quarta-feira, 20 de julho de 2016

Milhares de crianças refugiadas sírias sem acesso à educação no Líbano

Um relatório da Human Rights Watch denuncia que não estão matriculadas no sistema educativo 500 mil crianças refugiadas no Líbano, incluindo mais de 250 mil crianças sírias.
Com cerca de 70% de famílias sírias a viverem abaixo da linha de pobreza em 2015, muitos não conseguem suportar os custos relacionados com transporte e material escolar

Mais de 250 mil crianças sírias em idade escolar, de um total de 500 mil registadas como refugiadas no Líbano, não estão matriculadas no sistema educativo do país, denuncia a organização não-governamental Human Rights Watch num relatório divulgado esta terça-feira.
No relatório de 87 páginas, intitulado “Crescer sem educação: barreiras à educação de crianças refugiadas sírias no Líbano”, a ONG denunciou que algumas escolas não estão a cumprir as normas relativas à inscrição de crianças refugiadas, concluindo que é necessário mais apoio às famílias sírias e ao sistema de educação pública libanês, já bastante sobrecarregado.
O documento expôs também que o governo libanês estabeleceu requisitos rigorosos em termos de residência, que restringem a liberdade de movimentos dos refugiados, agravando a pobreza e limitando a capacidade de os requerentes de asilo proporcionarem educação e futuro para a família.
Com cerca de 70% de famílias sírias a viverem abaixo da linha de pobreza em 2015, muitos não conseguem suportar os custos relacionados com transporte e material escolar.Rana, de 31 anos e que antes de se refugiar no Líbano residia em Damasco, disse à Human Rights Watch que deixou o trabalho que tinha numa pastelaria, por medo de ser detida depois da expiração do termo de residência, acabando por tirar o filho da escola.
“Os meus filhos deviam aprender a escrever os seus nomes. Acabou para nós, mas devia acabar para as nossas crianças também?”, questionou Rana.
Segundo o relatório, as crianças mais velhas, com idades compreendidas entre os 15 e os 18 anos, têm ainda menos possibilidade de acesso ao ensino gratuito no Líbano, sendo que menos de 3% se matricularam nas escolas secundárias no ano letivo de 2015-2016.
“Comecei a trabalhar na construção quando cheguei. O trabalho é muito duro. Comecei com 13 anos e já perdi aqui cinco anos da minha vida”, contou Amin de 18 anos.
De acordo com a Human Rights Watch, o acesso à educação é crucial para ajudar crianças refugiadas a lidar com traumas relacionados com a guerra e deslocamento do país de origem, assim como a desenvolver competências que lhes permita ter um papel ativo no Líbano ou na reconstrução da Síria.
“A educação das crianças está a retroceder. Eles não têm um futuro. Nós deixamos o nosso país e as nossas casas e eles agora nem têm uma educação ou um futuro”, disse Jawaher, refugiado sírio a viver no norte do Líbano.
O Líbano tem uma população de cerca de 4,5 milhões de cidadãos, sendo que uma em cada quatro pessoas detém o estatuto de refugiado.Desde o início do conflito na Síria em 2011, cerca de 1,1 milhões de sírios registaram-se no Líbano através do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR). Os números do governo libanês diferem, apresentando um total de 1,5 milhões de refugiados da Síria no país.
Observador
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