sábado, 14 de janeiro de 2017

Missionárias Scalabrinianas falam sobre a condenação da cinegrafista que chutou refugiados




POR ROSINHA MARTINS
DE SÃO PAULO
A cinegrafista húngara, Pietra Lázló foi condenada nesta sexta 13, a três anos de prisão em liberdade condicional, comutados em serviços comunitários. Em setembro de 2015 Pietra foi filmada chutando refugiados enquanto atravessavam a fronteira com a Sérvia.
“O comportamento da jornalista não condiz com as regras da sociedade”, disse o juiz Illes Nanasi, durante a sentença. Nanasi rejeitou os argumentos dos advogados de que ela agiu em legítima defesa.
Reunidas em Jundiaí - São Paulo para momentos de formação, Religiosas Scalabrinianas que atuam na defesa dos direitos humanos dos refugiados e imigrantes em países como Suíça, Colômbia, Equador, Alemanha, Itália e Brasil, falaram sobre a condenação da jornalista.
“Uma coisa é condenar a pessoa, outra é a condenação do gesto”, afirmou a missionaria italiana, Etra Modica.
Para Modica, o gesto de violência precisa ser bloqueado em primeiro lugar na mente e depois no coração. A condenação de Lázló chama a atenção para que sejam controladas e educadas as reações humanas. “Nós como Scalabrinianas devemos ensinar os imigrantes a perdoar os males que recebem pelo caminho e que invistam em pensamentos positivos, e o perdão é um investimento. Quando investimos em sentimentos positivos, em ações positivas, atitudes caridosas, fatos como este se tornam uma ocasião de aprendizado”, acrescentou.

Irmã Ermelinda Pettenon é italiana, de Padova, atuou até 2016 junto a imigrantes na Suíça. Hoje trabalha com imigrantes na casa de acolhida em  Roma. Ela conta que quando tomou conhecimento da atitude de Pietra, chorou e sofreu. Levou o assunto para discussão entre religiosas, leigos e imigrantes na Suíça, os quais, também, se mostraram indignados com o fato. Eu chorei e sofri porque são pessoas que vem de situações de tanto sofrimento, fazem um caminho longuíssimo, de muitos quilômetros.

Sobre a condenação da cinegrafista, Irmã Ermelinda recorda o ano da misericórdia proposto pelo Papa Francisco que convida os cristãos ao perdão. “Se se dá o perdão, se recebe o perdão. Sem dúvida foi um momento de angústia para o mundo inteiro. Quanto a este fato deixemos que Deus o julgue mas não podemos permanecer indiferentes”, relatou.
Pettenon contou, ainda, que atos de não aceitação de imigrantes acontecem também em Roma, mas disse não hesitar em recordar aos romanos que um dia os italianos necessitaram de acolhida em alguns países. “Quando me deparo com algum italiano que não aceitam os imigrantes, lhes recordo que em países como Suíça não foram bem acolhidos com expressões fortes como ‘cães italianos neste local não entram’. Precisamos tanto, no passado, de acolhida e hoje não sabemos acolher?  Isso é algo que faz mal”.
“É um ato que ninguém pode aprovar por ser inumano. Hoje existem sociedades para proteção dos animais e a um ser humano, principalmente,  não se deve tratar assim”, disse a scalabriniana Irmã Eunívia da Silva que atua junto a imigrantes na Colômbia.
Segundo Eunívia, este fato chama a atenção pois foi divulgado pela imprensa em âmbito de mundo, mas ela questiona sobre tantos outros atos de violação dos direitos da pessoa imigrante que permanecem no escondimento. “Tantos violentados em seus direitos, migrantes, pessoas de credos e etinias diferentes que são lesados em seus direitos”.
Isto quer dizer, para Irmã Eunívia, que que existem atos muito mais graves que esse que ficam impunes. Se faz necessária uma campanha de consciência muito profunda para mudar mentalidades, a qual não se muda de um momento para o outro. “Três anos, é uma condenação bastante drástica. Seria merecido uma correção sim, mas é uma condenação bastante exigente para a pessoa que cumpre, pois o seu ‘nada consta’ ficará marcado para sempre”.
O ato praticado contra o refugiado é inconcebível no parecer da Irmã Maria Bianchini, residente em Casca - RS. “Estão saindo do país e deparam com a  violência por parte de um jornalista. Qualquer um precisa ser respeitado na sua dignidade como pessoa. A Condenação dela é merecida, pois serve para que outros tenham o mínimo de respeito, especialmente em situações de vulnerabilidade, como é o caso dos refugiados”.
Irmã Jucelaine Aparecida Soares mora em Guarapuava – PR e atua na educação. “Sinto uma dor uma tristeza pelo ato praticado, seja acidentalmente ou não. Sua condenação, a meu ver, ajuda a mostrar que o ser humano tem dignidade e precisam ser respeitados, amados. No caso do refugiado, estava saindo de uma situação forçada e tem direito de ser acolhido. O seu ato teve uma consequência pela qual ela pagará a ajudará refletir. É corrigindo estes pequenos atos de violência que poderemos evitar outros maiores, como aquele de tirar a vida de alguém”.

Missionárias Scalabrinianas

www.miguelimigrante.blogspot.com

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