Estamos passando por um período que será retratado nos
livros de história em alguns anos. Período esse no qual guerras e conflitos
violentos em países como Síria, Iraque, Afeganistão, Nigéria e Haiti forçam
seus habitantes a procurem outro país para viver. Ou sobreviver.
Como era de se esperar, recentemente muitos deles
passaram a procurar abrigo na Europa, o que gerou situações extremamente
tristes, como embarcações que afundaram, deixando muitos mortos, incluindo
idosos e crianças, crises de imigração em diversas fronteiras, braços abertos
de países como a Alemanha, mas também braços cruzados por parte de outras
nações européias — a exemplo da Polônia, que devido ao seu passado, diante do
que aconteceu com a Alemanha nazista e os russos décadas antes, esperava-se que
fosse ser menos radical.
Adicione a essa receita do caos o que aconteceu em Paris,
todos os ataques terroristas, a motivação religiosa, econômica e política do
Daesh (prefiro não chamar de Estado Islâmico), fomentada pelo extremismo de
seus integrantes, e temos um cenário de medo e desinformação, que culmina em
intolerância e xenofobia.
Nos Estados Unidos, a confusão é tanta que algumas
pessoas chegaram a criar comitês regionais para tentar evitar que seus estados
recebam refugiados muçulmanos, sendo que uma atitude como essa se dá em esfera
federal. O presidenciável Donald Trump, o mesmo que quer criar uma muralha nas
fronteiras com o México para combater imigrantes ilegais, chegou a propor um
plano para registrar muçulmanos, obrigando-os a portar um documento ou insígnia
para evidenciar sua religião ou seu país de origem. Para quem não se lembra,
foi exatamente isso que os nazistas fizeram com judeus.
Pode parecer redundante o que eu vou dizer, e não é, mas
poucas coisas nesse mundo são mais assustadoras que o medo coletivo.
Teoria do caos, Efeito Borboleta e um mundo completamente
diferente
Eu não sei se todos estão familiarizados com estes
conceitos, mas antes de falar da parte técnica disso (e pelo bem da arte que
existe por trás de termos matemáticos), dê uma olhada nesse diagrama da
trajetória do sistema de Edward Lorenz (com valores r = 28, σ = 10, b = 8/3):
Lorenz800
Lindo, né? Você nota como as linhas vão para um lado das
asas da “borboleta”, fazem a curva e voltam para a outra asa, mas com uma mudança
em seu trajeto, da mais sutil à mais drástica? Pois é. Segundo a teoria
apresentada, o bater de asas de uma simples borboleta poderia influenciar o
curso natural das coisas. Poético.
Eu poderia aqui criar um sistema dinâmico, com a
definição matemática, mas antes de terminar de escrever a fórmula, vocês
estariam dormindo. Prefiro ficar com a parte divertida da coisa, e ninguém
melhor que o Átila do Nerdologia para mostrar o conceito de uma forma tão
didática:
Com isso em mente, comecei a me questionar sobre como
seria o mundo hoje em dia se os países fechassem suas fronteiras para pessoas
em necessidade, pautados no medo, preconceito religioso ou xenofobia. E se isso
fosse aceitável?
Dos mais renomados estudos científicos, aos mais simples
componentes eletrônicos, muita coisa mudaria. Justamente porque boa parte
destas coisas se tornaram realidade, direta ou indiretamente, por causa de
imigrantes e/ou refugiados.
Albert Einstein
Einstein1100
Que tal viver num mundo no qual descobertas
imprescindíveis do ramo da Física, ou a Teoria da Relatividade, padecessem
diante de um regime ditatorial?
Albert Einstein foi uma das maiores mentes científicas do
mundo. Ele ganhou prestígio e fama por suas descobertas, incluindo a Teoria da
Relatividade. Em 1921, Einstein ganhou o Prêmio Nobel de Física.
Na década de 1930, os nazistas chegaram ao poder, e
Einstein passou a sofrer antisemitismo e perseguição, obrigando-o a fugir para
os Estados Unidos. Lá ele assumiu um cargo de professor na Universidade de
Princeton e, além de ter ajudado a proteger e salvar judeus alemães, foi mentor
de muitos de seus estudantes, os auxiliando a seguirem carreira e
compartilharem seu conhecimento.
Frédéric Chopin
chopin1100
Polonês nascido em 1810, Chopin foi provavelmente o maior
compositor do século XIX. Apaixonado, trágico, melancólico e patriota, esse
gênio da música sonhava com uma Polônia livre. Ainda estudante ele planejou uma
insurreição contra os russos, e passou a divulgar a causa da Polônia no
exterior, através de sua música, com permissão de seu pai, um patriota polonês
inveterado.
Chopin deixou a Varsóvia e se mudou para Viena. Alguns
meses depois, quando os combates começaram, ele foi aconselhado a não voltar,
sendo acolhido pela nobreza polonesa que se refugiava em Paris, por volta de
1831.
