segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Caso de ofensa a haitianos mobiliza autoridades


O Nept (Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e Trabalho Escravo), órgão ligado à Secretaria de Justiça e Defesa da Cidadania, do Estado de São Paulo, informou que haverá uma força tarefa em Nova Odessa para fazer o levantamento dos autores do ato xenofóbico contra os imigrantes haitianos que vivem no município. Além disso, serão feitos projetos para uma melhor inclusão dos haitianos e outros imigrantes e migrantes de outros países ou regiões do país que saem de uma situação de alto grau de instabilidade econômica para tentar se estabelecer na região.
O executivo público do Nept, Ricardo Alves, esteve em Nova Odessa nesta semana em reunião com o prefeito Benjamim Bill Vieira de Souza, representante da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e o deputado Carlos Bezerra Junior, da Comissão de Direitos Humanos da Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo), após a repercussão da pichação no muro do Cemitério Municipal, na área central, com os dizeres ‘Back to Haiti’ (Volte para o Haiti), com a pintura de uma suástica (símbolo que remete ao nazismo). Antes disso, outra pichação na cidade com os dizeres ‘Fora Macacos’ também foi identificada.
A proposta, de acordo com Ricardo Alves, membro do Nept, além de identificar os autores de atos xenofóbicos, não só em Nova Odessa, como também em todas as cidades da região, com uma força tarefa da Polícia Militar e da Guarda Municipal, o objetivo é fazer uma ‘campanha’ para mostrar à população em geral a importância de recepcionar esses imigrantes e reconhecer o valor da mão de obra deles para a região.
“Vamos fazer uma ação no sentido de alertar a população sobre a importância de incluir esses haitianos no mercado de trabalho e a importância deles como mão de obra qualificada. Lembramos que o Estado de São Paulo é composto em boa parte por imigrantes e migrantes”, falou.
“Esta região em que Nova Odessa está inserida é claramente um polo de migração e imigração e devemos ter ações concretas, em parceria com a Administração, para identificar e auxiliar estas pessoas. Estou à disposição da Prefeitura para buscar recursos para desenvolvermos um projeto neste sentido”, afirmou o deputado estadual, que é autor da lei paulista contra o trabalho escravo. “Em um país que tem seu povo formado a partir de vários movimentos migratórios, não é possível sequer imaginar um comportamento preconceituoso”, completou Bezerra.
Bill ressaltou que a Administração repudia qualquer tipo de ofensa e preconceito e que está acompanhando a investigação que vem sendo realizada pela Polícia na tentativa de identificar os autores de pichações contra os haitianos registradas recentemente na cidade. “Não vamos permitir isso em nossa cidade e tenho acompanhado com muita atenção o desdobramento deste caso”, disse.
Ainda segundo o prefeito, após esse primeiro contato, novas reuniões serão agendadas para discussão de possíveis alternativas para o atendimento a essas pessoas.
Os haitianos Felipe Wismick e Milieu Miriel, que vivem em Nova Odessa, entrevistados pelo Jornal Página Popular, disseram que não percebem a discriminação devido às suas dificuldades de comunicação nas línguas português e inglês; uma vez que, a língua nativa dos haitianos é o francês. “Está tudo bem aqui em Nova Odessa. Somos bem tratados. Não percebemos nenhum tipo de discriminação”, disse Wismick.
Neste mês, seis haitianos foram atingidos com balas de chumbinho na Baixada do Glicério, no Centro de São Paulo,.
A Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania informou que nos últimos anos, em especial, o país experimenta um grande deslocamento de imigrantes, que saem de seus locais de origem em decorrência de diferentes situações, como grandes calamidades climáticas. É o caso do Haiti, onde, em 2010, um terremoto de graves consequências vitimou milhares de vidas, desorganizou a sociedade e a economia do país.
Além de serem processados, conforme a Lei 7.716, artigo 20, que prevê reclusão de um a três anos, os autores da pichação também podem ser processados administrativamente pela Lei Estadual 14.187/2010, com multas de 1 mil Ufesps (Unidades Fiscais do Estado de São Paulo), o que correspondente a cerca de R$ 21 mil, e de 3 mil Ufesps, o equivalente a cerca de R$ 63 mil.

 Isabela Santos
Pagina Popular

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