sair do local. Entretanto, atualmente 157 pessoas dormem no ginásio. A capacidade do local é de 500 pessoas.
Em média, são servidos 150 pratos em cada refeição. Além da alimentação, no local é oferecido serviços médicos, odontológicos, ações sociais e do Sistema Nacional de Emprego.
Desde que foi criado, o Centro de Referência ao Imigrante já realizou, segundo o governo, 13 mil atendimentos.
Além dos órgãos do governo, o Centro também conta com com auxílio da Fraternidade Federação Humanitária Internacional, uma instituição não governamental que presta serviços de auxílio humanitário.
Abrigo funciona em ginásio poliesportivo (Foto: Inaê Brandão/G1 RR)Abrigo funciona em ginásio poliesportivo (Foto: Inaê Brandão/G1 RR)
A fraternidade ofere aos imigrantes auxílio médico, odontológico, de terapeutas, atividades lúdicas para as crianças e são responsáveis por recolher doações para o espaço.
Doações
Segundo a Defesa Civil, atualmente o Centro depende de doações para se manter. Os venezuelanos entrevistados pelo G1 também relatarem que precisam de colchões e roupas.
"Nós conseguimos que a Receita Federal doasse 11 toneladas de alimentos apreendidos em Pacaraima. Temos arroz, óleo e açúcar. Entretanto, precisamos de gêneros perecíveis como carnes, vegetais e frutas", disse Emerson.
O Centro de Referência ao Imigrante fica no bairro Pintolândia, na zona Oeste de Boa Vista, em frente ao parque Germano Augusto Sampaio.
Venezuelanos em Roraima
Desde 2015, imigrantes venezuelanos têm vindo a Roraima em busca de melhores condições de vidaAlguns compram alimentos e retornam ao país que faz fronteira com a cidade de Pacaraima, no Norte do estado. Outros, no entanto, estão se mudando de vez para o estado.
Dados divulgados pela PF mostram que os pedidos de refúgio de venezuelanos cresceram mais de 7.000% nos últimos dois anos.
Além dos pedidos legais, só em 2016, centenas venezuelanos em situação irregular foram deportados do estado.
Em agosto de 2016, nove mulheres venezuelanas que eram mantidas sob cárcere privado e obrigadas a trocar sexo por comida foram libertadas em uma ação do Tribunal de Justiça de Roraima.
No mesmo mês, a governadora de Roraima, Suely Campos (PP), decretou situação de emergência na Saúde de Boa Vista e Pacaraima, em razão da grande imigração de venezuelanos para as duas cidades.
Com o decreto, o ministro da Saúde Ricardo Barros visitou hospitais em Boa Vista e Pacaraima no final de 2016 e anunciou o repasse de R$ 3,7 milhões em recursos para o estado cuidar dos imigrantes.
G1
www.miguelimigrante.blogspot.com
Dos 157 moradores do abrigo, 52 são crianças (Foto: Boa Vista; Roraima; Venezuelanos; abrigados; abrigo)Dos 157 moradores do abrigo, 52 são crianças (Foto: Inaê Brandão/G1)

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