Raphael Lemkin
Raphael-Lemkin1100
O advogado polonês Raphael Lemkin foi responsável por
cunhar o termo “genocida”, muito antes do mundo conhecer os horrores de
Auschwitz. Já em 1933 ele apareceu diante do conselho Jurídico da Liga das
Nações, em Madrid, com uma proposta pacificadora, na tentativa de proibir atos
de barbárie e vandalismo.
Ele ajudou a elaborar o código penal da
recém-independente Polônia, pouco depois da Primeira Guerra Mundial, e serviu
como promotor público em Varsóvia até 1934, quando ataques antissemitas o
obrigaram a abandonar seu trabalho governamental. Em 1939 ele teve que fugir,
se escondendo em florestas a caminho da Suécia.
Em 1941 ele conseguiu asilo nos Estados Unidos, se
tornando professor da Duke University. Até hoje Lemkin é conhecido como uma das
vozes mais fortes na luta contra crimes de guerra.
Satya Nadella
nadella1100
Nadella nasceu em Hyderabad, Andhra Pradesh (hoje
Telangana), Índia, no ano de 1967. Mudou-se para os Estados Unidos em 1988 para
estudar e não voltou mais.
Ele fez grandes contruibuições à Sun Microsystems, foi
contratado pela Microsoft em 1992, chefiou a divisão de serviços nas nuvens e,
em fevereiro de 2014, se tornou CEO da Microsoft, o terceiro da história da
empresa;.
Sergey Brin
Sergey-Brin1100
Imagine o mundo atual sem o Google. Pois é, complicado,
né? Sergey Brin nasceu em Moscou, na Rússia. Quando ele tinha 6 anos de idade,
seus pais se mudaram para os Estados Unidos, onde ele cresceu, se desenvolveu e
deu frutos. Não, calma, isso é uma árvore.
Seus pais, Mikhail e Yevgenia Brin, ambos formados pela
Universidade Estadual de Moscou, se tornaram, respectivamente, professor de
matemática na Universidade de Maryland e pesquisadora do Centro de Vôos
Espaciais Goddard, da NASA. Imagine as conversas na hora do jantar dessa
família!
Brin seguiu os passos de seu pai, estudando matemática e,
depois, se formando em Ciência da Computação. Quando estava estudando na
Universidade de Stanford para adquirir o título de PhD, ele deu início a uma
pequena startup, chamada Google, numa garagem alugada. O resto é história. Pode
procurar no… tá.
Vale citar que o atual presidente do Google é Sundar
Pichai, ou Pichai Sundararajan (ou: பிச்சை சுந்தரராஜன்),
nascido na Índia, e que também estudou em Stanford.
Steve Jobs
stevejobs1100
A crise da Síria trouxe à tona novamente o fato de que o
pai biológico de Steve Jobs, fundador da Apple, NeXT e Pixar, era um refugiado
político da Síria. Abdul Fattah Jandali fugiu do Oriente Médio por causa dos
protestos e revoltas armadas que aconteciam no Líbano entre 1952 e 1954.
Como hoje, muitos optavam em ir para a Europa, mas
Jandali conhecia o até então embaixador sírio das Nações Unidas, Najm Eddin
al-Rifai, e foi morar em New York.
Ele conseguiu uma bolsa de estudos na Wisconsin
University, onde obteve o título de PhD em Economia e Ciências Políticas. E
onde também conheceu Joanne Carol Schieble, uma garota católica de origem
alemã-suíça, com quem teve um relacionamento amoroso. Eles engravidaram, mas a
família de Joanne não aceitava o namoro de forma alguma, justamente pelo fato
de Jandali ser muçulmano. Os dois se separaram e a criança foi colocada para
adoção em San Francisco, sob a condição de que os pais adotivos fossem
católicos e tivessem formação superior. Assim o bebê foi parar nos braços do
casal Paul e Clara Jobs.
Num mundo de fronteiras fechadas, a história da
computação pessoal seria completamente diferente. E talvez não tivéssemos
smartphones. Certamente iPhones não existiriam, nem filmes da Pixar. Como viver
num mundo sem Toy Story, sem Wall-E, sem Vida de Inseto, sem Procurando Nemo,
sem Up: Altas Aventuras? Não tem condições.
Matheus Gonçalves
matheus1100
Matheus Gonçalves é um brasileiro que se mudou para os
Estados Unidos em…
Não, sacanagem!
Um mundo de igualdades e diferenças
Dizem que a maior demonstração de igualdade é a total
aceitação das diferenças. E eu acredito nisso. Sei que é difícil manter um
espírito otimista e humanitário vendo extremistas religiosos tirando vidas
inocentes, ou tendo bom senso e clareza de ideias a milhares de quilômetros de
distância de uma cultura desconhecida, de um sofrimento que não se sente.
Isso deturpa qualquer indício de empatia.
Mas ficou evidente que o mundo seria completamente
diferente caso a xenofobia crescente fosse a voz da maioria. E existem muitos
outros imigrantes ou refugiados nem tão famosos, mas que participaram
ativamente em ações que mudaram a história como a conhecemos. A lista é imensa.
E você, o que pensa disso tudo? Tem outros nomes para
adicionar à lista?
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