quinta-feira, 19 de maio de 2016

Memória da imigração haitiana em Manaus 2º Diálogos do Centro de Estúdios Migratórios- Missão Paz



“Uma boa parte deles diz que emigrou do Haiti para melhorar a sua condição de vida. A maioria diz que emigrou para buscar trabalho. E é o trabalho que dá respostas a outras questões como moradia, saúde, estudos, casamentos”, etc. Foi o que observou o Pe. Gelmino Costa logo na abertura do “2º Diálogos no CEM”, que teve como tema central “Memória da imigração haitiana em Manaus, no período 2010-2014”, e foi realizado em 17 de maio, na Missão Paz, São Paulo.
            Pe. Gelmino Costa falou também sobre aspectos marcantes da imigração haitiana em Manaus-AM, como a total falta de sensibilidade e de apoio do poder público para a acolhida emergencial e orientação aos imigrantes que chegavam ávidos para recomeçar suas vidas, mas sem saber por onde e como começar, já que não compreendiam a língua portuguesa e portavam apenas um protocolo para acesso a um documento. Se o poder público amazonense praticamente se omitiu ou preferiu não enxergar humanitária aquela realidade, por outro lado, foram marcantes e significativas as respostas de solidariedade, criatividade e arranjos da sociedade civil, mediados a partir da Paróquia São Geraldo, que possibilitaram a acolhida emergencial, coletas de alimentos, locação de imóveis para residência, cuidados com a saúde, apoio para documentação e inserção dos imigrantes no mercado de trabalho que, logo transpôs as fronteiras regionais alcançando as Regiões Sudeste, Centro Oeste e, principalmente, a Região Sul do Brasil.
            Manaus, entreposto para outros sonhos. De acordo com o Pe. Gelmino, as ações junto aos imigrantes não foram fáceis, pois muitos deles apenas passavam por Manaus e logo buscavam outros destinos como a Guiana Francesa e, de lá, realizar o sonho de chegar a França. Ainda outros haitianos eram contratados para trabalhar em Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul, São Paulo, etc. Ou seja, Manaus era uma cidade de trânsito para boa parte deles em sua trajetória migratória.
            Temas ligados à cultura e interculturalidade, trabalho, mediações com o poder público, religiosidade e vivência da fé foram abordados. O público participante (cerca de 50 pessoas) interagiu com perguntas e comentários que instigaram o Pe. Gelmino a ampliar e aprofundar questões como interculturalidade e mediações com o poder público em vista de políticas para os imigrantes. Dentre o público presente havia professores, pesquisadores, religiosos, estudantes, imigrantes bolivianos, argentinos, haitianos, norte-americanos, angolanos, brasileiros dos diversos estados federados.
            Um desafio político e social é superar o tratamento estatístico e economicista da migração. Os imigrantes não são apenas número. Eles têm culturas, vivências, saberes, alma. Adentrar o mais profundo das expressões culturais e buscar compreender a realidade dos migrantes para ajuda-los concretamente no reconhecimento e respeito aos seus valores como trabalho e dignidade humana. Este foi o teor das considerações de Pe. Gelmino Costa ao final do evento.
            O 3º “Diálogos no CEM” está agendado para o dia 24 de junho/2016 e contará com as exposições de Ir. Ines Faccioli, mscs e Roberval Freire que, há décadas, desenvolvem trabalhos com os migrantes nacionais e internacionais, no âmbito da Pastoral do Migrante, tendo em vista o seu protagonismo e organização em grupos, associações, comunidades ou expressão artística e cultural.

José Carlos Pereira
Centro de Estudos MigratóriosPe
Pe. Gelmino Costa durante o 2º Diálog


www.miguelimigrante.blogspot.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário