quinta-feira, 2 de junho de 2016

O exemplo de Paris

A prefeita de Paris, Anne Hidalgo, demonstrou uma louvável determinação ao anunciar, contra o critério do Governo francês, a construção de um campo de acolhida para os refugiados que chegam à capital e que agora acampam, em péssimas condições, numa esplanada. É uma resposta humanitária a uma crise que não diminui. Enquanto não se possa intervir sobre as causas do êxodo, ao menos se deve buscar uma maneira de acolher e mitigar as penúrias daqueles que já estão entre nós. Como disse Hidalgo, abandoná-los à própria sorte “não é digno de Paris e nem da França”. Tampouco de uma Europa que se considera líder em matéria de direitos humanos.

A prefeita criticou o Governo por não colocar os meios necessários à disposição. O presidente Hollande não apenas resiste a acolher os refugiados como se mostra relutante que os municípios o façam, em uma atitude defensiva que mostra até que ponto é afetado pelo medo do discurso xenófobo da extrema direita. Em 2015, a França recebeu quase 80.000 pedidos de asilo e concedeu 26.000. Pior ainda é a situação na Espanha, onde o Governo do PP mostrou muito pouca diligência até mesmo para acolher os refugiados que lhe correspondiam. Como Paris, muitas cidades espanholas têm projetos de acolhida que não podem aplicar porque o Governo se opõe, alegando que elas não têm autoridade para tal. A Anistia Internacional denunciou o risco de indigência em que estão aqueles que chegaram.


Enquanto isso, fechada a entrada pela Turquia e pela Grécia, o êxodo continua agora pela rota central do Mediterrâneo: desde janeiro chegaram, segundo a ONU, 200.000 refugiados. Voltamos, num ciclo lamentável, ao cenário do início da crise, com insuportáveis naufrágios massivos. Do começo do ano até agora, mais de 2.500 pessoas morreram afogadas. Ninguém pode dizer que isso não era previsível e, menos ainda, que era inevitável.

El Pais
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