Até o mês passado tratado como zebra na disputa pela Prefeitura de
Palmas, um colombiano de 51 anos é o novo fenômeno eleitoral do Norte do país e
pode se tornar o primeiro estrangeiro a governar a capital do Tocantins.
Dono de um patrimônio de R$ 18 milhões (é o quarto candidato mais
rico do país), Carlos Amastha (PP) passou de 1% para 47% nas pesquisas de
intenções de voto em menos de quatro meses e deixou para trás candidatos apoiados
pelo governador do Estado e pelo prefeito da cidade.
Amastha disputa sua primeira eleição, sem o respaldo das elites
políticas do Estado. Sempre num sotaque carregado, usa seus discursos para
falar de mudanças e de empreendedorismo.
Em campanha, o dono do maior shopping do Estado procura minimizar
a imagem do milionário: dança no palanque, distribui beijos e não abre mão da
camisa xadrez.
"Sou um empresário de esquerda. Lia [Karl] Marx em casa no
café, almoço e no jantar", diz à Folha o candidato, que em outro momento
da conversa defende o "luxo de ter uma Ferrari, uma Maserati".
"Tenho culpa de ter acumulado um patrimônio?"
Filho de um médico comunista, Amastha nasceu em Barranquilla.
Ainda no norte da Colômbia, estudou em colégios católicos e abandonou o curso
de engenharia de produção no terceiro ano.
Aos 17, com seu primeiro carro, um Renault 4, já era sócio da mãe
fazendo transporte escolar. Pouco depois, começou a trabalhar para uma
multinacional argentina que vendia cursos de inglês.
"Falaram que iriam abrir escritório no Brasil, o que me
motivou muito. Imaginava um país de praia, carnaval e exuberância. Assim como a
costa caribenha que amo."
Mas acabou em Curitiba, longe da praia, aos 22. Cinco meses
depois, já estava casado com a brasileira Glô, com quem tem três filhos:
Fernando, 28, Carlos, 27, e Ana, 25.
Naturalizado brasileiro, Amastha chegou ao TO em 1999, como sócio
do ex-ministro da Saúde Luiz Carlos Borges da Silveira num projeto de educação
à distância. Em 2007, construiu um shopping em Palmas e começou a ficar mais
conhecido por lá.
Naquele mesmo ano, seria indiciado pela Polícia Federal na
operação Moeda Verde, por suspeita de falsidade ideológica. A ação apurou
fraudes imobiliárias em Florianópolis, onde ele também erguera um shopping.
"Denunciei as falcatruas de licenciamento ambiental. Pessoas
ligadas a um concorrente começaram a falar de mim, do colombiano traficante e
todos os clichês. Mas é inverdade", diz ele, que acabou de fora do
processo.
POLÍTICA
Amastha é diretor-presidente do grupo Skipton, que atua na área de
incorporação de shoppings e tecnologia de informação em toda a América Latina.
Após negar interesse por cargos públicos, em 2011, diz agora que se envolveu
"naturalmente" com a política durante debates do Plano Diretor da
cidade.
"Publiquei na internet uma carta contra a expansão do Plano
Diretor e, no dia seguinte, o tema na Câmara era o colombiano. Um empresário
que contribuía com a cidade estava sendo criticado por dar opinião. O sangue
subiu e vi que precisava fazer alguma coisa", afirmou.
O professor de política José Manoel Miranda, da UFT (Universidade
Federal do Tocantins), diz que o "fenômeno Amastha" pode estar ligado
à rejeição do eleitorado a grupos políticos tradicionais.
Para ele, há desgaste dos padrinhos políticos dos principais
rivais do colombiano --o governador Siqueira Campos (PSDB) apoia Marcelo Lelis
(PV), e o prefeito Raul Filho (PT) defende Luana Ribeiro (PR). Governador e
prefeito são suspeitos de ligação com o grupo do empresário Carlinhos
Cachoeira.
"Por não ter padrinho e nunca ter sido político, ele acaba
representando resposta nova ao eleitor", afirma.
Miranda vê ainda a condição de estrangeiro como trunfo. "Como
a cidade é nova, formada por migrantes de todo o Brasil em busca de
oportunidade, um empresário estrangeiro consegue falar a mesma língua dos
eleitores."
Com o ex-senador Adir Gentil (DEM) como braço direito e
marqueteiros que já trabalharam com Siqueira, Amastha defende o candidato que
canta, beija e dança.
"Este sou eu. Comecei a vida vendendo curso de inglês de
porta a porta. Nasci no Caribe, sou baiano, musical. Os marqueteiros me
aconselham a fazer isso ou aquilo, eu digo não. Se tiver que mudar minha
maneira de ser, não quero. Take me or leave it [leve-me ou deixe, em
inglês]."
Folha de São Paulo
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