sábado, 3 de setembro de 2016

Atletas refugiados contam os momentos mais emocionantes na Rio 2016

Falar com a mãe depois de 12 anos. Ver o mar pela primeira vez. Sentir a vibração da torcida. Conheça as histórias emocionantes da primeira Equipe Olímpica de Atletas Refugiados, que participou da Rio 2016. A participação deles teve o apoio da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR).
Paulo Amotun Lokoro e Rose Nathike Lokonyen posam para uma foto no Rio de Janeiro. Foi a primeira vez que eles viram o oceano Foto: ACNUR/Benjamin Loyseau
Paulo Amotun Lokoro e Rose Nathike Lokonyen posam para uma foto no Rio de Janeiro. Foi a primeira vez que eles viram o oceano Foto: ACNUR/Benjamin Loyseau
Quando acordou no quarto na Vila Olímpica do Rio de Janeiro, o corredor Yiech Pur Biel atendeu a ligação de um número desconhecido. A voz, familiar, não era ouvida há mais de doze anos. “Era minha mãe”, conta Biel, separado dos pais desde 2005, quando fugiu da guerra no Sudão do Sul e passou a viver como refugiado no Quênia.
“Eu não sabia se ela estava viva ou morta. Ela também não sabia se eu estava vivo, na verdade, ela achava que eu já tinha morrido. Foi algo incrível. Até agora, mal consigo acreditar”.
Uma pessoa que vive próximo à Nasir, cidade natal de Biel no Sudão do Sul, viu um post no Facebook dizendo que ele competiria nos Jogos Olímpicos Rio 2016. Essa pessoa conhecia a mãe dele, a camponesa Nyagony Tut, e a levou ao escritório de uma agência de ajuda humanitária. de onde ela fez a ligação.
Durante uma hora,  toda a incerteza que o acompanhou desde a adolescência desapareceu. “Ela não sabe bem o que são os Jogos Olímpicos, mas sabia que eu estava em um lugar muito distante, que eu voltaria em breve e que eu estava bem”, lembra Biel, com um enorme sorriso. “Tudo isso só me faz acreditar que tudo é possível quando trabalhamos duro e fazemos o bem”.
Especialista nos 800 metros, Biel é um dos cinco corredores refugiados sul-sudaneses que fizeram história na Rio 2016. Os 10 integrantes da Equipe Olímpica de Atletas Refugiados que participaram da Rio 2016 viveram experiências transformadoras e inesperadas.
De volta ao centro de treinamento ao norte da capital do Quênia, os corredores trocaram os apartamentos com vista para as praias por dormitórios térreos feitos com tijolos cinzentos. O café-da-manhã é mais uma vez o leite tirado diretamente das vacas ao invés de um completo buffet.
Todos se sentem extremamente orgulhosos por terem representado os 21,3 milhões de refugiados do mundo, que contemplam o número sem precedentes de 65,3 milhões de pessoas forçadas a deixar suas casas.
Biel detalha: “Quando me posicionei na linha de largada senti como se todos os refugiados do mundo estivessem olhando para mim. Eu queria mostrar para eles que não devemos sentir vergonha de dizer que somos refugiados, que podemos ser mais do que simplesmente pessoas que fogem de guerras. Só depende de nós trabalharmos para mudar este conceito”.
Anjelina Nadai Lohalith, que disputou os 1.500 metros, concorda. O período que este no Rio de Janeiro, cercada por pessoas dedicadas a alcançar objetivos, reforçou a certeza de como é importante ter ambições e foco em alcançá-las.
“Sendo um refugiado, você não pode simplesmente dizer que não pode fazer nada e que depende apenas da ajuda de outras pessoas”, pondera Lohalith. Ela saiu de sua terra natal quando tinha apenas seis anos de idade e cresceu longe dos pais no campo de refugiados de Kakuma,  região semidesértica ao norte do Quênia. “Pense em algo que possa fazer por você mesmo. Quando você acredita em você, isso te torna mais poderoso”, ensina.
Além dos desafios e superações, Lohalith também viveu descobertas. “Muitas coisas me surpreenderam: os prédios eram tão altos que, no início, eu tinha medo de olhar pela janela do meu quarto”, conta Lohalith. Ela também se impressionou com as vias da cidade: “Até fiz um vídeo mostrando esses túneis para mostrar para as pessoas ou  não acreditariam em mim”.
Rose Nathike Lokonyen, que conduziu a bandeira do Comitê Olímpico Internacional à frente da Equipe na cerimônia de abertura no Maracanã, ficou encantada ao ver o oceano pela primeira vez na vida, assim como Paulo Amotun Lokoro, que correu os 1.500 metros. James Nyang Chiengiiek, de 28 anos, o membro mais velho da equipe, ficou impressionado com o vibrante apoio da torcida durante as corridas.
Agora, todos os atletas planejam continuar os treinos, com o apoio da instituição Tegla Loroupe Peace Foundation e da Agência da ONU para Refugiados, o ACNUR. “Isso é só o começo para todos nós”, lembra Biel. “Alcançar grandes objetivos leva tempo. Haverá desafios. O importante é nunca perder a esperança”, ensina.
 Onu
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