segunda-feira, 4 de julho de 2016

Por crise e suposto racismo, centenas de haitianos deixam Cuiabá

Cerca de 400 haitianos que chegaram a Cuiabá na esteira das obras da Copa do Mundo deixaram a Capital em 2016. O principal motivo é a falta de emprego. Os imigrantes já não veem mais na cidade a oportunidade de um futuro melhor. Isso porque os anos estão se passando e as dificuldades, aumentando.

Os que ainda permanecem já estão preparando as malas e querendo deixar a cidade. Muitos pensam até em retornar para o Haiti.

A reportagem do MidiaNews foi até a Casa do Migrante nesta semana e tentou conversar com alguns dos haitianos. Porém todos preferiram não dar entrevista, com medo de represálias, ou de não conseguirem emprego por conta disso.

Um grupo de haitianos aceitou conversar, porém sem se identificar. De acordo com eles, o motivo da saída são muitos e vão muito além da escassez provocada pela crise que o Brasil está passando. Eles afirmam que também estão sendo vítimas de racismo e xenofobia (aversão a estrangeiros) por parte de empresários.

Um haitiano que não quis se identificar contou que mora há um ano e meio em Cuiabá e está há oito meses desempregado. Ele relata que muitas vezes vai a entrevistas de emprego para o qual sabe que existe vaga, porém relata que, quando as pessoas veem que se trata de uma pessoa estrangeira e negra, dizem que a vaga já foi preenchida.

Marcus Mesquita/MidiaNews
Haitianos sem trabalho
A maioria veio para o Brasil buscando oportunidade de emprego nas obras da Copa de 2014
“Nós já estamos desanimados. Sabemos que há vagas, porque sempre vamos ao Sine [Sistema Nacional do Emprego], mas quando chegamos no local da entrevista, eles dizem que não tem mais. Isso é porque nós somos estrangeiros e negros. Se fôssemos estrangeiros brancos, eu tenho certeza que nos dariam emprego”, afirmou.

A maioria veio para o Brasil buscando oportunidade de emprego nas obras da Copa de 2014, após o terremoto que devastou o Haiti, em 2010, ter deixado centenas de milhares de mortos e mais de 3 milhões de desabrigados.

Quando chegaram a Cuiabá, eles logo encontraram facilidade de encontrar vagas na construção civil. Com o fim das obras da Copa e a crise, o setor passou a demitir, o que afetou diretamente os haitianos.
  
Cansados de levar "nãos"

Com uma cartilha de aprendizagem da língua portuguesa debaixo do braço para tentar se comunicar melhor, muitos deles possuem especialidade em alguma área, outros têm diploma de curso superior, porém relatam que as pessoas oferecem qualquer emprego, só porque são negros e estrangeiros.

“Eles acham que só porque somos estrangeiros, temos que aceitar qualquer tipo de trabalho. Tem gente aqui que é pedreiro, marceneiro, mecânico, técnico em informática. Quando aceitamos os trabalhos que nos oferecem, nos deixam ficar somente dois meses na empresa e depois mandam embora para não criar vínculo empregatício”, contou um haitiano que também pensa em deixar Cuiabá.

Eles reclamam que todos têm obrigações e contas para pagar, assim como todo mundo que precisa de emprego, porém estão cansados de levar um “não”, cada vez que saem em busca de oportunidade.

“Estamos a maioria desempregados. Todos os dias saindo atrás de emprego e eles falam sempre que estão precisando. Mas depois da entrevista falam que vão ligar e nunca ligam. Nós não sabemos o porquê”, disse um deles.

Marcus Mesquita/MidiaNews
Haitianos sem trabalho
Muitos deles possuem diploma em alguma área específica

Assistência da Prefeitura

A Secretaria  Municipal de Assistência Social realizou nesta semana o cadastro de imigrantes que vieram para a Capital em busca de melhores condições de vida. O objetivo é de fazer um diagnóstico de como eles vivem e quais as suas principais necessidades.

De acordo com o secretário de Assistência Social e Desenvolvimento Humano, José Rodrigues Rocha Júnior, de posse desse diagnóstico, o município já iniciou ações emergenciais para atender a este público, no que diz respeito a empego e alimentação, além de reforçar o atendimento no Centro de Pastoral para Migrantes.

A instituição oferece moradia, refeições e atendimento médico, além de aulas de português e encaminhamentos para o mercado de trabalho. O tempo de permanência na casa é de dois meses, durante os quais o abrigado deve arrumar um emprego e, assim, ter condições de deixar a unidade.

Midia News 
www.miguelimigrante.blogspot.com

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