segunda-feira, 9 de maio de 2016

O que vai ser decisivo no referendo britânico


A maioria dos ingleses sente que há demasiados imigrantes no seu país e que isso aumenta o desemprego e prejudica serviços sociais como a saúde e a educação. Não é justo, nem verdadeiro, mas é assim.
Após as eleições locais, o referendo sobre a União Europeia vai dominar a política britânica. A capacidade para definir a agenda da campanha será decisiva. O campo que defende a saída, o “Leave”, pretende concentrar-se antes de mais na questão da imigração. Acredita, e com razão, que se a maioria dos britânicos for votar para travar a imigração, o não à Europa ganhará. Não é a “Londres cosmopolita” que rejeita os imigrantes. É o resto do país. A maioria dos ingleses sente que há demasiados imigrantes no seu país e que isso aumenta o desemprego entre os locais e prejudica serviços sociais básicos como a saúde e a educação. Não é justo, nem verdadeiro, mas é a percepção dominante entre os ingleses.
Do outro lado, o campo que pretende manter o Reino Unido na União Europeia, o “Remain”, insiste que a economia é o tema central da relação entre Londres e Bruxelas. Beneficia do momento positivo da economia britânica, com crescimento consistente e desemprego baixo. O “Remain” recorre ao medo pelo desconhecido e à incerteza, que decorreria do abandono da UE, para convencer os britânicos a votarem pela Europa. Até ao momento, o campo do Sim tem sido mais eficaz, e a economia tem sido a questão central da campanha. Se a crise dos refugiados na Europa não se agravar, ou se não acontecer um acontecimento dramático (no pior dos cenários, um ataque terrorista em Londres), a economia deverá continuar a dominar a campanha, o que beneficiará o sim à Europa.
Além disso, o campo do Não enfrenta um problema que ainda não resolveu. Para responder às incertezas sobre um futuro fora da UE, evoca os casos da Suíça ou da Noruega, e defende a manutenção do acesso do Reino Unido ao mercado único. No entanto, o acesso pleno ao mercado europeu não resolve o problema da imigração. O Reino Unido seria obrigado a aceitar o princípio da liberdade de circulação das pessoas. Como dizem os ingleses, é impossível ter o bolo e comê-lo ao mesmo tempo.
A taxa de participação no referendo será o outro factor decisivo. Aqui, o campo do Não pode ter vantagem. De acordo com a maioria dos estudos de opinião, os reformados e os mais velhos são maioritariamente a favor da saída. Pelo contrário, os mais jovens querem ficar na Europa. Mas os estudos também dizem que a taxa de abstenção é bem maior entre os jovens. Uma das prioridades do campo do Sim é convencer os jovens a votar. O Não espera que eles não votem.
Há ainda um segundo problema para o “Remain”: a mobilização do eleitorado trabalhista. O líder do campo do Sim é o PM, o líder dos Conservadores, David Cameron. Se os britânicos votarem a favor da Europa, ele será o político mais beneficiado. Não vale a pena ter qualquer ilusão sobre isso. Legitimamente, muitos trabalhistas interrogam-se: por que razão irão contribuir para uma vitória política de Cameron? Como ouvi a um trabalhista fanático (e há muitos): “not with my vote.”
O resultado das eleições locais na Escócia irá aumentar a relutância dos trabalhistas para “votarem em Cameron.” O partido trabalhista está convencido que a sua queda acentuou-se com o facto de terem feito campanha ao lado dos conservadores para a Escócia ficar no Reino Unido. E agora, foram relegados para o lugar de terceiro partido, atrás dos Tories, impensável há alguns anos.
Não admira que Cameron e os seus assessores no Nº 10 estejam a fazer todos os esforços para convencer figuras importantes dos trabalhistas para participarem activamente na campanha a favor da Europa. O actual líder, Jeremy Corbyn, já começou a fazer campanha pelo Sim, mas muitos duvidam do seu empenho (no referendo de 1975, votou contra a Europa). Mas Cameron e os seus aliados querem convencer sobretudo Gordon Brown, os irmãos Miliband e outras figuras maiores, sobretudo líderes sindicais, capazes de mobilizar o eleitorado trabalhista.
O campo do Sim acredita que se a taxa de participação for de cerca de 60%, o voto a favor da Europa ganhará. O problema é que o líder do partido conservador precisa do eleitorado trabalhista para ganhar. O seu eleitorado natural é insuficiente.

 Observador

Nenhum comentário:

Postar um comentário