segunda-feira, 11 de julho de 2016

Refugiados arriscam a vida para escapar de gangues na América Central

Um bote adaptado é usado para cruzar o rio Suchiate, que marca a fronteira entre a Guatemala e o México, em Chiapas. Esse é um dos principais locais de migração para os centro-americanos que fogem da violência. Foto: Markel Redondo/ACNUR
Um bote adaptado é usado para cruzar o rio Suchiate, que marca a fronteira entre a Guatemala e o México, em Chiapas. Esse é um dos principais locais de migração para os centro-americanos que fogem da violência. Foto: Markel Redondo/ACNUR
Carolina*, uma policial de El Salvador, trabalhava na unidade que protege vítimas de sequestros e testemunhas de assassinatos, com o objetivo de levar criminosos à Justiça. Porém, ela própria acabou se tornando alvo. Membros de uma poderosa gangue a seguiram e ameaçaram-na de morte. Obrigada a mudar de casa várias vezes, ela vivia com o constante medo de ser morta quando saía.
“Eu gostava do meu trabalho e de proteger outras pessoas. Mas também temia que cada vez que ia trabalhar, deixava meus filhos sem saber se voltaria para casa”, disse.
Por trabalhar na polícia, ela acompanhou de perto como as gangues assassinam, sequestram, ameaçam e aterrorizam famílias, e frequentemente chegam a recrutar crianças que muitas vezes estão em idade escolar.
Quando os membros das gangues começaram a assediar seu filho de 13 anos, Ernesto, Carolina sentiu que não tinham outra opção a não ser fugir. Sem documentos de viagem, conseguiu sacar 2 mil dólares para pagar contrabandistas que levaram a família até o México, onde ficaram em um centro de detenção de migrantes enquanto corria seu processo de solicitação de refúgio.
Agora, em um albergue familiar, Carolina está entre os milhares de homens, mulheres e crianças de El Salvador, Guatemala e Honduras que fogem da crescente violência causada pelas gangues, no que hoje se tornou a maior crise de refúgio na região desde a fuga de 1 milhão de pessoas durante as guerras civis da década de 1980.
Com atividades criminosas que incluem tráfico de drogas e sequestros, o alcance das gangues agora se estende desde os países do Triângulo Norte até o sul do México, podendo ir além.
Assim como Carolina, a hondurenha Rosário fugiu de seu país para buscar refúgio no México. Seus cinco filhos estavam aterrorizados depois que membros de uma gangue incendiaram sua casa.
“Viajamos em vários ônibus para chegar à fronteira e depois cruzamos o rio entre Guatemala e México à noite, nadando, e carregando meus filhos pequenos. Tinha medo que as crianças fossem arrastadas pela água ou que se afogassem”, lembrou.
Para a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), são necessárias ações mais efetivas no nível regional para proteger pessoas vulneráveis como Carolina, Rosário e suas famílias que fogem da perseguição e da crescente violência nos países do Triângulo Norte.
“À medida que as vias seguras para buscar refúgio diminuem nesta região, estas pessoas se tornam vítimas de traficantes e contrabandistas, sendo expostas a sofrer abusos em seu caminho, enquanto frequentemente suas necessidades não encontram uma resposta adequada”, disse Filippo Grandi, alto comissário da ONU para refugiados.
Esta semana, Grandi reuniu-se com parceiros regionais em uma mesa redonda de alto nível na Costa Rica para a construção de uma resposta consensual sobre a situação. “Esta é uma situação de proteção que requer uma maior coordenação regional para assegurar respostas rápidas e orientadas para soluções”, acrescentou.
A necessidade de uma resposta comum também foi discutida diante do grande número de deslocados motivados por perseguições. Enquanto Carolina e Rosário fugiram de El Salvador e Honduras, respectivamente, as mesmas gangues estão perseguindo pessoas no país vizinho, a Guatemala. Entre estas pessoas está Carla*, uma mulher trans de aproximadamente 40 anos.
Esforçando-se para pagar uma extorsão mensal, o “imposto da guerra” de cerca de 26 dólares, Carla buscou refúgio no México depois que as gangues dobraram a quantia por semana, um total que ela não podia pagar. “Aqui no México me sinto respeitada, segura e agradecida pelo apoio do ACNUR”, contou.
Por Kirsty McFadden
Onu
www.miguelimigrante.blogspot.com

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